Ex-chefe da FAO diz que programa fome zero teria que incluir, hoje, combate à obesidade BR

Diretor-geral da agência da ONU até 31 de julho, José Graziano da Silva, acaba de lançar livro sobre seus dois mandatos à frente da FAO; para ele, maior dificuldade no combate à fome é estabelecer liderança na sociedade.
Uma obra retratando a trajetória do brasileiro José Graziano da Silva como diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, está disponível ao público a partir desta semana.
O livro “De Fome Zero a Zero Hunger – Uma Perspectiva Global” revela o percurso do autor desde o início de sua carreira na agência, em 2012, até quando cessou funções em junho deste ano. O economista também revisita sua passagem no combate à fome através do programa Fome Zero, gerido por ele no Brasil.
“O livro procura também destacar que hoje não basta só combater a fome. Tem que tratar também o tema da má nutrição, principalmente o tema da obesidade. Se hoje for a fazer algum programa “Fome Zero” teria de ser um programa “Fome Zero e Gordo Zero”. Acabar com a obesidade é o grande desafio que nós temos de momento, sem falar da questão de promover uma agricultura sustentável porque os temas da fome, da obesidade e da mudança climática estão profundamente interligados. Uma interligação muito explícita, fácil de ver, é o desperdício dos alimentos, a perda dos alimentos.”
A ONU defende que um terço da produção alimentar global é desperdiçada. Para Graziano da Silva, diminuir esse número ajudaria a reduzir a pressão sobre recursos naturais como terra e água.
Graziano disse acreditar ainda que criar um pacto político na sociedade seria a chave para erradicar a fome e a má nutrição, e não propriamente a questão de fundos.
“Então, eu vejo, hoje, muito mais dificuldade em estabelecer essa liderança. Em estabelecer esse pacto político de uma sociedade. é a sociedade que decide erradicar a fome e a má nutrição. E é muito mais difícil fazer isso do que, de fato, implementar o programa. Muita gente fica pensando que não tem dinheiro, não é um problema de dinheiro. O dinheiro aparece e custa muito menos do que a gente imagina.”
O atual diretor-geral da FAO, Qu Dongyu assina o prefácio da obra lançada esta semana no Brasil em português.