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Seca no sul de Angola afeta 2,3 milhões de pessoas e tira crianças da escola BR

Em Angola, a falta de chuva durante os primeiros três meses do ano arrasou culturas e animais.
© Unicef Angola/2019/Carlos César
Em Angola, a falta de chuva durante os primeiros três meses do ano arrasou culturas e animais.

Seca no sul de Angola afeta 2,3 milhões de pessoas e tira crianças da escola

Clima e Meio Ambiente

Mais de 341 mil crianças devem receber ajuda alimentar; alguns menores de idade caminham 90 minutos em cada direção para buscar água; numa das províncias mais atingidas, Cunene, a crise afetou a educação de mais de 70% dos alunos.

No sul de Angola, cerca de 2,3 milhões de pessoas estão sendo afetadas pela seca nas províncias de Namibe, Huíla, Bié e Cunene. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, quase 500 mil são crianças com menos de cinco anos.

A falta de chuva durante os primeiros três meses do ano arrasou culturas e animais. Em Cunene, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar mais do que triplicou nesse período, passando de 250 mil em janeiro para mais de 850 mil em março.

Seca em Angola afeta mais de 2 milhões de pessoas e tira crianças da escola

Educação

Segundo o Unicef, “a falta de água também teve um efeito arrasador na educação das crianças.”

Durante a estação de seca, os homens geralmente levam seus animais para outros locais. Na maioria dos casos, crianças, mulheres e idosos ficam responsáveis por conseguir água para a família e cuidar da casa e animais menores, como cabras e galinhas.

O Unicef afirma que “jornadas cada vez mais árduas em busca de água deixam pouco tempo para a escola.”

A seca afetou mais de dois terços das 887 escolas primárias de Cunene deixando 70% dos alunos fora das salas de aula.

Esforço

O diretor da Escola Primária Ondobodhola, Rogério Kakoi, disse que a seca está afetando a educação mesmo quando as crianças chegam às aulas.

Kakoi contou que “os alunos não têm energia e não estão aprendendo muito." Alguns precisam acordar à 1h da madrugada para buscar água e não voltam para casa antes das 5 da manhã.

Cerca de 20% dos alunos da escola desistiram do colégio.  As aulas de educação física foram canceladas porque não há água potável para todos.

Naime Cekupe, de 14 anos, é uma dessas crianças. E está sendo forçada a abandonar o sonho de se tornar professora para cuidar dos animais da família e levar as cabras a um oásis a 90 minutos de casa.  

Para reduzir o impacto da seca, a província de Cunene irá instalar 30 tanques de água, com capacidade de 5 mil litros, nos locais mais afetados e com menor acesso.

A família de Tchirinho Vataleni, de 18 anos, compartilha um poço de mais de 15 metros de profundidade com outras cinco famílias em Ombadja. Todos os dias, ele desce no poço e passa quatro horas usando um balde para remover terra e encontrar água. Há dias em que ele apenas consegue um baldo de 20 litros para cada uma das famílias.

A província angolana do Cunene recebe três contentores de bens para apoiar programas em prol das populações vítimas da seca.
© Unicef Angola/Carlos Louzada
A província angolana do Cunene recebe três contentores de bens para apoiar programas em prol das populações vítimas da seca.

Apoio da ONU

O Unicef está apoiando o governo de Angola criando “escolas de refúgio”, onde as comunidades mais vulneráveis podem ter acesso a serviços de saúde, nutrição, água, saneamento e proteção.

A agência também apoia através do Fundo Central de Resposta de Emergência da ONU, Cerf na sigla em inglês. Mais de 341 mil crianças devem receber ajuda alimentar. Até esse momento, cerca de 58 mil foram atendidos e 4,3 mil estão recebendo tratamento devido a desnutrição grave.