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Mortes maternas podem ser evitadas com investimento de US$ 7,8 bilhões até 2030

Mãe e filho em hospital na Mongólia após o parto
Unicef/Jan Zammit
Mãe e filho em hospital na Mongólia após o parto

Mortes maternas podem ser evitadas com investimento de US$ 7,8 bilhões até 2030

Saúde

Gastos anuais precisariam aumentar seis vezes para alcançar objetivo; novos dados do Fundo de População das Nações Unidas mostram benefícios de erradicar Mutilação Genital Feminina, casamento infantil e investir na educação de meninas.

Quanto custaria alcançar um mundo onde nenhuma mulher morra de causas relacionadas à gravidez, tenha acesso a planejamento familiar e esteja livre de práticas prejudiciais, como mutilação genital feminina, MGF, ou casamento infantil, tudo em cerca de 10 anos?

Segundo novos dados do Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, é necessário aumentar seis vezes os gastos anuais para acabar com as mortes maternas evitáveis ​​nos 76 países com número mais alto de casos. Isso equivale passar dos US$1,4 bilhão utilizados em 2018 para US$7,8 bilhões.

Investimento

Mãe e recem-nascido no Centro de Saúde de Karenga, no Uganda
Mãe e recem-nascido no Centro de Saúde de Karenga, no Uganda, Unicef/Zahara Abdul

As informações foram compiladas por pesquisadores do Unfpa e da Universidade de Johns Hopkins, dos Estados Unidos, em colaboração com a Universidade de Victoria e Avenir Health, da Austrália.

O Unfpa destaca que o planeamento familiar moderno não é apenas um direito humano. Ele salva a vida das mulheres reduzindo a incidência de gravidezes indesejadas.

O planejamento familiar também é essencial para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, e é um fator-chave na redução da pobreza. Ainda permanece fora do alcance de milhões em todo o mundo.

Para garantir acesso universal ao planejamento familiar em 78 países com altos níveis de necessidades não atendidas, seria necessário duplicar o número de pessoas com acesso a métodos de anticoncepção moderna, passando de 300 milhões em 2018 para 560 milhões. Essa mudança exigiria o dobro dos gastos atuais, cerca de US$ 4,5 bilhões.

Esses fundos seriam investidos no fornecimento constante e confiável de contraceptivos de qualidade e no fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde. Também seria usado em campanhas de informação e na recolha de dados para apoiar esse trabalho.

Práticas nefastas

A erradicação da MGF em 30 países com alta incidência da prática até 2030 custaria US$ 2,9 bilhões na próxima década. Esse valor permitiria proteger 26 milhões de mulheres, um custo de US$ 111 por cada vítima.

Este tipo de mutilação é muitas vezes um precursor do casamento infantil, outra prática prejudicial que pode ser reduzida pela metade até 2030 em 31 países com alta prevalência. O custo seria de US$ 30 bilhões.

Segundo o Unfpa, acabar com o casamento infantil faz sentido econômico. As novas estimativas mostram que cada dólar investido para reduzir o casamento infantil poderia render mais de US$ 7 em benefícios diretos de mais educação.

Dados preliminares mostram que uma mulher que completou seis anos de educação primária ganha, em média, pelo menos quatro vezes mais do que uma mulher que desistiu depois de apenas um ano.

O professor da Universidade Victoria Bruce Rasmussen, que participou do estudo, disse que “o retorno sobre o investimento é fenomenal".

Os números finais serão divulgados em novembro na Cimeira de Nairóbi.