Perspectiva Global Reportagens Humanas

Cidade colombiana cria corredores verdes para combater calor BR

Medellín é a segunda maior cidade da Colômbia.
Foto: ONU-Habitat/A Padró
Medellín é a segunda maior cidade da Colômbia.

Cidade colombiana cria corredores verdes para combater calor

Clima e Meio Ambiente

Segundo maior centro urbano da Colômbia, Medellín, tem adotado estratégias inspiradas na natureza para regular altas temperaturas do verão; município transformou 18 ruas e 12 hidrovias em paraísos verdes.

É verão no Hemisfério Norte. Com as temperaturas subindo em toda a Europa, Índia, Egito e muitos outros lugares, a primeira reação das pessoas tem sido ligar o ar condicionado na capacidade máxima.

Embora isso traga certo alívio no curto prazo, o uso do ar condicionado é uma solução ineficaz num planeta cada vez mais quente. O aumento na utilização desses aparelhos e de outros sistemas de refrigeração traz um enorme gasto de energia, o que, por sua vez, está associado às mudanças climáticas e à elevação da temperatura terrestre.

Medellín

O Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, mostrou o caso de Medellín, na Colômbia, para destacar que a situação não precisa ser assim. A segunda maior cidade do país tem adotado estratégias inspiradas na natureza para regular as altas temperaturas do verão.

As chamadas “soluções naturais” são, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, “ações que protegem, gerenciam de forma sustentável e restauraram ecossistemas naturais ou modificados, abordando desafios sociais de forma eficaz e adaptável, proporcionando simultaneamente bem-estar humano e benefícios para a biodiversidade”.

Calor

Medellín, assim como outras cidades, enfrenta o aumento das temperaturas e o impacto das ilhas de calor urbanas. Como aponta o Pnuma, concreto e asfalto absorvem a energia do sol, irradiando calor e mantendo a cidade muito quente, mesmo depois que o sol se põe.

Para lidar com o aquecimento, as autoridades da cidade colombiana transformaram 18 ruas e 12 hidrovias em paraísos verdes.

Problema: El aumento de temperatura 🌡📈 afecta a Medellín, como a muchas otras ciudades.

Solución: 30 corredores verdes se plantaron en calles y ríos 🌳🌷.

Resultado: la temperatura promedio se redujo hasta 2°C 🌡📉.

Conoce más: https://t.co/Ya6F5d13tU #AcciónClimática pic.twitter.com/N1Gmihz3du

— ONU Medio Ambiente (@ONUMedioAmb) July 17, 2019

O projeto Green Corridors, Corredores Verdes, em tradução livre para o português, promoveu a arborização dessas rotas, o que permitiu reduzir o acúmulo de calor na infraestrutura urbana.

Prêmio

A iniciativa venceu este ano o Prêmio Ashden de Refrigeração Baseada na Natureza, que é apoiado pelo Programa Kigali de Eficiência de Refrigeração, em parceria com a iniciativa Energia Sustentável para Todos.

Segundo o prefeito Federico Gutiérrez, quando a decisão de plantar 30 corredores foi tomada, a escolha foi de se concentrar nas áreas que já não tinham mais espaços verdes. Gutiérrez diz que com essa intervenção, foi possível reduzir a temperatura em mais de 2°C e os cidadãos já percebem essa diferença.”

Mais de três ambientalistas foram assassinados a cada semana no mundo em 2018.
Foto: FAO/Rudolf Hahn
Mais de três ambientalistas foram assassinados a cada semana no mundo em 2018.

Projeto Urbano Inteligente

Para o diretor do Escritório da ONU Meio Ambiente na Colômbia, Juan Bello, “o projeto Green Corridors é um excelente exemplo de como a sociedade civil, urbanistas e governo podem confiar na natureza para desenvolver um projeto urbano inteligente.” Ele acrescenta que agora “o monitoramento será fundamental para demonstrar ainda mais os múltiplos benefícios dessa abordagem ao longo do tempo.”

O Pnuma destaca que os parques urbanos podem reduzir a temperatura ambiente durante o dia em uma média de aproximadamente 1°C. Na Itália, a cidade de Milão, que sofreu cortes de energia devido à demanda por ar condicionado durante a onda de calor do verão, planeja plantar 3 milhões de árvores até 2050.

O objetivo é combater as ilhas de calor e aumentar a qualidade do ar.

Telhados Verdes

A agência da ONU cita ainda uma outra solução, a dos telhados verdes. Indícios indicam que em cidades como Atenas, eles podem diminuir em até 66% a demanda por resfriamento artificial nos edifícios.

Para a chefe da Unidade de Cidades da ONU Meio Ambiente, Martina Otto, “Medellín e muitas outras cidades estão mostrando como podemos mitigar e nos adaptar à mudança climática graças a soluções renováveis.” Ela acredita que “se o mundo estiver empenhado em cumprir as metas do Acordo de Paris, as cidades terão que buscar arduamente a implementação de tais soluções.”

Gases do Efeito Estufa

A estimativa é de que as emissões de gases do efeito estufa geradas pelo setor de refrigeração aumentem 90% até 2050, na comparação com dados referentes a 2017. Daqui a cerca de 30 anos, a refrigeração dos ambientes vai consumir o mesmo volume de eletricidade já consumido atualmente por todos os setores e atividades humanas na China e na Índia.

O direto executivo do Programa Kigali de Eficiência de Refrigeração, Dan Hamza-Goodacre, alerta que “à medida que as temperaturas globais aumentam, as dificuldades para manter os ambientes frescos estão se tornando um problema de saúde urgente, com as cidades particularmente em risco.”

Hamza-Goodacre diz que “um planejamento urbano inteligente pode desempenhar um papel crucial no fornecimento de soluções de refrigeração, como telhados verdes e corredores verdes ou padrões mais altos de projetos de edifícios, que melhoram a eficiência e o resfriamento passivo.”

Conheça um exemplo de construção sustentável neste vídeo produzido pela ONU News. 

Exposição apresenta casinha sustentável arquitetada pela ONU Ambiente e parceiros

Soluções

As soluções baseadas na natureza estão entre as abordagens promovidas pelo Programa Kigali de Eficiência de Refrigeração, que reúne governos, empresas, sociedade civil e organizações internacionais, como o Pnuma.

A coalizão quer que as pessoas evitem o chamado “resfriamento ativo”, quando é necessário recorrer a técnicas e aparelhos pouco sustentáveis para diminuir o calor. Para isso, a rede de instituições aposta na construção civil inteligente e no planejamento urbano.

Um dos objetivos do programa é impulsionar serviços de refrigeração à base de energia renovável.

A associação de organizações também pressiona os atores relevantes para aumentar a eficiência do resfriamento convencional, com base na Emenda de Kigali. O acordo internacional visa combater o impacto que a indústria de refrigeração tem no aquecimento global.