Perspectiva Global Reportagens Humanas

Novo relatório da ONU alerta que mudança climática ameaça progresso em desenvolvimento sustentável BR

A Covid-19 também causou um colapso nos fluxos de investimento para setores relevantes para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ONU/Cia Pak
A Covid-19 também causou um colapso nos fluxos de investimento para setores relevantes para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Novo relatório da ONU alerta que mudança climática ameaça progresso em desenvolvimento sustentável

ODS

Quatro anos após adoção de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estudo aponta progressos em algumas áreas, mas indica que desafios monumentais permanecem; falta de progresso é particularmente aparente entre objetivos relacionados ao meio ambiente.

Os impactos da mudança climática e a crescente desigualdade entre países e dentro dos países estão prejudicando o progresso da agenda 2030. O último relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU faz um alerta sobre a ameaça de uma reversão de muitos dos ganhos obtidos nas últimas décadas que melhoraram a vida das pessoas.

Lançado nesta terça-feira, dia de abertura do Fórum Político de Alto Nível das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o relatório traz os últimos dados disponíveis. O estudo continua a ser o pilar utilizado para medir o progresso e identificar lacunas na implementação de todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.

Segundo o relatório, a falta de progresso é particularmente aparente entre os objetivos relacionados ao meio ambiente, como a ação climática e a biodiversidade.
Segundo o relatório, a falta de progresso é particularmente aparente entre os objetivos relacionados ao meio ambiente, como a ação climática e a biodiversidade. , by Foto ONU/ Eskinder Debebe

ODDs

Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o projeto mundial para um planeta mais justo e saudável, o relatório registra avanços em algumas áreas. Entre elas, está a redução da pobreza extrema, a imunização generalizada, a redução das taxas de mortalidade infantil e o aumento do acesso à eletricidade.

No entanto, o relatório alerta que a resposta global não tem sido suficientemente ambiciosa, sendo que as pessoas e os países mais vulneráveis ​​são os que sofrem mais.

Alerta

Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “é evidente que é necessária uma resposta muito mais profunda, mais rápida e mais ambiciosa para desencadear a transformação social e econômica necessária para alcançar os nossos objetivos para 2030.”

Segundo o relatório, a falta de progresso é particularmente aparente entre os objetivos relacionados ao meio ambiente, como a ação climática e a biodiversidade. Outros importantes estudos lançados recentemente pela ONU também alertaram para uma ameaça sem precedentes à biodiversidade e a necessidade urgente de limitar a elevação da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

O estudo aponta ainda que os impactos da deterioração ambiental estão afetando a vida das pessoas. Condições meteorológicas extremas, desastres naturais mais frequentes e severos e o colapso dos ecossistemas estão causando maior insegurança alimentar e piorando a segurança e a saúde das pessoas, forçando muitas comunidades a sofrer com a pobreza, o deslocamento e o aumento das desigualdades.

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin, alertou que o relógio para tomar medidas decisivas sobre a mudança climática está correndo. Ele destacou ainda a importância de fortalecer a cooperação internacional e a ação multilateral para enfrentar os desafios globais monumentais.

Desafios e Soluções

Liu acredita que os desafios destacados no relatório “são problemas globais que exigem soluções globais" e que “assim como os problemas estão inter-relacionados, as soluções para a pobreza, a desigualdade, a mudança climática e outros desafios globais também estão interligadas”.

Apesar das ameaças, o relatório demonstra que existem oportunidades valiosas para acelerar o progresso, alavancando as interligações entre os Objetivos. A redução das emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, anda de mãos dadas com a criação de empregos, a construção de cidades mais habitáveis ​​e a melhoria da saúde e da prosperidade para todos.

As Nações Unidas sediarão as cúpulas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática, assim como outras reuniões cruciais durante a semana de alto nível da 74ª Sessão da Assembleia Geral em setembro.

Algumas das principais questões apontadas no relatório:

Desigualdade

  • O relatório alerta que o aumento da desigualdade entre os países e dentro deles requer atenção urgente;
  • Três quartos das crianças com atraso de crescimento vivem no sul da Ásia e na África subsaariana;
  • A pobreza extrema é três vezes maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas;
  • Os jovens têm maior probabilidade de estar desempregados do que os adultos;
  • Apenas um quarto das pessoas com deficiências graves recebe uma pensão por invalidez;
  • As mulheres e meninas ainda enfrentam barreiras para alcançar a igualdade.

Clima

  • O ano de 2018 foi o quarto ano mais quente já registrado;
  • Os níveis de concentração de dióxido de carbono continuaram a aumentar em 2018;
  • A acidez oceânica é 26% maior do que na época pré-industrial e está projetada para aumentar em 100% a 150% até 2100 na taxa atual de emissões de CO2.

Extrema Pobreza

  • O número de pessoas vivendo em extrema pobreza caiu de 36% em 1990 para 8,6% em 2018, mas o ritmo da redução da pobreza está começando a desacelerar à medida que o mundo luta para responder à privação arraigada, conflitos violentos e vulnerabilidades a desastres naturais;
  • Caso mantenha-se no atual ritmo, o mundo não vai alcançar a meta de ter menos de 3% da população vivendo nessa condição até 2030;
  • De acordo com as estimativas atuais, é mais provável que essa taxa fique em torno de 6%. Isso representa 420 milhões de pessoas;
  • Conflitos violentos e desastres naturais têm influência sobre esse número. Na região árabe, a extrema pobreza era calculada em menos de 3%. Contudo, os confrontos na Síria e no Iêmen levaram a um aumento da taxa de pobreza na região, deixando mais pessoas sem ter o que comer e sem ter onde morar.

Fome

  • A fome voltou a crescer no mundo, com 821 milhões de pessoas subnutridas em 2017, segundo dados compilados pelo relatório;
  • Em 2015, o contingente de indivíduos passando fome era estimado em 784 milhões de pessoas;
  • Atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo não têm comida suficiente;
  • A África continua sendo o continente com a mais alta prevalência de subnutrição. O problema que afeta um quinto da população africana, o equivalente a mais de 256 milhões de pessoas.

Saúde

  • O relatório ressalta que pelo menos metade da população mundial, o equivalente a 3,5 bilhões de pessoas, não tem acesso a serviços essenciais de saúde;
  • Em 2015, segundo a pesquisa, estima-se que 303 mil mulheres em todo o mundo morreram devido a complicações na gravidez e no parto. A maioria dessas gestantes vivia na África Subsaariana;
  • A pesquisa da ONU aponta ainda que o progresso se estagnou ou não está acontecendo rápido o suficiente para combater doenças como malária e tuberculose. Eliminar essas infecções, como ameaças de saúde pública, é uma das metas do ODS nº 3, sobre saúde e bem-estar.

Igualdade de gênero

  • Globalmente, nos últimos 12 meses, em torno de 20% de todas as mulheres com idade de 15 a 49 anos sofreram violência física ou sexual cometida pelo próprio parceiro;
  • O índice de agressões é mais alto nos 47 países mais pobres do mundo, um grupo de nações que a ONU chama de países menos desenvolvidos;
  • O relatório aponta que alguns indicadores sobre igualdade de gênero estão melhorando. O levantamento lembra a queda significativa na ocorrência da mutilação genital feminina e no casamento infantil, mas ressalta que os números para essas violações de direitos continuam altos;
  • A pesquisa vê progresso insuficiente em questões estruturais que estão na raiz da desigualdade de gênero. Entre os problemas citados pelo documento, estão a discriminação legal, normas e atitudes sociais injustas, o processo de tomada de decisões sobre questões sexuais e reprodutivas e os níveis baixos de participação política. Esses desafios estariam minando os esforços para cumprir os objetivos da ONU.