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Militares do Brasil vão treinar forças da maior operação de paz do mundo

Brigada de Intervenção atua na área de Beni com militares do Malaui, da Tanzânia e da África do Sul.
Monusco/FIB/Mohammed Mkumba.
Brigada de Intervenção atua na área de Beni com militares do Malaui, da Tanzânia e da África do Sul.

Militares do Brasil vão treinar forças da maior operação de paz do mundo

Paz e segurança

Da Amazônia para a RD Congo, especialistas devem partilhar experiências com boinas-azuis em planejamento, táticas e técnicas operacionais; semestre de atividades será com grupo especial atuando onde ocorrem as maiores atrocidades.

O Brasil vai enviar peritos militares para treinar o primeiro grupo especial de boinas-azuis, que foi autorizado pela ONU a realizar operações ofensivas para "neutralizar e desarmar" grupos  rebeldes na República Democrática do Congo, RD Congo.

As forças brasileiras serão enviadas da Amazônia para apoiar a chamada Brigada de Intervenção, que combate milícias que “ameaçam a autoridade do Estado e a segurança civil” em Beni, no leste. Nessa área congolesa, atua o grupo armado ADF que “comete as maiores atrocidades” no país onde existem 70 grupos armados em atividade.

O general brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho comandou as forças da ONU na RD Congo até final de outubro.

General Brasileiro

As revelações foram feitas à ONU News, em Nova Iorque, na conversa exclusiva com o comandante das forças da Missão da ONU na RD Congo, Monusco. O general brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho lidera mais de 15 mil militares, de 49 países.

“Estamos desdobrando, agora em julho, um grupo de especialistas brasileiros em operações na selva vindos diretamente da Amazônia, do nosso centro de operações na selva, para realizar durante seis meses atividades de treinamento junto a essa Brigada de Intervenção. (Essas atividades de treinamento) focarão, num primeiro momento, a parte de planeamento, mas também a parte de táticas e técnicas operacionais. Nós esperamos que, com isso, daremos um suporte maior à Brigada de Intervenção que é uma das brigadas que têm a missão mais difícil na área de operações.”

A Brigada de Intervenção integra militares do Maláui, da Tanzânia e da África do Sul que combatem as hostilidades na região oriental congolesa.

Esses militares, que estão sendo desdobrados para o Congo, todos eles, têm experiências reais vividas durante quatro, cinco e alguns durante 10 anos de experiência no interior da selva

O general revelou ainda que condições florestais parecidas entre territórios congoleses e a região amazônica, no Brasil, são parte dos motivos que levaram a apostar em especialistas brasileiros para o sucesso dessa missão.

Treinamento

“Eles estão plenamente capacitados para, tanto a parte de formação com cursos, e outras, como na parte de experiências práticas que vêm realizando durante os comandos que exerceram no ambiente de selva, mas também nas diversas operações de que participaram. Nós acreditamos que este suporte à Brigada de Intervenção poderá contribuir, e muito, para eficiência da brigada no planejamento e na condução de operações ofensivas contra os grupos armados que atuam na área.”

Elias Rodrigues Martins Filho disse que os especialistas que serão enviados do Brasil se destacam operacionalmente para lidar com o tamanho da responsabilidade por enfrentar no segundo maior país africano.

“São selvas equatoriais com o mesmo clima, a mesma densidade, o mesmo tipo de árvores e etc. Então, as similitudes entre uma região e outra, nos ajudam bastante a fazer com que o nosso treinamento possa ser muito bem aproveitado nas operações que estão sendo realizadas no Congo. Esses militares que estão sendo desdobrados para o Congo, todos eles, têm experiências reais vividas na selva durante quatro, cinco e alguns até em 10 anos de experiência no interior da selva”.

Tropas de paz da Monusco, Missão da ONU na República Democrática do Congo, patrulham cidade de Butembo, em janeiro de 2019.
Tropas de paz da Monusco patrulham cidade de Butembo, afetada pelo ebola. by OMS/Rob Holden

Saída

Após as eleições de dezembro, o Conselho de Segurança recomendou uma revisão da estratégica da Monusco para permitir uma saída gradual, progressiva e abrangente das forças internacionais. Há várias décadas, a RD Congo enfrenta conflitos que causam instabilidade política e violações dos direitos humanos.

As forças internacionais que atuam no país também protegem os trabalhadores humanitários de atos hostis que acontecem em duas áreas afetadas pela crise de ebola. Nessas regiões, foram registrados ataques de grupos armados contra a população e centros especializados no tratamento da doença.