Professores despreparados para lidarem com estudantes migrantes e refugiados traumatizados BR

Novo documento da Unesco aborda o desafio educacional do trauma, condição vivenciada por algumas destas crianças; na ausência de centros de saúde, escolas geralmente desempenham papel fundamental na restauração de senso de estabilidade.
Desde 2000 o número de crianças migrantes e refugiadas em idade escolar cresceu 26%. O desafio educacional do trauma, condição vivenciada por algumas destas crianças, é o tema abordado por um novo documento emitido pelo Relatório de Monitoramento da Educação Global da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Segunda a agência da ONU, muitas dessas crianças têm experiências traumáticas antes de deixar suas casas, durante a jornada ou enquanto se estabelecem em uma nova comunidade ou país. Elas desenvolvem estresse tóxico com consequências negativas que também afetam sua capacidade de aprender.
O documento apela por uma melhor formação para os professores para que eles possam fornecer apoio psicossocial às crianças que viveram eventos traumáticos. Este é o caso de Jenny Caroline Herbst, uma professora em uma aula de boas-vindas para recém-chegados na Alemanha.
Como exemplo, Herbst falou a história de um menino que foi detido no Iraque, que se alguém gritar com ele, “corre para fora da sala e não volta.” Ela explicou que não teve “nenhum treinamento formal” e que se sentiu sobrecarregada.
Na Alemanha, um quinto das crianças refugiadas sofre de transtorno de estresse pós-traumático. A Unesco destaca que os menores não acompanhados são particularmente vulneráveis.
O estudo aponta que um terço das 160 crianças desacompanhadas que necessitavam de asilo na Noruega, vindas do Afeganistão, da República Islâmica do Irã e da Somália, sofria de distúrbio de estresse pós-traumático. Das 166 crianças e adolescentes refugiados desacompanhados na Bélgica, entre 37 e 47% tinham sintomas severos a muito graves de ansiedade, depressão e transtorno do estresse pós-traumático.
As taxas de trauma entre os deslocados em países de baixa e média renda também são altas. Como exemplo, 75% das 331 crianças deslocadas internamente em campos no sul de Darfur, no Sudão, preencheram critérios de diagnósticos para transtorno de estresse pós-traumático, e 38% sofriam de depressão.
A Unesco destaca que na ausência de centros de saúde, as escolas geralmente desempenham um papel fundamental na restauração de um senso de estabilidade. Mas os professores precisam de conhecimentos básicos sobre os sintomas do trauma e como ajudar os alunos afetados.
No entanto, eles enfrentam desafios nos países anfitriões e, particularmente, em situações de emergência.
Na Alemanha, a maioria dos professores e funcionários de creches disseram que não se sentiam adequadamente preparados para atender às necessidades das crianças refugiadas. Na Holanda, 20% dos professores com mais de 18 anos de experiência trabalhando em escolas regulares relataram que experimentaram um alto grau de dificuldade em lidar com estudantes com trauma.