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Número de mortes no trânsito continua aumentando nas Américas BR

Efeitos destes acidentes são sentidos de forma desproporcional por pedestres, ciclistas e motociclistas.
Foto ONU/Albert González Farran
Efeitos destes acidentes são sentidos de forma desproporcional por pedestres, ciclistas e motociclistas.

Número de mortes no trânsito continua aumentando nas Américas

Saúde

Relatório da Opas pede medidas urgentes para reduzir mortes de crianças, adolescentes e jovens; região tem 155 mil mortes por ano devido ao problema; número equivale a 11% do total mundial.

Um novo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, revela que o número de mortes no trânsito continua aumentando nas Américas, chegando a quase 155 mil por ano, 11% do total mundial.

O estudo Estado da segurança no trânsito na região das Américas destaca que lesões no trânsito são a principal causa de morte de crianças entre cinco e 14 anos e a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. São também a 10ª causa de morte entre todas as faixas etárias.

Motociclistas, pedestres e ciclistas são considerados usuários vulneráveis das vias por circularem com mínima proteção.
Motociclistas, pedestres e ciclistas são considerados usuários vulneráveis das vias por circularem com mínima proteção. , by Foto: Banco Mundial/Simone D. McCourtie

Para a diretora da Opas, Carissa F. Etienne, “essas descobertas indicam a necessidade de priorizar a prevenção dessas lesões com intervenções que sabemos que funcionam.”

A representante acrescenta que “lesões no trânsito não só tiram a vida de milhares de pessoas a cada ano, mas também deixam outros milhares com incapacidade, problemas emocionais e financeiros, além de sobrecarregarem os serviços de saúde.”

Panorama regional

O relatório apresenta dados relatados por 30 países das Américas sobre mortalidade, em 2016. O documento cobre ainda a legislação e avaliação das vias em 2017, e padrões de veículos em 2018.

O material destaca que embora tenha havido avanços na legislação e gestão de segurança no trânsito e na atenção pós-trauma às pessoas afetadas, a meta de reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2020 não será alcançada.

Com 15,6 mortes por cada 100 mil pessoas, as Américas têm a segunda menor taxa de mortalidade no trânsito em comparação com outras regiões da Organização Mundial da Saúde, OMS. No entanto, existem variações entre sub-regiões e países.

O Caribe Latino apresenta um índice de 21,1 mortes por 100 mil habitantes e a Região Andina de 20,9. O Cone Sul conseguiu reduzir sua taxa de 20,9 em 2013 para 18,4 em 2016 e o Caribe não latino tem um índice de16,7 mortes por 100 mil habitantes.

Estas são as regiões que apresentaram as taxas de mortalidade mais altas. Já a Mesoamérica, com 14,2 e a América do Norte, com 11,7, relataram as taxas mais baixas.

Brasil

As taxas de mortalidade no trânsito variam de país para país e são influenciadas pelos níveis de desenvolvimento. De acordo com o relatório, Barbados e Canadá têm taxas de menos da metade da média regional, com 5,6 e 5,8 por 100 mil habitantes, respectivamente.

Santa Lúcia e República Dominicana apresentam mais que o dobro da taxa de mortalidade regional, com 35,4 e 34,6, respectivamente.

Em 2016, 38,641 mil pessoas morreram no trânsito no Brasil, país que apresentou um índice de 19,7 mortes por 100 mil habitantes.

Motociclistas, pedestres e ciclistas

O estudo também aponta que motociclistas, pedestres e ciclistas são os mais afetados

Quase metade das pessoas que morrem por lesões causadas no trânsito são motociclistas, representando 23% delas, pedestres, 22% e ciclistas, 3%. Eles são considerados usuários vulneráveis das vias por circularem com mínima proteção e não terem outra opção senão utilizar uma infraestrutura de trânsito insegura.

O percentual de motociclistas vítimas de acidentes de trânsito aumentou de 20% para 23% entre 2013 e 2016. Essa situação pode estar relacionada a um aumento de 23% no número de veículos motorizados de duas e três rodas registrados no mesmo período.

Legislação

O relatório analisa os avanços nas legislações nacionais sobre os cinco principais fatores de risco para prevenir mortes e lesões no trânsito. Entre eles estão o excesso de velocidade, a condução sob efeito do álcool e a falta de uso de cintos de segurança, capacetes e sistemas de retenção para crianças.

Desde 2014, a República Dominicana e o Uruguai estabeleceram leis sobre a condução sob a influência do álcool, o que eleva o número total de países para oito. O Equador implementou legislação sobre o uso de capacetes, aumentando o número total de países com esse tipo de lei para sete.

A República Dominicana agora é um dos 19 países da região onde o uso de cintos de segurança é obrigatório e o Chile, é um dos dois países das Américas que estabeleceu legislação sobre o uso de sistemas de retenção infantil.

Limite de Velocidade

No entanto, segundo o estudo, nenhuma nova lei foi promulgada para reduzir os limites de velocidade, uma medida importante que salva vidas. Apenas cinco países da região adotaram padrões que se alinham às melhores práticas, introduzindo limites máximos de velocidade de 50 quilômetros por hora em vias urbanas.

Para a assessora regional de Segurança no Trânsito da Opas, Eugenia Rodrigues, “a promulgação de leis e sua aplicação efetiva são essenciais para evitar mortes no trânsito.” Ela disse que, no entanto, “isso continua sendo um desafio na maioria dos países.”

Rodrigues também ressaltou a importância de contar com agências de segurança viária, que existem em 29 dos 30 países da região, além da coordenação e colaboração entre diversos setores.

O relatório também avalia a situação das normas de segurança dos veículos e infraestrutura viária e analisa o progresso e os desafios para melhorar a atenção pós-colisão.