Da discriminação à liderança de pessoas com deficiência no Brasil BR

Destaque ONU News Especial recebe Priscilla Gaspar, secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Brasil. Ela é a primeira surda a ocupar um cargo de alto escalão do Governo Federal do Brasil. Falando à ONU News, em Nova Iorque, a representante abordou essa trajetória até à nomeação ao cargo.
Antes de tudo acho que precisamos é informar a sociedade, para despertar a consciência. A sociedade civil tem que ser mais empática em relação as pessoas com deficiência. Nós lutamos pela promoção dos direitos e isso é de fato muito importante. No entanto, a maior parte da sociedade, ainda não conhece, não sabe como lidar com as pessoas com deficiência. Acabam tendo receio em se relacionar com essas pessoas. Nós precisamos divulgar informações para que as pessoas possam ter esse relacionamento e é esse o trabalho que o governo federal vem desenvolvendo.
É diferente. No passar dos anos, pessoas com deficiência física, cadeirantes e pessoas com deficiência visual ocuparam este cargo. É a primeira vez que tem uma pessoa surda ocupando este cargo. Uma pessoa usuária de uma língua visual. E as pessoas ficaram com muito receio. Mas quero dizer, que enquanto secretária, eu não veja diferença. As pessoas das mais diversas deficiências precisam ser respeitadas e ter os seus direitos garantidos. Este é um momento de protagonismo das pessoas com deficiência.
As pessoas ficaram chocadas. Como uma pessoa surda?
As pessoas ficaram chocadas, como mencionei. Como uma pessoa surda? Porque diversos segmentos de pessoas com deficiência já foram empoderadas ao longo dos anos. Isso faltava para as pessoas surdas. Então, o presidente Bolsonaro escolheu uma secretária surda, usuária da língua visual, com uma língua, cultura surda, para esse momento de protagonismo das pessoas surdas. Mas eu sou secretária da pessoa com deficiência, de todos os segmentos.
Nosso primeiro projeto foi a criação de fóruns permanentes de desenvolvimento de políticas públicas para as pessoas com deficiência, para aproximarmos a sociedade civil, verificarmos as suas demandas, suas dificuldades educacionais na área da saúde, de empregabilidade, para que possamos desenvolver políticas públicas adequadas às especificidades dessas pessoas. E dar visibilidade a essas pessoas para que a sociedade possa respeita-las e entender as diferenças.
É verdade, eu sou a primeira pessoa surda no alto escalão nos governos do mundo todo, tão próximas ao presidente, ao chefe de Estado. Penso que nós temos que desenvolver mais acessibilidade. Nós sabemos das limitações e as barreiras. E a acessibilidade é a chave que abre, que derruba essas barreiras. Eu espero que nós possamos, juntos com essas chave, abrir essas portas e derrubar essas barreiras para uma real inclusão social.
A primeira atitude tomada este ano foi com a Ouvidoria Nacional para o Atendimento das Pessoas com Deficiência. As pessoas com deficiência intelectual, as pessoas tetraplégicas, os surdos. Então, nós desenvolvemos as chamadas em vídeo conferência, para que as pessoas possam se comunicar oralmente ou em língua de sinais por chamadas em vídeo. Além disso, nós sancionamos agora uma lei em que as denúncias de violência contra pessoas têm que constar no registro se é uma pessoa com deficiência ou não, para que nós possamos saber como chegarmos até essas pessoas. Utilizamos a tecnologia assistiva e estamos iniciando com o trabalho da ouvidoria nacional. E também a partir de aplicativos que as pessoas possam chamar socorro por toque, isso apenas um toque no celular. Isso serve para as mais diversas deficiências, também para pessoas idosas, com mobilidade reduzida, dificuldade de locomoção e movimento.
Particularmente a minha experiência é apenas de discriminação. Sempre sofri muito bullying, sempre fiquei isolada. Então, sempre me sentindo excluída enquanto pessoa surda, usuária de uma língua visual. Então, o meu sonho é que possamos ter uma real inclusão social de todas as pessoas com deficiência para que as pessoas possam desenvolver a sua autoestima, para que possam estudar, fazer graduação, desenvolver suas tarefas no emprego e que se sintam reconhecidas e tenham os seus direitos respeitados.
Sim, nós já temos um acordo de cooperação que ainda está em desenvolvimento. Pretendemos aprofundar sobre acessibilidade em todos os países lusófonos para que nós possamos trocar as nossas experiências.
Eu quero agradecer demais. A minha primeira experiência numa conferência como essa aqui na ONU. Tenho conhecido diversas pessoas, tenho aprendido muito, e nós precisamos trocar experiências. Todos os países, para que possamos de fato garantir os direitos das pessoas com deficiência. O Brasil está à procura disso.