Norte-coreanos enfrentam “violações de direitos humanos e incertezas no ambiente jurídico”
Escritório de Direitos Humanos compilou relatos de 214 pessoas que fugiram do país entre 2017 e 2018; documento recomenda revisão do Código Penal e respeito ao direito à liberdade de movimento no interior e fora das fronteias.
Um relatório da ONU destaca que as populações da Coreia do Norte estão envolvidas em um círculo vicioso, em que a falha do Estado em suprir necessidades básicas as obriga a recorrer a mercados rudimentares. Nesse processo, ocorrem “violações dos direitos humanos e incertezas no ambiente jurídico”.
O estudo do Escritório de Direitos Humanos tem como título “O preço é direitos: a violação do direito a um padrão de vida adequado na República Democrática Popular da Coreia” e descreve a ação de serviços públicos há mais 20 anos.
Gestão
Na tentativa de ganhar a vida em uma economia paralela precária, os norte-coreanos são expostos a situações como prisão, detenção e extorsão arbitrárias.
A pesquisa foi elaborada a partir de relatos de 214 pessoas que fugiram do país e esses testemunhos foram compilados pela equipe de Direitos Humanos da ONU na Coreia do Sul entre 2017 e 2018.
O relatório descreve como os direitos de pessoas comuns são amplamente violados devido à má gestão econômica e à corrupção endêmica.
Os autores destacam que o Estado não cumpriu suas obrigações sob a lei internacional de direitos humanos para realizar o direito de seus cidadãos a um padrão de vida adequado.
Setor Privado
As autoridades de Pyongyang também são referidas por “não procurar mudar um sistema público falhado, nem ajudar a estabelecer um setor privado funcional e legal para aliviar a miséria econômica que grande parte da população enfrenta”.
A área militar continua sendo o principal destino de “enormes recursos”, de acordo com o escritório. Segundo o documento, a Coreia do Norte detém um dos maiores exércitos permanentes do mundo, que representa a maior proporção mundial de militares para a população em geral.
Mais de 1 milhão jovens foram retirados dos locais de trabalho para as Forças Armadas.
Quanto à situação humanitária, cerca de 10,9 milhões de pessoas estão subnutridas e sofrem de insegurança alimentar na Coreia do Norte. O número corresponde a mais de 43% da população total.
Quase 10 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 16% da população não tem saneamento básico, o que aumenta o risco de doenças e desnutrição.
Privação
As pessoas que vivem nas províncias do nordeste e na área rural sofrem mais com a falta de serviços básicos. O Índice Global da Fome de 2018 classificou o nível de fome no país como "sério" e " na iminência de alarmante".
Para a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, estes números são extraordinários e terríveis. Ela destacou que esse nível de privação é raro, mesmo em países afetados por conflitos.
Ela considera preocupante que o foco constante na questão nuclear continue a desviar a atenção da terrível situação de direitos humanos para muitos milhões de norte-coreanos.
Direitos
Bachelet disse ainda que não são somente importantes os direitos civis e políticos, mas também os direitos sociais, culturais e econômicos.
O relatório destaca que ainda não está clara a imagem completa do padrão de vida na Coreia do Norte, porque o pessoal da ONU e ONGs enfrentam questões como falta de dados e acesso ao país.
Essa situação é agravada pelo ambiente doméstico opressivo, no qual não há espaço para as pessoas expressarem suas opiniões, para a ação de organizações independentes da sociedade civil ou jornalistas trabalharem com liberdade.
Para lidar com essas situações, o relatório recomenda a revisão do Código Penal e outra legislação relevante . Outras recomendações incluem o respeito ao direito à liberdade de movimento no país e além-fronteiras.
O escritório destaca que é um imperativo estabelecer o Estado de direito, com garantias de processo justo e direitos de julgamento equilibrado.