Primeira observadora brasileira dá adeus à liderança com sentimento de dever cumprido
Tenente-coronel do Exército, Andréa Firmo atuou na Missão das Nações Unidas para o Saara Ocidental; participação na Minurso chegou ao fim com a uma solenidade de passagem de comando das forças de paz que acompanham situação após o cessar-fogo assinado entre o Governo de Marrocos e a Frente Polisário.
A tenente-coronel do Exército Andréa Firmo tinha 18 anos quando começou a trabalhar como professora de inglês no Brasil. Aos 27 anos, ela iniciou sua carreira no Exército Brasileiro. Nascida no Rio de Janeiro, e com três filhos, ela conseguiu se tornar a primeira brasileira a trabalhar como observadora das Nações Unidas, e também, a primeira comandante de uma base da força de paz da ONU no Saara Ocidental.
Em entrevista à ONU News, Firmo recordou sua trajetória na missão, que começou como “uma observadora normal” e que encerrou coordenando todas as atividades dos observadores militares.

Ligacão
“Essa designação de comandantes de Team Site (base) foi dada pela primeira vez na Minurso a uma mulher. E essa mulher fui eu, do Brasil, como tenente-coronel da área de educação. Então, o desafio era imenso. E a mudança, também, do tipo de atividade. Porque a partir do momento em que eu era uma observadora militar, eu fazia uma função rotineira de monitoramento de relatos. Como comandante permanente do site começaria a comandar 22 nacionalidades diferentes e dos Polisários, que eram os trabalhadores locais, e com isso eu faria uma coordenação geral de ligação entre o Team Site e o Quartel-General.”
A participação de Andréa Firmo na Missão das Nações Unidas para o Saara Ocidental, Minurso, começou há um ano. Foi em abril de 2018 que a tenente-coronel chegou para atuar na região, que fica na costa noroestedno continente africano, fazendo fronteira com o Marrocos, a Mauritânia e Argélia. Até 1975, a área era administrada pela Espanha.
Logo depois, começaram os combates entre Marrocos e a Frente Polisário até a assinatura de um acordo de cessar-fogo em 1991. Nesse mesmo ano, os primeiros boinas-azuis da ONU foram enviados ao local para monitorar o cessar-fogo.
Passagem de Comando
Firmo explicou que a principal tarefa de um observador militar é observar, monitorar e reportar todas as atividades que possam causar” danos ao acordo entre ambas as partes”. O trabalho na operação de paz cobre todo o Saara Ocidental.
Foi nas terras do maior deserto quente do mundo onde a participação da tenente-coronel na Minurso na missão das Nações Unidas chegou ao fim. A solenidade de passagem de comando foi marcada por memórias.
“Esse sentimento é realmente um sentimento muito diferente do início da missão. É um sentimento de que ainda tinha tanta coisa para fazer, mas o tempo acabou. E esse engajamento foi um engajamento tão necessário porque todo conflito ele gera uma relação de muito desconforto de ambas as partes. Então as pessoas que estejam envolvidas nesses conflitos elas sofrem muito. E quando entramos em contato com essas pessoas, com esses locais, nós nos envolvemos com a história de maneira a ter decisões que vão afetar positivamente o que nós estamos fazendo aqui que é a manutenção do cessar-fogo. Então quando há um término, desse envolvimento que estava acontecendo diariamente, a sensação é de tristeza, mas uma tristeza diferente, uma tristeza de que pena que acabou, fiz a minha parte, missão cumprida, mas ainda tem tanto a fazer.”
Honra
Firmo conta que sentiu “muito honrada” com o compromisso que assumiu e por ter sido a primeira mulher a ser apontada como comandante de uma base no Saara Ocidental.
“Eu gostaria de dizer para todas as mulheres militares do nosso país, do nosso Brasil, e do mundo inteiro que nós abrimos caminhos e agora nos resta mantê-los. Como? Enviando mulheres militares engajadas e com vontade de continuar o nosso trabalho, porque esse empoderamento feminino, principalmente na área militar, só traz vantagens. Por isso que o nosso secretário-geral António Guterres está fazendo esse esforço de implementação da igualdade de gênero.”
Guterres
Ao se dirigir ao Conselho de Segurança no início deste mês de abril, em debate sobre o papel das mulheres na manutenção da paz, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a principal prioridade passa por “aumentar o número de mulheres em manutenção da paz”, tanto civis como militares.
No período de 32 anos, entre 1957 e 1989, 32 anos, um total de apenas 20 mulheres uniformizadas serviram como boinas azuis. Hoje, um total de 7.682 mulheres atuam nas missões, 4.059 delas militares e 3.623 civis.
Guterres lembrou que esta “não é apenas uma questão de números”, mas também de eficácia dos mandatos da ONU. O chefe da ONU explicou que um maior número de mulheres que mantêm a paz “conduz a respostas de proteção que são mais confiáveis e atendem às necessidades de todos os membros das comunidades locais.”
Mulheres nas Missões de Paz
O secretário-geral destacou que a presença feminina permite que se recebam mais denúncias de violência sexual e de gênero e que haja menos incidentes de exploração e abuso sexual, o que conduz a “processos de paz mais representativos e inclusivos.”
Com o lançamento da Estratégia de Igualdade de Género em 2017, as Nações Unidas iniciaram um “esforço ambicioso e essencial” em todo o sistema para melhorar a representação das mulheres em todos os níveis, acrescentou o chefe da ONU.
As metas para a representação de mulheres variam de 15% a 35% até 2028, incluindo militares, agentes policiais e de justiça.