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"E essa mulher fui eu, do Brasil" - diz militar que liderou tropas de paz na África BR

Andreia Firmo comandou tropas de paz das Nações Unidas na área de Tifriti, no Saara Ocidental
Reprodução
Andreia Firmo comandou tropas de paz das Nações Unidas na área de Tifriti, no Saara Ocidental

"E essa mulher fui eu, do Brasil" - diz militar que liderou tropas de paz na África

Paz e segurança

Neste #DestaqueONUNews, conheça o perfil de uma brasileira no Saara Ocidental que comandou tropas de paz das Nações Unidas na área de Tifriti. Ela acaba de encerrar oficialmente o comando de tropas na região desértica próxima do Marrocos, da Mauritânia e da Argélia. 

 

Em 1976, após a administração espanhola, o Saara Ocidental registrou combates entre o Marrocos e a Frente Polisário até que foi assinado um cessar-fogo em setembro de 1991.

Foi precisamente há 28 anos que a  Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental, Minurso, foi destacada.  O mandato da operação de paz prevê monitorar o cessar-fogo entre o Governo de Marrocos e a Frente Polisário, para que havendo consenso entre as partes seja organizado um referendo sobre autodeterminação no Saara Ocidental.

A brasileira Andréa Firmo foi pioneira em liderança feminina de uma base (Team Site) de observadores militares e conta como foi sua experiência  nas terras do deserto nos últimos 12 meses.

ONU News destaca alguns dos lusófonos que fazem parte de tropas da paz e fizeram a diferença em suas missões.
Minurso
ONU News destaca alguns dos lusófonos que fazem parte de tropas da paz e fizeram a diferença em suas missões.

Como foi o trabalho desenvolvido na Minurso?

Eu iniciei como uma observadora normal, como uma observadora militar com suas tarefas quotidianas e eu terminei como comandante de um Team Site em Tifriti, fazendo toda a parte de coordenação das atividades que os observadores militares fazem no Team Site. Essa designação de comandantes de Team Site foi dada pela primeira vez a uma mulher. E essa mulher fui eu, do Brasil, como tenente-coronel da área de educação. Então, o desafio era imenso. E a mudança, também, do tipo de atividade. Porque a partir do momento em que eu era uma observadora militar, eu fazia uma função rotineira de monitoramento e relatos. Como comandante permanente de Team Site, eu passaria a comandar 22 nacionalidades diferentes e mais os Polisários (integrantes da Frente Polisário), que eram os trabalhadores locais, e com isso eu faria uma coordenação geral de ligação entre o Team Site e o Quartel-General. A principal tarefa de um observador militar é observar, monitorar e reportar toda e qualquer atividade que seja uma atividade que vá causar dano ao acordo entre ambas as partes. Uma atividade que não esteja prevista no acordo. Esse tipo de relatório, ele é gerado diariamente. Então o observador militar precisa preparar o seu veículo, para que ele saia numa patrulha que geralmente é composta por quatro observadores militares. Um é o motorista, que é chamado de primeiro motorista.  O observador militar que vai ao lado do primeiro motorista é o líder de patrulha. No segundo carro, que é um comboio dessa patrulha. A gente tem o segundo motorista, que é acompanhado do navegador. Então, essa questão do monitoramento é feita de acordo com a área programada para monitoramento. Então esse monitoramento acontece em nove Team Sites. Nós conseguimos cobrir com isso todo o Saara Ocidental tanto da parte oeste quanto da parte leste.

Como é o sentimento de encerramento desse trabalho?

Esse sentimento é realmente um sentimento muito diferente do início da missão. É um sentimento de que ainda tinha tanta coisa para fazer, mas o tempo acabou. E esse engajamento foi um engajamento tão necessário porque todo conflito ele gera uma relação de muito desconforto de ambas as partes. Então as pessoas que estão envolvidas nesses conflitos elas sofrem muito. E quando entramos em contato com essas pessoas, com esses locais, nós nos envolvemos com a história de maneira a ter decisões que vão afetar positivamente o que nós estamos fazendo aqui que é a manutenção do cessar-fogo. Então quando há um término, desse envolvimento que estava acontecendo diariamente, a sensação é de tristeza, mas uma tristeza diferente, uma tristeza de que pena que acabou, fiz a minha parte, missão cumprida, mas ainda tem tanto a fazer. Então por isso que o sentimento que eu vou levar para a vida é que mais pessoas, mais mulheres, precisam estar nessa missão, fazendo no terreno a diferença para aquelas mulheres locais que, pela nossa empatia feminina, conseguem relatar os seus problemas.

Destaque ONU News Especial com a primeira brasileira a ser observadora militar da ONU

Como você vê a participação das mulheres nas missões de paz da ONU?

Essa designação foi feita pelo comandante da Força. Então o nosso comandante da Força da Minurso achou interessante apontar uma mulher como comandante de um Team Site, de um desses nove Team Sites, ao longo desse período em que eu estive na missão. E esse compromisso foi dado a mim e eu me senti muito honrada por isso.

Alguma mensagem que queira passar em especial para as mulheres?

Eu gostaria de dizer para todas as mulheres militares do nosso país, do nosso Brasil, e do mundo inteiro que nós abrimos caminhos e agora nos resta mantê-los. Como? Enviando mulheres militares engajadas e com vontade de continuar o nosso trabalho, porque esse empoderamento feminino, principalmente na área militar, só traz vantagens. Por isso que o nosso secretário-geral António Guterres está fazendo esse esforço de implementação da igualdade de gênero. Então a minha mensagem é venham porque as portas já estão abertas esperando por vocês.