Em um ano, crise na Nicarágua provocou fuga de mais de 60 mil pessoas BR

Agência de Refugiados da ONU confirma que médicos, jornalistas, estudantes e agricultores estão entre nicaraguenses que buscaram refúgio no exterior; protestos contra o governo iniciaram em abril de 2018.
Mais de 300 pessoas foram mortas, 2 mil ficaram feridas e 60 mil fugiram da Nicarágua desde abril do 2018, quando ocorreu a primeira repressão violenta aos protestos em massa no país.
A Agência de Refugiados da ONU, Acnur, revelou que a Costa Rica tem recebido mais de 2 mil solicitações de asilo por mês de pessoas cruzando a fronteira da região norte do país em busca de segurança.
Falando a jornalistas em Genebra, a porta-voz da agência, Elizabeth Throssell, disse que entre as razões que levam as pessoas a fugirem do país estão o “medo de perderem suas vidas e serem atacadas ou sequestradas por grupos paramilitares.”
Throssell destacou que entre aqueles que buscam asilo estão estudantes, ex-funcionários públicos, representantes da oposição, jornalistas, médicos, defensores de direitos humanos e agricultores".
O Acnur aponta ainda que “um número significativo deles chega precisando de assistência médica, apoio psicológico, abrigo e assistência alimentar.”
Para a agência, sem uma solução política para a crise na Nicarágua, as pessoas devem continuar a deixar o país. Comunidades da Costa Rica que ficam próximas à fronteira com a Nicarágua têm poucos recursos e encontrar comida e abrigo é um desafio para aqueles que procuram por asilo.
Protestos marcando um ano do início da crise da Nicarágua foram convocados para o final desta semana.
A alta comissária para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, apelou ao governo para que garanta que suas forças de segurança permitam espaço para que as pessoas possam se reunir pacificamente e expressar os seus pontos de vista de acordo com os seus direitos garantidos pela lei internacional.
Bachelet também fez uma advertência para que as autoridades tomem muito cuidado para evitar o uso excessivo da força.
De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da ONU, protestos recentes nos dias 16 e 30 de março teriam deixado 10 feridos. Mais de 170 manifestantes teriam sido presos e depois libertados.
A chefe dos direitos humanos da ONU disse que “está preocupada que os protestos planejados para o final da semana possam desencadear outra reação violenta".
Bachelet lembrou que "as violações ocorridas no ano passado incluem a criminalização e a perseguição de líderes estudantis, defensores de direitos humanos, jornalistas e outros críticos aos governos”.
Ela destaca que “as autoridades também recorreram à censura da mídia, à proibição de manifestações, ao uso persistente de força excessiva e prisões arbitrárias em larga escala pela polícia.”
Bachelet enfatizou a necessidade de colocar as vítimas de violações de direitos humanos e abusos ocorridos desde abril de 2018 no centro das negociações.
Em março, o governo do país e a Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia da Nicarágua chegaram a dois acordos, um relacionado à liberação de detidos durante os protestos e o outro ao fortalecimento dos direitos e proteção.
No entanto, segundo a Comissão de Direitos Humanos da ONU, outras negociações estão estagnadas e os acordos não parecem ter sido implementados.