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Iêmen: “Sem mudanças, o fim está próximo”

 Lowcock disse que foram recebidos apenas 10% dos US$ 2,6 bilhões prometidos por doadores em fevereiro.
Foto ONU: Eskinder Debebe
Lowcock disse que foram recebidos apenas 10% dos US$ 2,6 bilhões prometidos por doadores em fevereiro.

Iêmen: “Sem mudanças, o fim está próximo”

Paz e segurança

Alerta foi feito ao Conselho de Segurança pelo chefe humanitário das Nações Unidas; pelo menos 200 mil casos suspeitos de cólera foram notificados no país; mais de 500 crianças foram recrutadas e usadas por grupos armados. 

A falta de acesso e de financiamento são os assuntos mais prioritários das agências de auxílio no Iêmen, que já salvaram a vida de milhões de pessoas.   

As declarações foram feitas esta segunda-feira, em Nova Iorque, pelo subsecretário-geral dos Assuntos Humanitários. Mark Lowcock participou numa sessão do Conselho de Segurança sobre o país, onde estiveram presentes altos funcionários da organização. 

Mudanças  

Durante o seu discurso, o chefe humanitário enfatizou que em território iemenita “a violência aumenta.” Segundo ele, “a operação de auxílio carece de fundos” e “sem mudanças, o fim está próximo.” 

PMA destaca ainda que é inaceitável “qualquer dano causado às reservas  de alimentos para ajuda humanitária.

Um dos exemplos das restrições à ação humanitária é o dos Moinhos do Mar Vermelho, na cidade portuária de Hodeida, onde existem cereais suficientes para alimentar 3,7 milhões de pessoas durante um mês.  

O acesso mais seguro e eficaz a esses locais, que estiveram inacessíveis desde setembro, é alvo de negociações. A meta é garantir que “milhões de pessoas em desespero possam ter alimentos o mais rápido possível”. 

Quanto ao financiamento, Lowcock disse que foram recebidos apenas 10% dos US$ 2,6 bilhões prometidos por doadores em fevereiro para apoiar a ação de agências humanitárias que enfrentam imensas necessidades no Iêmen.  

Cólera  

Em 2019, o país registou cerca de 200 mil casos suspeitos de cólera, quase o triplo em relação ao mesmo período do ano passado. Cerca de um quarto dos pacientes são crianças menores de cinco anos. 

Na sessão do Conselho, a representante especial do secretário-geral para Crianças e Conflito Armado, Virgínia Gamba, informou que mais de 3 mil crianças foram recrutadas e usadas pelas partes em conflito nos últimos cinco anos.  

Esses menores foram colocados como combatentes na linha de frente, em postos de controlo, na entrega de suprimentos e na assistência na coleta de informações no conflito do Iêmen. 

Em 2018, quase 40% dessas crianças foram utilizadas em combates ativos, sendo que metade tinham menos de 15 anos.  

Resistência  

No último ano, mais de 200 crianças foram mortas e mutiladas em ações das partes em conflito. Somente no primeiro trimestre de 2019, mais de 500 crianças foram recrutadas e usadas por estas formações. 

No Iêmen, mais de 2 milhões de crianças não estão estudando.

Dois terços delas foram recrutadas pelos combatentes houthis, seguidos pela Resistência Popular, pelas Forças Armadas do Iêmen, pelas Forças do Cinturão de Segurança e pelos salafistas. 

Gamba disse que os níveis de assassinato e mutilação de crianças são inquietantes ao destacar que, entre abril de 2013 e janeiro 2019, mais de 7,5 mil casos foram verificados pelas Nações Unidas.  

Um terço das vítimas foram meninas, no que se tornou “a violação que mais prevalece no Iêmen”. 

Diminuição  

O enviado especial da ONU para o Iémen, Martin Grifffiths, sublinhou que a guerra no Iêmen não mostra sinais de diminuição, o que significa que deve ser mantido o foco internacional em alcançar uma solução política para o conflito.  

O mediador declarou que é preciso observar progressos tangíveis em Hodeida antes de haver maior concentração na solução política.  

Ele disse que as partes aceitaram o plano detalhado sobre a redistribuição de forças numa primeira fase, e que o general Michael Lollesgaard tenta assegurar um acordo sobre os planos operacionais de acordo com o entendimento alcançado em dezembro em Estocolmo, na Suécia. 

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