Iêmen: “Sem mudanças, o fim está próximo”

Alerta foi feito ao Conselho de Segurança pelo chefe humanitário das Nações Unidas; pelo menos 200 mil casos suspeitos de cólera foram notificados no país; mais de 500 crianças foram recrutadas e usadas por grupos armados.
A falta de acesso e de financiamento são os assuntos mais prioritários das agências de auxílio no Iêmen, que já salvaram a vida de milhões de pessoas.
As declarações foram feitas esta segunda-feira, em Nova Iorque, pelo subsecretário-geral dos Assuntos Humanitários. Mark Lowcock participou numa sessão do Conselho de Segurança sobre o país, onde estiveram presentes altos funcionários da organização.
Durante o seu discurso, o chefe humanitário enfatizou que em território iemenita “a violência aumenta.” Segundo ele, “a operação de auxílio carece de fundos” e “sem mudanças, o fim está próximo.”
Um dos exemplos das restrições à ação humanitária é o dos Moinhos do Mar Vermelho, na cidade portuária de Hodeida, onde existem cereais suficientes para alimentar 3,7 milhões de pessoas durante um mês.
O acesso mais seguro e eficaz a esses locais, que estiveram inacessíveis desde setembro, é alvo de negociações. A meta é garantir que “milhões de pessoas em desespero possam ter alimentos o mais rápido possível”.
Quanto ao financiamento, Lowcock disse que foram recebidos apenas 10% dos US$ 2,6 bilhões prometidos por doadores em fevereiro para apoiar a ação de agências humanitárias que enfrentam imensas necessidades no Iêmen.
Em 2019, o país registou cerca de 200 mil casos suspeitos de cólera, quase o triplo em relação ao mesmo período do ano passado. Cerca de um quarto dos pacientes são crianças menores de cinco anos.
Na sessão do Conselho, a representante especial do secretário-geral para Crianças e Conflito Armado, Virgínia Gamba, informou que mais de 3 mil crianças foram recrutadas e usadas pelas partes em conflito nos últimos cinco anos.
Esses menores foram colocados como combatentes na linha de frente, em postos de controlo, na entrega de suprimentos e na assistência na coleta de informações no conflito do Iêmen.
Em 2018, quase 40% dessas crianças foram utilizadas em combates ativos, sendo que metade tinham menos de 15 anos.
No último ano, mais de 200 crianças foram mortas e mutiladas em ações das partes em conflito. Somente no primeiro trimestre de 2019, mais de 500 crianças foram recrutadas e usadas por estas formações.
Dois terços delas foram recrutadas pelos combatentes houthis, seguidos pela Resistência Popular, pelas Forças Armadas do Iêmen, pelas Forças do Cinturão de Segurança e pelos salafistas.
Gamba disse que os níveis de assassinato e mutilação de crianças são inquietantes ao destacar que, entre abril de 2013 e janeiro 2019, mais de 7,5 mil casos foram verificados pelas Nações Unidas.
Um terço das vítimas foram meninas, no que se tornou “a violação que mais prevalece no Iêmen”.
O enviado especial da ONU para o Iémen, Martin Grifffiths, sublinhou que a guerra no Iêmen não mostra sinais de diminuição, o que significa que deve ser mantido o foco internacional em alcançar uma solução política para o conflito.
O mediador declarou que é preciso observar progressos tangíveis em Hodeida antes de haver maior concentração na solução política.
Ele disse que as partes aceitaram o plano detalhado sobre a redistribuição de forças numa primeira fase, e que o general Michael Lollesgaard tenta assegurar um acordo sobre os planos operacionais de acordo com o entendimento alcançado em dezembro em Estocolmo, na Suécia.