Países de alto rendimento têm até três vezes maior incidência de câncer
Novo relatório da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer ou Cancro foi publicado esta sexta-feira; menos de 25% da população mundial tem acesso a cirurgias de câncer básicas e de alta qualidade.
As desigualdades sociais têm um forte impacto em todos os estágios do câncer e em todas as fases da vida, segundo um novo relatório da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer ou Cancro, Iarc.
A pesquisa da agência especializada da Organização Mundial de Saúde, OMS, resume os melhores dados científicos sobre o tema e a participação de mais de 70 cientistas internacionais.
Diferenças
Os países de alta renda têm taxas de incidência de câncer muito maiores do que a maioria dos países de renda baixa e média, devido aos fatores de risco ambientais e de estilo de vida que acompanham o desenvolvimento socioeconômico.
Na Austrália, América do Norte e Europa Ocidental, por exemplo, a taxa anual para a incidência é de cerca de 300 para cada 100 mil pessoas. Na Índia, Golfo Pérsico e África Subsaariana a taxa é cerca de um terço desse valor.
O coordenador da iniciativa, Salvatore Vaccarella, disse que o câncer “afeta todos, mas os indivíduos e grupos mais desfavorecidos são particularmente afetados.”
Mortalidade
Apesar das taxas de incidência mais baixas, as taxas de mortalidade em países de baixa e média renda são frequentemente semelhantes, ou às vezes mais elevadas. A principal causa é a falta de acesso ao diagnóstico e tratamento oportunos. A agência prevê que o aumento global dos números de câncer deve acontecer, sobretudo, em países de baixa e média renda.
Apesar de algumas variações, em quase todos os países, as taxas de mortalidade para a maioria dos tipos de câncer são desproporcionalmente maiores em indivíduos com baixa posição socioeconômica e outros grupos desfavorecidos, como populações indígenas, minorias raciais e étnicas e refugiados.
Na Colômbia, por exemplo, mulheres com baixa escolaridade têm uma taxa de mortalidade por câncer de colo do útero quase cinco vezes maior do que a de mulheres com alto nível educacional. Na Austrália, os indígenas têm uma taxa de mortalidade 30% mais elevada do que os não-indígenas.
Tipos de câncer
As diferentes formas da doença também variam de acordo a posição socioeconômica. Indivíduos e grupos desfavorecidos apresentam maior taxa de formas relacionados com o tabaco e infecções.
Fatores de risco como tabagismo, consumo de álcool, dieta pouco saudável, exposições ocupacionais e infecções são mais prevalecentes entre indivíduos com baixa posição socioeconômica e outros grupos desfavorecidos.
Um dos exemplos referidos no estudo é o do tabagismo nos Estados Unidos. Em 2014, 30% dos homens abaixo do nível de pobreza fumavam, em comparação com 18% nos homens no limiar da pobreza ou acima.
Tratamento
Também existem grandes disparidades entre os países em termos de tratamento. Menos de 25% da população mundial tem acesso a cirurgias de câncer básicas e de alta qualidade.
A pesquisa afirma que sistemas de saúde pouco desenvolvidos podem aumentar as desigualdades nesta área e recomenda que sejam aplicados os princípios da cobertura universal de saúde, que inclui proteção financeira e cobertura máxima de serviços de alta qualidade.
Prioridades
O relatório destaca três prioridades para a pesquisa nesta área: coleta de informações e acompanhamento dos progressos, mais pesquisas focadas na prevenção, e foco na igualdade.
O relatório afirma que as desigualdades do câncer têm grandes implicações econômicas e são evitáveis em grande parte, mas exigem uma ação conjunta em muitos níveis.
Em nota, a diretora do Iarc, Elisabete Weiderpass, disse que a OMS se comprometeu, em 2008, “a manter os determinantes sociais e as desigualdades sociais em saúde como pontos altos da agenda global.” Com este novo relatório, a representante diz que a agência renova esse compromisso.