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Países de alto rendimento têm até três vezes maior incidência de câncer BR

Pesquisa sobre o impacto da pandemia nos serviços de medicina nuclear mostrou tendências preocupantes.
OPS-OMS/Sebastián Oliel
Pesquisa sobre o impacto da pandemia nos serviços de medicina nuclear mostrou tendências preocupantes.

Países de alto rendimento têm até três vezes maior incidência de câncer

Saúde

Novo relatório da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer ou Cancro foi publicado esta sexta-feira; menos de 25% da população mundial tem acesso a cirurgias de câncer básicas e de alta qualidade.

As desigualdades sociais têm um forte impacto em todos os estágios do câncer e em todas as fases da vida, segundo um novo relatório da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer ou Cancro, Iarc.

A pesquisa da agência especializada da Organização Mundial de Saúde, OMS, resume os melhores dados científicos sobre o tema e a participação de mais de 70 cientistas internacionais.

Professora explica a importância da vacinação contra o câncer de colo do útero
Professora explica a importância da vacinação contra o câncer de colo do útero, by Opas

Diferenças

Os países de alta renda têm taxas de incidência de câncer muito maiores do que a maioria dos países de renda baixa e média, devido aos fatores de risco ambientais e de estilo de vida que acompanham o desenvolvimento socioeconômico.

Na Austrália, América do Norte e Europa Ocidental, por exemplo, a taxa anual para a incidência é de cerca de 300 para cada 100 mil pessoas. Na Índia, Golfo Pérsico e África Subsaariana a taxa é cerca de um terço desse valor.

O coordenador da iniciativa, Salvatore Vaccarella, disse que o câncer “afeta todos, mas os indivíduos e grupos mais desfavorecidos são particularmente afetados.”

Mortalidade

Apesar das taxas de incidência mais baixas, as taxas de mortalidade em países de baixa e média renda são frequentemente semelhantes, ou às vezes mais elevadas. A principal causa é a falta de acesso ao diagnóstico e tratamento oportunos. A agência prevê que o aumento global dos números de câncer deve acontecer, sobretudo, em países de baixa e média renda.

Apesar de algumas variações, em quase todos os países, as taxas de mortalidade para a maioria dos tipos de câncer são desproporcionalmente maiores em indivíduos com baixa posição socioeconômica e outros grupos desfavorecidos, como populações indígenas, minorias raciais e étnicas e refugiados.

Na Colômbia, por exemplo, mulheres com baixa escolaridade têm uma taxa de mortalidade por câncer de colo do útero quase cinco vezes maior do que a de mulheres com alto nível educacional. Na Austrália, os indígenas têm uma taxa de mortalidade 30% mais elevada do que os não-indígenas.

Tratamento para o combate ao câncer.
Tratamento para o combate ao câncer., by Foto: Aiea

Tipos de câncer

As diferentes formas da doença também variam de acordo a posição socioeconômica. Indivíduos e grupos desfavorecidos apresentam maior taxa de formas relacionados com o tabaco e infecções.

Fatores de risco como tabagismo, consumo de álcool, dieta pouco saudável, exposições ocupacionais e infecções são mais prevalecentes entre indivíduos com baixa posição socioeconômica e outros grupos desfavorecidos.

Um dos exemplos referidos no estudo é o do tabagismo nos Estados Unidos. Em 2014, 30% dos homens abaixo do nível de pobreza fumavam, em comparação com 18% nos homens no limiar da pobreza ou acima.

Tratamento

Também existem grandes disparidades entre os países em termos de tratamento. Menos de 25% da população mundial tem acesso a cirurgias de câncer básicas e de alta qualidade.

A pesquisa afirma que sistemas de saúde pouco desenvolvidos podem aumentar as desigualdades nesta área e recomenda que sejam aplicados os princípios da cobertura universal de saúde, que inclui proteção financeira e cobertura máxima de serviços de alta qualidade.

Prioridades

O relatório destaca três prioridades para a pesquisa nesta área: coleta de informações e acompanhamento dos progressos, mais pesquisas focadas na prevenção, e foco na igualdade.

O relatório afirma que as desigualdades do câncer têm grandes implicações econômicas e são evitáveis em grande parte, mas exigem uma ação conjunta em muitos níveis.

Em nota, a diretora do Iarc, Elisabete Weiderpass, disse que a OMS se comprometeu, em 2008, “a manter os determinantes sociais e as desigualdades sociais em saúde como pontos altos da agenda global.” Com este novo relatório, a representante diz que a agência renova esse compromisso.