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Destaque ONU News Especial - secretário de Estado da Juventude de Cabo Verde

Destaque ONU News Especial - secretário de Estado da Juventude de Cabo Verde
ONU News
Destaque ONU News Especial - secretário de Estado da Juventude de Cabo Verde

Destaque ONU News Especial - secretário de Estado da Juventude de Cabo Verde

ODS

Neste Destaque ONU News Especial, a ONU News entrevista o secretário de Estado da Juventude de Cabo Verde. Carlos Monteiro fala sobre educação, empreendedorismo e igualdade de género. Também explica como o país quer melhorar a cooperação entre os países lusófonos e como está a ajudar as vítimas do ciclone Idai em Moçambique.

Como é que se sente nesta posição e hoje a representar o seu país, aqui, neste Fórum da Juventude da ONU?

Muito obrigado pela oportunidade. Eu encaro com naturalidade. Fazer parte de um governo, um governo também relativamente jovem. Eu não sou o mais novo, até temos outro secretário de Estado que é bem mais novo do que eu. É o assumir, por parte também do chefe do governo, o nosso primeiro-ministro, que Cabo Verde tem uma juventude pujante, uma juventude já preparada para assumir responsabilidades. Vejo isso com naturalidade. Estou eu hoje, amanhã podem estar outros. E não só no governo, mas assumindo também cargos de responsabilidade em empresas públicas, institutos públicos e por aí fora.

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Que mensagem é que o país trouxe para este Fórum?

Nós viemos aqui mostrar como temos estado a tomar medidas para empoderar os jovens. A nossa intervenção, que decorreu há pouco, enfatizou isso mesmo, como temos estado a conseguir financiar projetos a nível de empreendedorismo, a nossa reforma, que é muito ambiciosa, do sistema educativo, a criação do Plano Nacional de Cuidados, tudo medidas que pensamos vão de encontro às preocupações que são hoje encaradas a nível global, empoderamento dos jovens, criando empregos, criando empregos decentes para os jovens, mas também tendo em conta a questão da inclusão social. Não deixar para trás os que têm menos recursos e também ter muito presente a questão da equidade do gênero, na criação desses empregos e dessas oportunidades.

Campanha 16 de Ativismo contra a Violência Baseada no Gênero, na cidade da Praia, em Cabo Verde.
ONU Cabo Verde.
Campanha 16 de Ativismo contra a Violência Baseada no Gênero, na cidade da Praia, em Cabo Verde.

Falamos de 65 mil jovens que, em Cabo Verde, não têm ocupação. Fala-se de escola, fala-se de trabalho, fala-se de atividade. Neste momento, como é que se olha para esta população que Cabo Verde está a atuar para que aconteça exatamente o contrário.

Como referi há pouco, podemos falar aqui de dois eixos principais. O reforço das ofertas formativas, a nível da formação profissional, nós temos um grande leque de ofertas formativas que estão sendo apresentadas em todos os municípios e também temos um fundo que foi criado para apoio à formação e ao emprego que disponibiliza, por exemplo, só neste ano 100 mil contos cabo-verdianos, estamos a falar por volta de US$ 1 milhão, para financiar o acesso à formação profissional das pessoas que não têm recursos próprios para pagar. E, com isso, vamos conseguir trazer boa parte desses jovens para formação profissional e, a partir daí, dar-lhes acesso também ao mercado de trabalho. Mas também na parte da reforma do sistema educativo. Nós introduzimos a gratuidade do ensino. Neste momento, o ensino já é gratuito até ao 8º ano, a partir de setembro de 2019 passará a ser até ao 10º e no ano letivo que começará em 2020 será gratuito até ao 12º ano. Ou seja, com isso também, vamos reforçar a formação para esses jovens que ainda estão em idade de entrarem no sistema geral e mitigar, começar a resolver, trazê-los para dentro do sistema, se podemos assim dizer, e sempre tendo em conta que no futuro possam abraçar o seu projeto de vida estando já devidamente capacitados.

Comité recomenda que as autoridades cabo-verdianas intensifiquem seus esforços para aumentar a consciência do público em geral.
ONU Cabo Verde.
Comité recomenda que as autoridades cabo-verdianas intensifiquem seus esforços para aumentar a consciência do público em geral.

Falemos agora do futuro da contribuição dos jovens para um desenvolvimento sustentável. Temos jovens sem emprego e parece que não se podem ter esta contribuição que se espera. Cabo Verde tem várias áreas por explorar: turismo, agricultura que depende das chuvas que não veem sempre que se deseja. Como se espera inovar e levar estes jovens para novos setores para faze-los ver as oportunidades que podem ter?

As novas ofertas formativas e os programas a nível do empreendedorismo também indicam bem as áreas que pretendemos privilegiar. As áreas da prestação de serviços, das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). Falou do sector da agricultura e nós temos, de facto, esse problema. Que às vezes põe alguma rear na engrenagem. Não temos o aceleramento ao desenvolvimento do país. Mas também nós estamos a trabalhar neste sentido com vários parceiros internacionais no sentido de conseguirmos resolver e de ver a questão da água no país. Nós estamos a trabalhar com os países que já deram provas a nível internacional. Por exemplo, Israel e Hungria. O primeiro-ministro esteve recentemente em Israel acompanhado do Ministro da Agricultura e estamos a tentar trazer para Cabo Verde essa inovação e essas novas tecnologias que esses países conseguiram implementar com sucesso para mitigar essa questão da falta de água. Sabemos que Israel. E é um caso de sucesso a nível mundial. Nós estamos a avançar para isso porque, como o primeiro-ministro diz, temos que chegar a um ponto em que em Cabo Verde ‘se chover tudo bem, e se não chover tudo bem’. Nós queremos engajar os jovens nessas novas áreas inovadoras, mas que devem ser encaradas com ambição. Todos os programas que criamos também têm essa base para que os jovens que pretendam investir nessas novas áreas tenham o devido acesso ao crédito. Nós facilitamos e muito o programa de acesso ao crédito com o programa startups jovens. É um programa ambicioso que normalmente tem sido bem visto quando apresentamos nos vários fóruns internacionais por onde temos passado porque um país tão pequeno como Cabo Verde conseguiu disponibilizar 6 milhões de dólares por ano para projetos de jovens empreendedores. Isso é um normalmente um número que causa algum espanto sobre como nós conseguimos, mas criando o ambiente propício para que os bancos tenham confiança e disponibilizar o seu dinheiro para projetos dos jovens com o Estado entrado como a garantia de 50% desses projetos e bonificando também os juros

Haverá algumas dessas experiências a ser partilhadas com nações de língua portuguesa? Cabo Verde está agora a presidir a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Cplp. Algum plano para a partilha destas experiencias com estas nações?

Nós acabamos agora, nos finais de março, fez-se a reunião da Comissão da Juventude da Conferência dos Ministros da Juventude da Cplp, para preparar a conferência de julho que será em Luanda. Nós apresentamos a ideia de um fundo de empreendedorismo para a Cplp. E ficamos com a incumbência, agora, de desenhar melhor o draft para ser apresentado na conferência de ministros. Pretendemos com isso duas coisas, em primeira linha, porque identificamos que realmente há a necessidade de criação de fundos que financiem jovens com projetos que tem impacto na comunidade. Para a Cplp ser mais do que só essa comunidade onde nos encontramos para a divulgação da cultura, mas torná-la mais concreta, e que os jovens criem esses lações entre si entres dos diferentes países da comunidade criem mesmo esses laços entre si. Também vemos, com muitos bons olhos, e já se formou disso informalmente, uma plataforma de conexão dos jovens da Cplp. São ideias que Cabo Verde está, neste momento, a lançar na Cplp e foi muito bem acolhida na reunião da Comissão de Juventude, segundo todas as informações que tive. Agora é avançar, dar passos firmes, para também pôr em prática isso.

Mulheres em Cabo Verde
ONU Mulheres Cabo Verde
Mulheres em Cabo Verde

Um exemplo de conexão com populações da Cplp foi esta contribuição de Cabo Verde deu para apoiar às vítimas do ciclone Idai em Moçambique. Prontamente foi algum dinheiro para o Governo de Moçambique. Sei que há campanhas mesmo em Cabo verde para estimular esta solidariedade. O que Cabo Verde pretende realmente, o que o país sente que deve fazer mais por estas vítimas?

Nós somos um povo solidário por natureza. Por isso, desde a primeira hora, foi quase que automático a disponibilização de verbas por parte do Governo. Mas o mais importante, se me é permitida essa qualificação, mais importante do que a própria disponibilidade do governo é o que eu vejo todos os dias a acontecer. Ainda ontem através das redes sociais pude ver que se está a preparar um torneio solidário para este fim de semana de futebol feminino para angariar também fundos para ajudar os nossos irmãos em Moçambique. Ou seja, o povo cabo-verdiano é solidário por natureza e teve esse impulso logo de imediato para ajudar essas vítimas. É óbvio que isso é uma primeira fase e Moçambique vai precisar de muito mais do que isso porque o que aconteceu, infelizmente, ainda terá repercussão por muitos anos na parte agora da reconstrução e nós vamos estar ainda para fazer o que podermos, para incentivarmos para criar campanhas não só em Cabo Verde mas também a nível da nossa comunidade dos países de língua portuguesa, Cplp, para de certa forma minorar e mitigar aquilo que são os estragos sobretudo humanos que aconteceram em Moçambique.

Para terminar, veio falar de jovens de Cabo Verde um país que tem uma diáspora muito grande. Há mais população cabo-verdiana fora do que dentro do arquipélago. Como espera envolver esta juventude no desenvolvimento de Cabo Verde.

O que lhe posso dizer é que nós temos uma grande preocupação de reforçar os laços, o sentimento de pertença da nossa diáspora, sobretudo da nossa diáspora jovem, porque são pessoas de segunda e terceira geração, que se calhar têm uma ligação menos forte do que os pais e avós têm com Cabo Verde. E precisamos de encontrar os mecanismos certos para incentivar esse sentimento que nós sabemos que eles têm e reforça-lo. Temos estado a tentar conectar-nos com os jovens nos diferentes espaços da diáspora, sobretudo aqui nos Estados Unidos e na Europa, onde temos as nossas maiores comunidades. É criar programas que os incentivem a participar no desenvolvimento de Cabo Verde. É também vir aqui mostrar-lhes o que está a acontecer efetivamente em Cabo Verde, porque nós temos a noção de que temos uma comunidade jovem muito ambiciosa, muito participativa nos países de integração e nós queremos fazer com que esse sucesso que eles têm nos diferentes países seja transportado para o desenvolvimento de Cabo Verde. Nós sabemos que eles querem fazer isso, só temos de criar o caminho certo e o instrumento certo para que possam participar.

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