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100 anos de OIT: ONU alerta sobre falta de preparação para o futuro do trabalho

Cerca de 3 bilhões de mulheres e meninas vivem em países onde o estupro dentro do casamento não é criminalizado de forma explicita.
Pnud Sudão do Sul
Cerca de 3 bilhões de mulheres e meninas vivem em países onde o estupro dentro do casamento não é criminalizado de forma explicita.

100 anos de OIT: ONU alerta sobre falta de preparação para o futuro do trabalho

Desenvolvimento econômico

Assembleia Geral marcou centenário da Organização Internacional do Trabalho; secretário-geral aponta período de profunda transformação tecnológica, que exige investimento em educação e uma nova geração de apoio e proteção no mundo.

O secretário-geral afirmou esta quarta-feira que os países ainda não estão preparados para o futuro do trabalho. António Guterres falou em uma cerimônia da Assembleia Geral que marcou o centenário da Organização Internacional do Trabalho, OIT.

Guterres elogiou o diretor-geral da agência, Guy Ryder, por destacar o tema “Futuro do Trabalho” durante o 100º aniversário da OIT.

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Incerteza

Para o chefe da ONU, o mundo vive “um período de profunda incerteza, perturbação e transformação tecnológica.”

Ele acredita que “inovações como a inteligência artificial ajudarão as economias e o progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Ao mesmo tempo, os países enfrentarão “uma tremenda ruptura no mercado de trabalho, com uma enorme quantidade de empregos criados e destruídos.”

Guterres afirmou que “até mesmo o conceito de trabalho mudará, e a relação entre trabalho, lazer e outras ocupações.”

Preparação

Afirmando a falta de preparação para essas mudanças, o secretário-geral disse que é necessário “um investimento massivo em educação, mas também um tipo diferente de educação, não apenas aprendendo coisas, mas aprendendo a aprender.”

Para o chefe da ONU, também é necessário criar “uma geração de apoio e proteção social para as pessoas” e “mobilizar governos e todos os atores como nunca antes.”

Guterres explicou que, como a economia digital opera em um mundo sem fronteiras, “mais do que nunca as instituições internacionais devem desempenhar um papel vital na definição do futuro do trabalho.”

António Guterres disse que as Nações Unidas continuarão apoiando os esforços contínuos de resgate e socorro.
Guterres chamou a atenção para os desafios da quarta revolução industrial sobre os jovens., by ONU/Jean Marc Ferré

História

Lembrando a história da OIT, formada logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, Guterres disse que a agência continua sendo “uma fonte de força e legitimidade.”

O secretário-geral afirmou que, em épocas de conflito e paz, democracia e ditadura, descolonização e Guerra Fria, a OIT teve sempre “um papel central na luta por progresso social.”

Para o chefe da ONU, a agência foi um espaço para encontrar soluções partilhadas através do diálogo e que, em anos mais recentes, “tem defendido a necessidade de construir uma globalização justa que amplie as oportunidades, reduza as desigualdades e responda às demandas das pessoas pela oportunidade de trabalho decente.”

Guterres também afirmou que a organização “tem sido uma voz de confiança para expandir as oportunidades para os jovens, abrir portas e quebrar tetos de vidro para as mulheres e garantir a justiça social em todos os cantos do mundo.”

Representantes

A presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, também discursou no encontro. A representante reiterou que “o trabalho decente é uma das prioridades” da sua presidência por ser uma área essencial para tornar as Nações Unidas mais relevantes para todos.

Segundo Espinosa, esta “é uma forma de demonstrar o impacto tangível, de todos os dias do trabalho” da organização.

Futuro

O diretor-geral da OIT, Guy Ryder, disse que o centenário “é um momento para refletir sobre o propósito” da OIT e “sobre o rumo para o futuro.”

Diretor-geral da OIT, Guy Ryder
Diretor-geral da OIT, Guy Ryder, by OIT/Crozet/Pouteau

Ryder afirmou que “o mundo do trabalho passa por uma mudança transformadora sem precedentes”, que “traz oportunidades para muitos e para outros gera um sentimento profundo de instabilidade, ansiedade e até medo.”

O representante disse que as organizações do sistema multilateral trabalham em um “contexto de grande incerteza e desilusão generalizada sobre as perspectivas de progresso social e econômico sustentável” e que “os próprios princípios do multilateralismo são questionados.”

O chefe da OIT lembrou que a agência publicou um relatório em janeiro, com o tema “Futuro do Trabalho”, que estabelece 10 recomendações para resolver estes desafios.

Rider concluiu apontando que o futuro “não será ditado pelo desenvolvimento tecnológico, mas sim pelas escolhas que faremos sobre o futuro.”