100 anos de OIT: ONU alerta sobre falta de preparação para o futuro do trabalho

Assembleia Geral marcou centenário da Organização Internacional do Trabalho; secretário-geral aponta período de profunda transformação tecnológica, que exige investimento em educação e uma nova geração de apoio e proteção no mundo.
O secretário-geral afirmou esta quarta-feira que os países ainda não estão preparados para o futuro do trabalho. António Guterres falou em uma cerimônia da Assembleia Geral que marcou o centenário da Organização Internacional do Trabalho, OIT.
Guterres elogiou o diretor-geral da agência, Guy Ryder, por destacar o tema “Futuro do Trabalho” durante o 100º aniversário da OIT.
Persisten los desafíos por alcanzar un trabajo decente para todos, sin distinción de sexo ni edades. Desde la @ONU_es debemos asegurarnos de que el sueño de un trabajo decente se vuelva una realidad. #ILO100 #myFutureofWork @ilo pic.twitter.com/hu4ZAbtyfv
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Para o chefe da ONU, o mundo vive “um período de profunda incerteza, perturbação e transformação tecnológica.”
Ele acredita que “inovações como a inteligência artificial ajudarão as economias e o progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Ao mesmo tempo, os países enfrentarão “uma tremenda ruptura no mercado de trabalho, com uma enorme quantidade de empregos criados e destruídos.”
Guterres afirmou que “até mesmo o conceito de trabalho mudará, e a relação entre trabalho, lazer e outras ocupações.”
Afirmando a falta de preparação para essas mudanças, o secretário-geral disse que é necessário “um investimento massivo em educação, mas também um tipo diferente de educação, não apenas aprendendo coisas, mas aprendendo a aprender.”
Para o chefe da ONU, também é necessário criar “uma geração de apoio e proteção social para as pessoas” e “mobilizar governos e todos os atores como nunca antes.”
Guterres explicou que, como a economia digital opera em um mundo sem fronteiras, “mais do que nunca as instituições internacionais devem desempenhar um papel vital na definição do futuro do trabalho.”
Lembrando a história da OIT, formada logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, Guterres disse que a agência continua sendo “uma fonte de força e legitimidade.”
O secretário-geral afirmou que, em épocas de conflito e paz, democracia e ditadura, descolonização e Guerra Fria, a OIT teve sempre “um papel central na luta por progresso social.”
Para o chefe da ONU, a agência foi um espaço para encontrar soluções partilhadas através do diálogo e que, em anos mais recentes, “tem defendido a necessidade de construir uma globalização justa que amplie as oportunidades, reduza as desigualdades e responda às demandas das pessoas pela oportunidade de trabalho decente.”
Guterres também afirmou que a organização “tem sido uma voz de confiança para expandir as oportunidades para os jovens, abrir portas e quebrar tetos de vidro para as mulheres e garantir a justiça social em todos os cantos do mundo.”
A presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, também discursou no encontro. A representante reiterou que “o trabalho decente é uma das prioridades” da sua presidência por ser uma área essencial para tornar as Nações Unidas mais relevantes para todos.
Segundo Espinosa, esta “é uma forma de demonstrar o impacto tangível, de todos os dias do trabalho” da organização.
O diretor-geral da OIT, Guy Ryder, disse que o centenário “é um momento para refletir sobre o propósito” da OIT e “sobre o rumo para o futuro.”
Ryder afirmou que “o mundo do trabalho passa por uma mudança transformadora sem precedentes”, que “traz oportunidades para muitos e para outros gera um sentimento profundo de instabilidade, ansiedade e até medo.”
O representante disse que as organizações do sistema multilateral trabalham em um “contexto de grande incerteza e desilusão generalizada sobre as perspectivas de progresso social e econômico sustentável” e que “os próprios princípios do multilateralismo são questionados.”
O chefe da OIT lembrou que a agência publicou um relatório em janeiro, com o tema “Futuro do Trabalho”, que estabelece 10 recomendações para resolver estes desafios.
Rider concluiu apontando que o futuro “não será ditado pelo desenvolvimento tecnológico, mas sim pelas escolhas que faremos sobre o futuro.”