ONU “profundamente preocupada” com ataques a civis no Mianmar

Escalada de violência entre grupos armados provoca mortes, sequestros e prisões arbitrárias; escritório de Direitos Humanos apela ao fim das hostilidades; Acnur trabalha para apoiar refugiados durante a estação das monções
O Escritório de Direitos Humanos da ONU está “profundamente preocupado” com a intensificação do conflito no Estado de Rakhine, no Mianmar, nas últimas semanas.
Em nota, emitida esta sexta-feira, condena alegados “ataques indiscriminados” dirigidos a civis. O escritório aponta que os ataques acontecem no contexto de confrontos em curso entre o exército étnico Rakhine Arakan e combatentes militares do Mianmar.
Falando a jornalistas, em Genebra, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, informou que o conflito entre o grupo militar Tatmadaw e o Exército de Arakan “deu origem a relatos credíveis” sobre assassinatos de civis, destruição de casas, prisões arbitrárias, sequestros, incêndios indiscriminados e danos a propriedades culturais.
Os combates atingiram civis de várias etnias nos estados de Rakhine e Chin, incluindo Rakhine, Rohingya, Chin, Mro e Daignet.
De acordo com informações recebidas pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU, as lutas intensificaram-se em vários distritos do estado de Rakhine nas últimas semanas, levando ao deslocamento de mais de 20 mil civis.
Segundo a responsável, na mais recente escalada, a 3 de abril, dois helicópteros militares sobrevoaram uma aldeia no distrito de Buthidaung e dispararam sobre civis que cuidavam de vacas e de campos de arroz, matando pelo menos sete pessoas e ferindo outras 18. Este ataque aconteceu numa área onde se verificou o deslocamento em grande escala de civis rohingya nos últimos dias.
As informações recebidas pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU apontam que cerca de 4 mil rohingya foram deslocados entre 25 e 30 de março das aldeias ao longo da estrada que liga as cidades de Buthidaung e Rathedaung.
A porta-voz apelou às partes que cessem imediatamente as hostilidades e garantam que os civis sejam protegidos e pediu que “o acesso humanitário a todas as áreas do norte de Rakhine seja urgentemente retomado, incluindo as áreas afetadas pelos recentes confrontos.”
Numa altura em que se avizinha a estação das monções no sudeste asiático, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, Acnur, trabalha com os refugiados rohingya no Bangladesh para melhorar as infraestruturas no campo de refugiados de Kutupalong.
Segundo o porta-voz do Acnur, Andrej Mahecic, as primeiras chuvas de 2019 são esperadas em poucas semanas.
A temporada de monções do ano passado “foi um grande teste” para as agências humanitárias, trabalhando em apoio ao governo de Bangladesh.
Mais de 740 mil refugiados que fugiram do Mianmar tiveram de lidar com a época chuvosa.
Segundo o responsável, muitas famílias construíram abrigos em zonas de perigo, “muitas vezes em encostas íngremes ou áreas propensas a inundações repentinas de chuvas fortes, pondo a sua segurança em risco.”
Este ano, foram implementados projetos de estabilização do terreno e infraestruturas mais resilientes nos últimos meses, incluindo sistemas de drenagem, pontes, estradas e abrigos modernizados.
Segundo o Acnur, os trabalhos estão em andamento para reforçar as infraestruturas essenciais bem como uma avaliação das áreas de risco, para que seja possível definir planos de mitigação e protocolos de resposta para reduzir o impacto de ventos e chuvas.