Um quarto das unidades de saúde carece de serviços básicos de água em todo o mundo

Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,
Unicef/UMichele Sibiloni
Na República Democrática do Congo, a epidemia de sarampo afeta todas as 26 províncias do país e foram registradas mais de 5 mil mortes,

Um quarto das unidades de saúde carece de serviços básicos de água em todo o mundo

Assuntos da ONU

Agências da ONU publicaram novo relatório sobre acesso à água e saneamento básico nesses estabelecimentos; apenas 55% de centros nos países menos desenvolvidos têm serviços básicos de água. 

Uma em cada quatro unidades de saúde em todo o mundo carece de serviços básicos de água.

A situação tem impacto sobre mais de 2 bilhões de pessoas, segundo um novo relatório da Organização Mundial de Saúde, OMS, e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

Avaliação

Hospital Al Rantisi, em Gaza. Possíveis vítimas dessa situação incluem recém-nascidos e crianças que dependem de incubadoras.
Hospital Al Rantisi, em Gaza. Possíveis vítimas dessa situação incluem recém-nascidos e crianças que dependem de incubadoras., by Ocha

Esta é a primeira avaliação global abrangente de água, saneamento e higiene em unidades de saúde.

Em nota, o secretário-geral da ONU disse que “os serviços de água, saneamento e higiene nas unidades de saúde são os requisitos mais básicos de prevenção e controle de infeções e de atendimento de qualidade.” Para António Guterres, estas condições “são fundamentais para respeitar a dignidade e os direitos humanos de todas as pessoas que procuram cuidados de saúde e dos próprios profissionais de saúde.”

O chefe da ONU pediu a todas as pessoas com responsabilidade nestas áreas que apoiem iniciativas para mudar estes números, dizendo que “isso é essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”

Informações

Segundo a pesquisa, uma em cada cinco unidades de saúde não possui serviços de saneamento, tendo consequências para o 1,5 bilhão de pessoas que usam estes recursos.

O relatório revela ainda que muitos centros de saúde não dispõem de instalações básicas para higiene das mãos e formas de eliminar, de forma segura, resíduos de cuidados de saúde.

Apenas 55% dos estabelecimentos de saúde nos países menos desenvolvidos têm serviços básicos de água.

Segundo as duas agências, estes serviços são cruciais para prevenir infecções, reduzir a disseminação da resistência antimicrobiana e fornecer cuidados de qualidade, particularmente para o parto seguro.

Crianças aprendem a lavar corretamente as mãos para evitar a propagação do covid-19.
Crianças aprendem a lavar corretamente as mãos para evitar a propagação do ébola perto da área congolesa de Mangina., by Unicef/Mark Naftalin.

Partos

Estima-se que um em cada cinco nascimentos ocorra globalmente nos países menos desenvolvidos e que, todos os anos, 17 milhões de mulheres tenham os seus partos em centros de saúde com água, saneamento e higiene inadequados.

A diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, afirmou que “quando um bebê nasce em um estabelecimento de saúde sem água, saneamento e higiene adequados, o risco de infecção e morte para a mãe e o bebê é alto.”

A representante lembrou que “todo o parto deve ser apoiado por um par de mãos seguras, lavado com água e sabão, usando equipamentos estéreis, em um ambiente limpo.”

De acordo com a agência, 7 mil recém-nascidos morreram todos os dias em 2017, principalmente de condições evitáveis ​​e tratáveis, incluindo infeções como sepse.

Vítimas

Em um segundo relatório, as agências informam que mais de 1 milhão de mortes todos os anos estão relacionadas a nascimentos impuros. As infecções respondem por 26% das mortes neonatais e 11% da mortalidade materna.

Em nota, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, pediu que as pessoas imaginassem dar à luz ou levar os filhos doentes a um centro de saúde sem água potável, banheiros ou instalações para lavar as mãos. Segundo ele, “essa é a realidade de milhões de pessoas todos os dias.”

Henrietta Fore esteve na Beira, Moçambique, onde conheceu vítimas do ciclone Idai
Henrietta Fore esteve na Beira, Moçambique, onde conheceu vítimas do ciclone Idai, by Unicef/UN0291728/Prinsloo

O chefe da OMS afirmou que “ninguém deveria ter que fazer isso” e que “nenhum profissional de saúde deveria prestar cuidados nessas circunstâncias.”

Ghebreyesus disse ainda que “garantir que todos os estabelecimentos de saúde tenham serviços básicos de água, saneamento e higiene é essencial para alcançar um mundo mais saudável, mais seguro e mais justo.”

Encontros e campanhas

Na Assembleia Mundial da Saúde de 2019, que acontece em maio, os Estados-membros irão debater uma resolução sobre Água, Saneamento e Higiene nas Instalações de Saúde. O documento foi unanimemente aprovado pelo Conselho Executivo da OMS no início deste ano.

O relatório publicado esta terça-feira também inclui oito ações que os governos podem adotar para melhorar estes serviços, incluindo o estabelecimento de planos e metas nacionais, melhoria da infraestrutura e manutenção e envolvimento das comunidades.

Como parte da campanha Every Child Alive, ou Todas as Crianças Vivas, em português, o Unicef está pedindo aos governos e autoridades que garantam que todas as mães e bebês tenham acesso a cuidados de qualidade e acessíveis.

No ano passado, os chefes do Unicef e da OMS pediram aos países que fortaleçam os seus sistemas de cuidados primários para alcançar a cobertura universal de saúde.