Guterres alerta para disseminação de discurso de ódio
Secretário-geral apontou crescimento do sentimento antimuçulmano, do antissemitismo, do racismo e da xenofobia; discurso em mesquita no Egito lembrou Islão como uma fé de amor, compaixão e perdão; Guterres apela a “compreensão mútua.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou esta terça-feira, para a disseminação do discurso de ódio, que na sua opinião prolifera “como um incêndio através das redes sociais e da rádio”.
Em discurso na mesquita Al Azhar, no Cairo, Egito, o chefe da ONU, assumindo-se como homem de fé, começou por expressar o seu respeito pelo Islão e “solidariedade para com os seus seguidores nestes tempos turbulentos.”
Discurso de Ódio
O chefe da ONU considera que se assiste a um crescente ódio antimuçulmano e à proliferação do antissemitismo, do racismo e da xenofobia.
O secretário-geral sublinha que essas “forças obscuras ameaçam os valores democráticos, a estabilidade social e a paz”, lembrando que “eles estigmatizam mulheres, minorias, migrantes e refugiados.”
Para o líder da ONU toda a sociedade é diminuída “quando as pessoas são atacadas, fisicamente, verbalmente ou nas redes sociais, por causa de sua raça, religião ou etnia.
Solidariedade
Referindo-se ao ataque terrorista que tirou a vida a 50 pessoas em duas mesquitas na Nova Zelândia, há duas semanas, Guterres apontou vários exemplos de solidariedade entre pessoas e comunidades de diferentes expressões de fé.
O representante sublinhou que “o Islão é uma fé de amor, compaixão, perdão, misericórdia e graça”, tal como, segundo ele, se pode constatar “com muitos países muçulmanos a abrirem as fronteiras para as pessoas em perigo.”
Guterres exemplifica como este espírito está espelhado no livro sagrado citando a Surata Al-Tawbah do Corão, Surah 9, versículo 6: "e se alguém procurar a sua proteção, então conceda-lhe proteção para que eu possa ouvir as palavras de Allah. Então, escolte-o onde ele possa estar seguro."
Contributo
Guterres apelou à união e à proteção entre todos em “tempos de dificuldades e divisão.”
Para ele, todos têm um papel a desempenhar “no fim da polarização”, referindo a importância dos líderes religiosos, em particular, como tendo “um papel muito importante.”
Por isso, considera “tão animador” que o Grande Imam de al-Azhar, o xeque Ahmed al-Tayeb e o Papa Francisco tenham dado as mãos, em fevereiro, uma clara “demonstração de fraternidade inter-religiosa.”
Terrorismo
Guterres terminou o seu discurso dizendo que “nada justifica o terrorismo e torna-se particularmente medonho quando a religião é invocada.”
O secretário-geral apelou à “compreensão mútua” para que seja possível viver num mundo de paz, lembrando que é necessário “combater e rejeitar figuras religiosas e políticas que exploram as diferenças.”