Guterres alerta para “impacto dramático” de eventos climáticos
Em 2018, 14 episódios climáticos provocaram estragos de US$ 1 bilhão; presidente da Assembleia Geral da ONU considera que “é urgente agir”; encontro de alto nível discute mudança climática e desenvolvimento sustentável.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para os “aumentos recordes” das temperaturas, do nível das águas do mar e das concentrações de gases de efeito estufa.
Em discurso, o chefe da ONU reiterou que se está a assistir, cada vez mais, “ao impacto dramático das condições climáticas extremas.”
Durante a abertura do Encontro de Alto Nível sobre o Clima e o Desenvolvimento Sustentável, promovido pela presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, Guterres destacou que, no ano passado, 14 eventos climáticos provocaram mais de US$ 1 bilhão de estragos.
Dando o exemplo do ciclone Idai, que afetou o sul do continente africano, Guterres lembrou que mais de 35 milhões de pessoas foram vítimas de inundações.
Saúde pública

Foto ONU/ Manuel Elias
Referindo-se às principais conclusões do mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial, OMM, o secretário-geral enfatizou ainda “que os impactos na saúde pública estão a aumentar.”
Segundo ele, o número médio de pessoas expostas a ondas de calor “aumentou em cerca de 125 milhões” desde o início do século, com “consequências mortais.”
Guterres lembra que a combinação de calor extremo com poluição do ar “revela-se cada vez mais perigosa”, especialmente com “ondas de calor mais longas, mais intensas e mais frequentes.”
Alterações climáticas
O líder da ONU reafirma que as mudanças climáticas estão a avançar mais depressa do que os esforços que têm sido feitos para as travar, por isso, convocou uma cimeira intergovernamental sobre o clima que terá lugar em setembro, na sede da Organização, em Nova Iorque.
Guterres considera ser “imperativo” que se enfrentem estes problemas “com maior ambição” apelando aos líderes que “não venham com um discurso”, mas antes “com um plano.”
Ação

Foto ONU/ Manuel Elias
Uma mensagem reiterada pela presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, anfitriã do evento, que enfatizou “o quão urgente é a necessidade de agir.” Recordando as consequências do ciclone Idai, Espinosa alerta que “2019 deve ser o ano da ação climática, em todos os níveis e com todos os atores.”
A responsável considera que são necessárias “mudanças ao nível individual”, como alterações dos “padrões de consumo”, lembrando, por exemplo, que “1,3 milhão de toneladas de alimentos são desperdiçados a cada ano, enquanto quase 2 bilhões de pessoas sofrem de fome ou desnutrição.”
Espinosa sublinhou também “a profunda relação entre o Acordo de Paris e a Agenda 2030”, insistindo na ideia de que “cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável significa cumprir as metas climáticas” o que contribuirá para limitar o aquecimento global a 1,5 ° C, evitando “impactos catastróficos na economia, no meio ambiente e na subsistência de milhões de pessoas.”
Relatório OMM
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, destaca que “a ciência climática alcançou um grau de robustez sem precedentes, fornecendo dados oficiais de aumento de temperatura global e características associadas, como a aceleração do aumento do nível do mar, recuo dos glaciares e eventos extremos como ondas de calor."
Para o responsável, estes indicadores-chave de mudança climática são cada vez mais evidentes, com o aumento dos níveis de dióxido de carbono.
Referindo-se também ao ciclone Idai, o responsável lembra que este atingiu a cidade de Beira, “uma cidade baixa e de rápido crescimento numa costa vulnerável a tempestades e já enfrentando as consequências da subida do nível do mar.” Por isso, considera que “as vítimas do ciclone recordam porque é necessária uma agenda global sobre desenvolvimento sustentável, a adaptação às mudanças climáticas e a redução do risco de desastres.”
O relatório da OMM dá conta de que o início deste ano registou temperaturas recordes de inverno na Europa, frio incomum na América do Norte e ondas de calor na Austrália. A extensão do gelo no Ártico e na Antártida está novamente abaixo da média.