ONU alerta para novo aumento de mortes no Iêmen
Desde o início do ano e até 17 de março, quase 109 mil casos de diarreia aguda e suspeita de cólera foram registrados; Iêmen teve o maior surto mundial destes problemas em 2017; conflito no país começou há quatro anos.
Dois anos desde o maior foco de diarreia e cólera no mundo, a situação piorou novamente no Iêmen e o número de mortes continua a aumentar.
O alerta é do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e da Organização Mundial de Saúde, OMS.
Dificuldades
Desde o início do ano e até 17 de março, quase 109 mil casos de diarreia aguda e suspeita de cólera foram registrados. Pelo menos 190 pessoas morreram. Quase um terço dos casos são crianças com menos de 5 anos de idade.
Em 2017, o país teve o maior surto mundial deste problema, quando mais de 1 milhão de casos foram registrados.
Em nota conjunta, o diretor regional do Unicef para o Oriente Médio e Norte de África, Geert Cappelaere, e o diretor regional da OMS para o Mediterrâneo Ocidental, Ahmed Al Mandhari, avisaram que o problema pode piorar.
Os especialistas temem “que o número de casos suspeitos de cólera continue a aumentar, com a chegada precoce da estação chuvosa, e que os serviços básicos, incluindo sistemas e redes de água entrem em colapso.”
A situação é prejudicada pelo estado precário dos sistemas de esgoto, o uso de água contaminada para a agricultura, o uso de eletricidade instável para armazenar alimentos e o deslocamento de famílias que fogem da violência.
Resposta
Os representantes dizem que os funcionários no país “estão trabalhando dia e noite com uma ampla rede de parceiros locais para responder e interromper a disseminação e transmissão das doenças.”
As duas agências concentram-se em 147 distritos considerados prioritários, distribuindo materiais de saúde, água, higiene e saneamento. Grupos de resposta rápida foram implantados e um total de 413 centros de tratamento de diarreia e centros de reidratação oral estão operacionais em todos os 147 distritos.
Parceiros da ONU estão consertando sistemas de água e saneamento. Nas últimas semanas, atividades para desinfetar água foram estendidas a 95 distritos prioritários. Combustível e peças de reposição para manter as redes de abastecimento de água e saneamento foram distribuídos.
Campanha
Nas últimas semanas, uma campanha oral de vacinação contra a cólera atingiu mais de 400 mil pessoas em vários distritos. Enquanto isso, ações para aumentar a consciência das pessoas chegaram a 600 mil pessoas desde o início de 2019.
Os representantes do Unicef e da OMS dizem que estão “fazendo todo o possível para evitar o cenário de 2017”, mas destacam alguns desafios, como a intensificação dos combates, restrições de acesso e obstáculos burocráticos.
As duas agências fazem um apelo para “levantar todas as restrições sobre as operações humanitárias para responder à propagação da doença a outras áreas.” Os trabalhadores humanitários devem ter acesso total a todas as crianças, mulheres e todos os necessitados de assistência médica e humanitária.
Acima de tudo, dizem os representantes, “é hora de esta guerra de quatro anos terminar.”
Se isso não acontecer, eles avisam que “o Iêmen continuará preso em uma rede de doenças, malícia e desastres humanitários sem fim, com os mais vulneráveis pagando o preço mais alto.”
Esperança
Esta quarta-feira, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e das Sociedades do Crescente Vermelho, Ifrc, também falou sobre os quatro anos do conflito.
A Federação diz que, apenas alguns meses depois de acordos que deram esperança a uma nação cansada da guerra, “a renovação das hostilidades está forçando novamente as pessoas em movimento e levando o país de mal a pior.”
Em nota, a organização diz que “as esperanças de que a violência, o deslocamento, a doença e a fome começassem a diminuir depois de anos de miséria no Iêmen estão sendo esmagadas por uma renovação do conflito.
A chefe da delegação no Iêmen, Franz Rauchenstein, afirmou que, “apesar de um vislumbre de esperança há alguns meses, para milhões de iemenitas a vida se tornou insuportável.” Para ela, “a luta renovada só serve para exacerbar uma situação já catastrófica.”