ESPECIAL: Reverter danos causados pelos seres humanos na natureza é “para ontem”, diz ator Mateus Solano BR

Defensor da campanha Mares Limpos do Programa da ONU para o Meio Ambiente ilustra seriedade do tema; iniciativa do Pnuma é apoiada por 60 países; iniciativa é uma das mais bem-sucedidas da história da agência; em evento das Nações Unidas, 200 países prometeram reduzir uso de plásticos até 2030.
A cada minuto no mundo um milhão de garrafas plásticas são compradas. Em um ano, são utilizadas 500 milhões de sacolas plásticas e 8 milhões de toneladas do material chegam aos oceanos, ameaçando a vida marinha.
Reverter esse dano que o ser humano vem causando à natureza é para ontem, segundo o ator brasileiro Mateus Solano, que falou à ONU News do Rio de Janeiro.
Desde 2018, ele é um defensor da #MaresLimpos, uma campanha promovida pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma. Acostumado a contar histórias, ele usa uma para ilustrar a seriedade do assunto.
“Os netos, hoje, dos alemães, se viram e falam para o vovô: vovô como é que vocês deixaram isso acontecer, como é que vocês deixaram uma coisa como o nazismo e viram os judeus, e ciganos, enfim, sendo levados, como é que vocês não fizeram nada, e imagino que um avô deve olhar com vergonha e pensar, meu deus, como é que eu não fiz nada e como é que eu fui conivente com isso. Eu acho que os nossos netos terão a mesma pergunta para fazer para a gente se a gente continuar agindo do jeito que a gente age. Vovô, porque é que vocês deixaram isso acontecer, porque é que vocês usaram o canudo e jogaram fora, porque vocês não mudaram essa forma de agir, de ser e de estar nesse mundo, olha só como é que estamos agora.”
A necessidade de proteger os oceanos e frágeis ecossistemas foi um dos principais focos da Assembleia Geral das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que aconteceu até sexta-feira em Nairóbi, no Quênia. Os cinco dias de discussões encerraram com uma declaração onde mais de 200 países se comprometeram a reduzir o uso de plásticos até 2030.
40kg de #plástico é a causa da morte dessa baleia encontrada nas Filipinas. Desidratação e inanição são as consequências dos 40kg de plástico ingeridos por ela. São, basicamente, sacos e sacolas plásticas - daquelas, de supermercado.
— ONU Meio Ambiente (@ONUMeioAmbiente) March 19, 2019
Recuse sacolas plásticas. #MaresLimpos pic.twitter.com/S1x8YxWjLG
Durante a cúpula, os países Antígua e Barbuda, Paraguai e Trinidad e Tobago também se uniram à campanha #MaresLimpos. Agora, a iniciativa conta com o apoio de 60 países, envolvidos na maior aliança mundial de combate à poluição plástica no mar, incluindo 20 da América Latina e do Caribe.
A coordenadora da Mares Limpos no Brasil, Fernanda Daltro, explicou à ONU News, de Brasília, que a campanha, que já completou dois anos, é uma das mais bem-sucedidas da história da agência.
“O que é muito interessante, é que enquanto a Unea é um momento em que países, os países-membros da ONU se encontram para discutir em um nível muito mais amplo, um encontro de alto nível, etc. Aqui em baixo, na população, nas pessoas, no dia a dia, há uma receptividade muito grande por essa temática, e com a preocupação a respeito da saúde dos oceanos. Então, o dia a dia das pessoas é cada vez mais buscando uma redução da sua geração de lixo plástico. As pessoas estão interessadas em alternativas, estão interessadas em reduzir sua própria contribuição para o problema. Agora, isso precisa começar a se refletir na postura dos governos nos momentos das discussões.”
Para o Pnuma, as empresas também têm um papel a desempenhar, particularmente na liderança de movimentos rumo a uma economia circular, que recuse o modelo “extrair- transformar-descartar”. O crescente clamor público por práticas mais sustentáveis não pode mais ser ignorado e a lógica econômica para justificar a inação está sendo vista cada vez mais como falsa.
De acordo com a agência, a Mares Limpos no Brasil atingiu mais de 200 mil pessoas através de atividades online e mobilizou cerca de 20 mil pessoas na #CleanSeasWeek, ou Semana de Oceanos Limpos, iniciativa que promoveu a limpeza de praias no país.
Ao todo, 13 cidades no Brasil assinaram compromissos com a campanha e irão elaborar Planos Municipais de Combate ao Lixo no Mar.
Para Daltro, um dos grandes benefícios da campanha foi o de “trazer à tona essa temática e de amplificar as vozes que já falavam sobre esse problema da poluição plástica dos oceanos”, trazendo uma maior visibilidade para os defensores dos oceanos, como o Mateus Solano.
“A Mares Limpos apareceu para mim, na verdade, porque de um tempo para cá, de uns dois, três anos para cá, eu escolhi, digamos assim, usar a minha formação de opinião, o carinho que as pessoas têm por mim, pelo meu trabalho, para divulgar essa luta ambiental. Desde muito pequeno eu sou ligado à natureza e tenho a noção de ser filho da natureza e não dono dela, e de que natureza é algo muito maior e que não precisa de forma alguma do ser humano, muito pelo contrário, nós é que precisamos dela. Por tanto, é com muita alegria que eu me tornei defensor da Mares Limpos.”
Solano destaca a urgência de se mudar os padrões de consumo e de produção e que é “urgente parar de agredir da forma tão avassaladora e rápida que o ser humano tem destruído, e os mares são o berço da vida, e muito mais do que isso, se não fosse pelos mares nós não estaríamos aqui.”
Ele conta que além de ajudar na divulgação da causa, também foca nas ações do dia a dia, e que a população em geral precisa “mudar suas atitudes neste sentido, usar menos água, desligar a luz e tantas outras pequenas coisas.” Para Solano, a crianças também são fundamentais nesse processo.
“Eu acho que as crianças são uma ferramenta poderosa. Não só porque o planeta vai ficar com eles, mas também porque eles nos lembram o tempo todo de como cada dia é um dia novo, e um dia novo para a gente mudar também. Eu acho que as crianças devem sempre ser incluídas, não só para sensibilizar as pessoas porque são elas que vão herdar o mundo que nós deixamos, mas também, para elas agirem também, lembrarem os pais.”
Neste vídeo preparado para marcar o Dia dos Namorados de 2018, O Programa da ONU para o Meio Ambiente pediu para que todos acabassem com uma relação de longa data prejudicial para o planeta - com o plástico descartável.
Daltro lembra que a produção do plástico vem crescendo e que é muito provável que duplique ou triplique nas próximas décadas. Por isso, é essencial que se construa uma nova relação entre o plástico e o ser humano.
“Nós somos a geração que tem essa incumbência. Hoje, a nossa geração atual, ela precisa rever a relação da sociedade humana como um todo com o plástico. Então, não é só exclusivamente uma atitude individual, ou uma pressão aos governos, uma pressão às indústrias como sociedade humana, a gente precisa rever a nossa relação. Em algum momento a permissividade de ter essa coisa moderna, essa coisa acessível que é o plástico, bonita, industrial, o plástico traz toda uma ideia de modernidade, uma ideia de limpeza, de higiene, em algum momento a gente perdeu a mãe e a gente permitiu que o plástico estivesse em todos os ambientes e em todos os momentos da nossa vida, sem considerar o impacto ambiental dessa escolha.”
Daltro explica que a próxima etapa da campanha Mares Limpos irá focar nas sacolas plásticas. Inicialmente, o objetivo central foi a conscientização em relação aos canudos, que foi bem recebida pelo público.
Mas, a especialista aponta que as sacolas plásticas têm danos ainda maiores do que os canudos e que é preciso solucionar o problema desta poluição junto com a sociedade brasileira.
Neste sentido, o Pnuma acredita que mudanças estabelecidas em termos de legislações podem obter um bom resultado. Daltro cita o caso de São Paulo, onde após o início da cobrança de R$ 0,06 por sacola, ou cerca dois centavos do dólar, houve uma queda entra 70% e 80% no uso das sacolas.
A campanha busca apoiar agora a cidade do Rio de Janeiro, que irá abraçar a causa.
“A gente quer deixar um recado para o pessoal do RJ, para apoiar e abraçar a legislação que está entrando em vigor agora em julho, e de que funciona. De que a gente não precisa de tanta sacola plástica no nosso dia a dia e muito menos o nosso meio ambiente.”
Durante a Assembleia Geral das Nações Unidas para o Meio Ambiente, um relatório divulgado pelo Pnuma, alertou que a ação humana prejudica o planeta de forma tão grave, que somada à mudança climática, “colocará cada vez mais em risco a saúde das pessoas”.
O estudo que envolveu 250 cientistas e especialistas de mais de 70 países e é considerado o mais abrangente e rigoroso realizado pela organização nos últimos cinco anos.
A pesquisa com o título Panorama do Meio Ambiental Global adverte que a menos que sejam ampliadas as normas de proteção ambiental, podem ocorrer milhões de mortes prematuras até a metade deste século. Os poluentes nos sistemas de água doce podem passar a ser uma das principais causas de morte até 2050.
Neste vídeo preparado pelo o último Natal e Ano Novo, o Pnuma lembrou que não era hora de sentir saudade do ex.