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Economia global: “emergem novas vozes políticas e novos poderes económicos”

Conselho de especialistas debateu como avançar com o desenvolvimento sustentável obtendo melhores resultados.
Banco Mundial/ Ivelina Taushanova
Conselho de especialistas debateu como avançar com o desenvolvimento sustentável obtendo melhores resultados.

Economia global: “emergem novas vozes políticas e novos poderes económicos”

Desenvolvimento econômico

Especialista cabo-verdiana destaca mudanças onde protagonismo vem de países em desenvolvimento e gigantes de informação e internet; multinacionais como Facebook, Google e Amazon têm influência “extremamente grande”, segundo economista Cristina Duarte.

A economista cabo-verdiana Cristina Duarte faz parte do Conselho Consultivo de Alto Nível do Departamento Económico e Social das Nações Unidas, Desa. O órgão de 17 integrantes inclui ex-governantes, vencedores do Prémio Nobel e especialistas em economia e sociedade.

No encontro deste março, em Nova Iorque, o grupo analisou as tendências, os desafios e os riscos para o desenvolvimento sustentável.

Há emergência de novos poderes econômicos, para além dos Estados

Brasil

Falando à ONU News, à margem do evento, Cristina Duarte chamou a atenção para sinais de uma transição económica histórica que provoca “incerteza e insegurança” a nível global.

“Essas novas vozes políticas e esses novos poderes económicos, para além de serem Estados, refiro-me a uma Índia, a uma China, a um Brasil, apesar do período difícil que atravessa agora, uma África do Sul, etc. Mas também outros poderes económicos que emergiram e não faziam parte da ordem estabelecida do pós-segunda Guerra Mundial, que são as multinacionais que conseguiram ter um poder de mercado global extremamente grande. Refiro-me, por exemplo, a um Facebook, a um Google, a um Amazon.”

No centro dos debates do painel de alto nível estiveram também o crescimento inclusivo, estável e sustentável além da mudança tecnológica e desigualdade, a incerteza associada a conflitos, mudanças climáticas e desastres.

A reunião dos especialistas abordou a promoção do multilateralismo para o desenvolvimento sustentável analisando várias ligações com o tema, fatores externos e como avançar obtendo melhores resultados.

Destaque ONU News Especial - Desafios Econômicos e Globais

Indústria

“Quando nós analisamos a capitalização das maiores 10 empresas a nível mundial, pela primeira vez na história, essas empresas não têm nada a ver com a indústria automobilística, ou elétrica, com produção de eletrodomésticos, ou não têm a ver com manufacturing,  mas têm a ver com empresas que lidam com informação, internet, e, portanto, há aqui uma grande mudança. Há emergência de novos poderes econômicos, para além dos Estados, para além de uma China e de uma Índia. Portanto, é uma geopolítica que está a sofrer uma pressão, resultante da emergência destas novas forças, e, como é evidente, estes momentos de transição histórica são, geralmente, momentos cinzentos, ambíguos. Aquilo que disse, momentos que provocam incerteza e segurança.”

As mulheres e jovens, geralmente considerados grupos que podem fazer mais na economia, anseiam a oportunidade de ter o primeiro emprego. A especialista explica como o trabalho do conselho pode beneficiar estes grupos e compara o cenário da economia global  com o que ocorria há 50 anos.

Presenciámos um aumento exponencial da produtividade. Há países onde a produtividade aumentou 240%.

“Dos anos 70 a esta parte, particularmente ao nível das economias mais avançadas, o que é que nós presenciámos? Presenciámos um aumento exponencial da produtividade. Há países onde a produtividade aumentou 240%. A produtividade, portanto, o trabalho, mas os salários mantiveram-se, estagnaram basicamente. Os salários estagnaram. Ou seja, assistimos, claramente, a um período em que o valor produzido por estes ganhos de produtividade é, essencialmente, apropriado pelo fator capital e não pelo fator trabalho, introduzindo uma tendência crescente de desigualdade. Isto aconteceu nas economias mais avançadas e, como é evidente, aconteceu nos países em desenvolvimento.”

Periferia

A especialista disse que o fenómeno económico atual tem por base valores produzidos pela classe trabalhadora e países periféricos.

Cristina Duarte apontou ainda para uma desigualdade crescente que poderá causar fenômenos como a radicalização das políticas nacionais, a emergência do nacionalismo, um culpabilizar a globalização por futuros acontecimentos adversos.