No Sudão do Sul, mães ensinam suas filhas formas "mais seguras" de sobreviver ao estupro BR

Documento destaca que mulheres e meninas foram “raptadas, estupradas por gangues e escravizadas sexualmente"
Unmiss/Isaac Billy
Documento destaca que mulheres e meninas foram “raptadas, estupradas por gangues e escravizadas sexualmente"

No Sudão do Sul, mães ensinam suas filhas formas "mais seguras" de sobreviver ao estupro

Mulheres

Presidente da Comissão de Direitos Humanos disse que foram documentados ​​incidentes incontáveis de "vários estupros brutais”; delitos incluem estupros de gangues, escravidão sexual, sequestros, casamento forçado, gravidez e abortos forçados e assassinatos.

No Sudão do Sul, os ataques sexuais são tão comuns que as mães estão ensinando suas filhas a sobreviver ao estupro, de modo a minimizar a violência. O relato foi feito esta terça-feira pela presidente da Comissão de Direitos Humanos, Yasmin Sooka, durante a última sessão do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.

Ela disse que "o prolongado conflito no Sudão do Sul teve o impacto mais profundo sobre as mulheres e meninas, que sofreram violência sexual, incluindo vários estupros, nas mãos de forças do governo e da oposição".

Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Yasmin Sooka
Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Yasmin Sooka, by Foto ONU/Jean Marc Ferré

Violência Sexual

Sooka acrescentou que a Comissão documentou ​​incidentes incontáveis de "vários estupros brutais, incluindo estupros de gangues, escravidão sexual, sequestros, casamento forçado, gravidez forçada, aborto forçado e mutilação de órgãos sexuais, assim como assassinatos".

A presidente da Comissão destacou que a atual cultura de violência sexual de todos os lados vem ocorrendo mesmo com a assinatura do Acordo Revitalizado, em setembro passado. Segundo ela, o acordo levou a uma "melhoria geral" na paz e na segurança, embora os combates continuem no estado de Yei.

O país mais jovem do mundo se viu dividido por um conflito civil entre as forças leais ao presidente e seu ex-vice-presidente, que iniciou em 2013. A violência causou milhares de mortes e levou mais de 2,2 milhões de refugiados a fugiram pela fronteira.

Em algumas áreas o conflito também trouxe fome e devastou a economia.

Testemunhos

De acordo com Sooka, a Comissão ficou indignada com o testemunho de muitas mulheres sul-sudanesas que falaram sobre o alto risco de estupro que enfrentam quando têm que sair dos locais da Proteção de Civis para procurar alimentos e coletar madeira. O risco seria tão grande que elas disseram ter que “ensinar suas filhas como responder a seus estupradores ... para minimizar a violência.”

A especialista em direitos humanos também observou que milhares de jovens foram recrutados por comandantes que prometeram que estes poderiam saquear os vilarejos e estuprar mulheres e meninas, ao invés de receberem pagamento.

Terror e Medo

Segundo Sooka, “estes não são incidentes aleatórios de violência sexual, mas um padrão sistemático disseminado e característico do conflito no Sudão do Sul, onde o estupro e a violência sexual são usados ​​como uma tática de guerra contra mulheres e meninas por todas as partes em conflito para semear terror e medo entre a população civil”.

A presidente da Comissão acrescentou que "ninguém está a salvo, nem os meninos, os idosos ou os deficientes, já que os beligerantes violam todas as normas sociais que há muito tempo mantêm o povo do Sudão do Sul unido."

Ao responder às alegações, o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais do Sudão do Sul, Paulino Wanawilla Unango, insistiu que sob a lei nacional do país, os delitos sexuais eram puníveis.

Unango também disse ao Conselho de Direitos Humanos que não tem ocorrido "nenhum engajamento militar sério" entre as forças do governo e qualquer outro grupo armado.