No Sudão do Sul, mães ensinam suas filhas formas "mais seguras" de sobreviver ao estupro BR

Presidente da Comissão de Direitos Humanos disse que foram documentados incidentes incontáveis de "vários estupros brutais”; delitos incluem estupros de gangues, escravidão sexual, sequestros, casamento forçado, gravidez e abortos forçados e assassinatos.
No Sudão do Sul, os ataques sexuais são tão comuns que as mães estão ensinando suas filhas a sobreviver ao estupro, de modo a minimizar a violência. O relato foi feito esta terça-feira pela presidente da Comissão de Direitos Humanos, Yasmin Sooka, durante a última sessão do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
Ela disse que "o prolongado conflito no Sudão do Sul teve o impacto mais profundo sobre as mulheres e meninas, que sofreram violência sexual, incluindo vários estupros, nas mãos de forças do governo e da oposição".
Sooka acrescentou que a Comissão documentou incidentes incontáveis de "vários estupros brutais, incluindo estupros de gangues, escravidão sexual, sequestros, casamento forçado, gravidez forçada, aborto forçado e mutilação de órgãos sexuais, assim como assassinatos".
A presidente da Comissão destacou que a atual cultura de violência sexual de todos os lados vem ocorrendo mesmo com a assinatura do Acordo Revitalizado, em setembro passado. Segundo ela, o acordo levou a uma "melhoria geral" na paz e na segurança, embora os combates continuem no estado de Yei.
O país mais jovem do mundo se viu dividido por um conflito civil entre as forças leais ao presidente e seu ex-vice-presidente, que iniciou em 2013. A violência causou milhares de mortes e levou mais de 2,2 milhões de refugiados a fugiram pela fronteira.
Em algumas áreas o conflito também trouxe fome e devastou a economia.
De acordo com Sooka, a Comissão ficou indignada com o testemunho de muitas mulheres sul-sudanesas que falaram sobre o alto risco de estupro que enfrentam quando têm que sair dos locais da Proteção de Civis para procurar alimentos e coletar madeira. O risco seria tão grande que elas disseram ter que “ensinar suas filhas como responder a seus estupradores ... para minimizar a violência.”
A especialista em direitos humanos também observou que milhares de jovens foram recrutados por comandantes que prometeram que estes poderiam saquear os vilarejos e estuprar mulheres e meninas, ao invés de receberem pagamento.
Segundo Sooka, “estes não são incidentes aleatórios de violência sexual, mas um padrão sistemático disseminado e característico do conflito no Sudão do Sul, onde o estupro e a violência sexual são usados como uma tática de guerra contra mulheres e meninas por todas as partes em conflito para semear terror e medo entre a população civil”.
A presidente da Comissão acrescentou que "ninguém está a salvo, nem os meninos, os idosos ou os deficientes, já que os beligerantes violam todas as normas sociais que há muito tempo mantêm o povo do Sudão do Sul unido."
Ao responder às alegações, o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais do Sudão do Sul, Paulino Wanawilla Unango, insistiu que sob a lei nacional do país, os delitos sexuais eram puníveis.
Unango também disse ao Conselho de Direitos Humanos que não tem ocorrido "nenhum engajamento militar sério" entre as forças do governo e qualquer outro grupo armado.