Unicef: “Iêmen é um inferno para as crianças” BR

Antecedendo conferência de doadores sobre o país que acontecerá esta terça-feira em Genebra, Unicef pede que crianças sejam priorizadas e que seus direitos fundamentais sejam respeitados; 1,2 milhão de crianças enfrentam o conflito diariamente no país.
O acordo de paz de Estocolmo foi assinado em dezembro de 2018. Mas, desde então, todos os dias oito crianças são mortas ou feridas no Iêmen.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, no país quase 1,2 milhão de crianças continuam a viver em 31 áreas de conflito, testemunhando a violência brutal relacionada à guerra. A maior parte delas perdem a vida enquanto brincam pelas ruas com os amigos ou no caminho de ida ou de volta da escola.
Em entrevista à ONU News, a chefe de comunicação do Unicef no Iêmen, a brasileira Thaiza Castilho, descreveu o cenário da vida das crianças no país.
“Hoje a gente pode dizer que o Iêmen é um inferno para as crianças. A gente está falando de mais de 11 milhões de crianças que precisam de ajuda humanitária. Isso representa 80% da população de crianças no país e o conflito, que está entrando no seu quarto ano, só piora a situação que já era complicada no país e se tornou ainda pior.”
Segundo a agência da ONU, desde o início do conflito no Iêmen cerca de 1 milhão de crianças foram deslocadas, mais de 2,6 mil foram mortas e quase 2,7 mil recrutadas para lutarem no conflito. A agência frisa que estes são os números confirmados, mas que o total real pode ser ainda maior.
O diretor-regional para o Oriente Médio e Norte da África do Unicef, Geert Cappelaere, destaca que “o impacto do conflito no Iêmen é profundo e não poupou nenhuma criança”. Para ele, “a violência incompreensível dos últimos quatro anos, os altos níveis de pobreza e décadas de conflitos, a negligência e privação estão sobrecarregando a sociedade iemenita, destruindo o seu tecido social, fundamental para qualquer sociedade e especialmente para as crianças.”
No Iêmen, uma em cada cinco escolas não pode mais ser usada por que foi danificada, está sendo utilizada no conflito ou servindo como abrigo para famílias deslocadas. Mais de 2 milhões de crianças, que representam um terço dos menores em idade escolar, não estão estudando.
Com o apoio do Banco Mundial, o Unicef tem fornecido assistência de emergência em dinheiro para 1,5 milhão das famílias mais pobres, ajudando a evitar práticas de sobrevivência extrema como trabalho e casamento infantil.
Apenas em 2018, a agência forneceu tratamento para mais de 345 mil crianças gravemente desnutridas e 800 mil outras receberam apoio psicossocial para ajudar a superarem os traumas que sofreram.
Para este ano, o Unicef faz um apelo por US$542 milhões para poder continuar respondendo às grandes necessidades das crianças no Iêmen.
Nesta terça-feira, acontece em Genebra uma conferência de alto nível de doadores sobre o país, que está sendo organizada pela ONU e os governos da Suécia e da Suíça. Segundo as Nações Unidas, são necessários mais 4 bilhões de dólares para a resposta humanitária no Iémen este ano, um aumento de 33% em relação ao ano passado.
Segundo o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, “a estimativa é de que 85 mil crianças no Iémen tenham perdido a luta contra a fome desde 2015.” Ele acrescenta ainda que “milhões de iemenitas estão mais famintos, mais doentes e mais vulneráveis do que há um ano.”
Lowcock aponta que as Nações Unidas e os parceiros humanitários estão fazendo o possível para ajudar as pessoas no país e que em 2018, apesar de ser “um dos ambientes operacionais mais perigosos e complexos em todo o mundo, cerca de 254 parceiros internacionais e nacionais foram ativamente coordenados para chegar a ainda mais pessoas no Iémen.”
Cerca de 8 milhões de pessoas receberam ajuda todos os meses, em todo o país, naquela que é já a maior operação humanitária do mundo. Somente em dezembro, foi prestada assistência alimentar a mais de 10 milhões de pessoas, um número recorde.
Porém, Lowcock diz que isso não é o suficiente. Ele diz que se pode salvar milhões de vidas este ano, mas a ONU e parceiros estão “ficando sem tempo” e “sem dinheiro.”
O representante destaca que é preciso evitar que a tragédia humanitária piore ainda mais e diz que tem esperança de que a “ação coletiva, em Genebra, possa salvar mais vidas e reforçar o processo político em direção a uma solução pacífica.” Para ele, o mundo deve “isso às crianças do Iémen e às suas famílias”.