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Guterres diz que movimentos nas ex-colónias tiveram impacto no fim da ditadura em Portugal

António Guterres participou na abertura do encontro da Comissão Especial de Descolonização
Foto ONU: Eskinder Debebe
António Guterres participou na abertura do encontro da Comissão Especial de Descolonização

Guterres diz que movimentos nas ex-colónias tiveram impacto no fim da ditadura em Portugal

Direitos humanos

Secretário-geral menciona ações em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau em sessão da Comissão Especial de Descolonização; reunião começou esta quinta-feira em Nova Iorque; em todo o mundo, ainda existem 17 territórios não autônomos. 

O secretário-geral da ONU disse esta quinta-feira que a Revolução dos Cravos, que em 25 de abril de 1974 terminou com a ditadura em Portugal, foi apenas possível “graças à ação dos movimentos de libertação, Frelimo em Moçambique, Mpla em Angola e Paigc na Guiné-Bissau.”

António Guterres discursou durante a abertura do encontro anual da Comissão Especial de Descolonização na sede da ONU em Nova Iorque.

Bandeira de Angola na sede da ONU em Nova Iorque
Bandeira de Angola na sede da ONU em Nova Iorque, by ONU Photo/Loey Felipe

Portugal

O chefe da ONU disse que este era um tema próximo do seu coração, após lembrar que nasceu em Portugal durante a ditadura de António de Oliveira Salazar. Segundo ele, esta ditadura oprimiu “não apenas o povo português, mas também o povo das ex-colónias.”

Guterres explicou que a ação dos movimentos de libertação “fez os militares portugueses perceberem que esta era uma guerra sem sentido, que tinha de ser parada e que a única forma de a parar era com uma revolução em Lisboa.”

O secretário-geral disse que se lembra de ser jovem e ver “na propaganda do regime referências muito negativas” a esta Comissão da ONU. Por isso, explicou, foi muito “emocionante”, depois de “viver de forma tão intensa” a libertação do seu país e das ex-colónias, ser presidente temporário da comissão na sessão de abertura.  

Acompanhe aqui, em inglês, o discurso de António Guterres:

História

O secretário-geral mencionou depois o envolvimento da ONU nos processos de independência das últimas décadas. Segundo ele, “a descolonização ajudou a transformar a adesão das Nações Unidas, impulsionando o crescimento dos 51 membros originais para os 193 de hoje.”

Para o chefe da ONU, “a descolonização é um dos capítulos mais significativos da história da organização.”

Crianças estudando em Moçambique
Crianças estudando em Moçambique , by ONU News/Ouri Pota

Lembrando que ainda existem 17 territórios não autônomos em todo o mundo, Guterres afirmou que “essa história ainda está sendo escrita” e que cada um dos casos “merece atenção”.

O secretário-geral disse que cada um ainda espera obter o autogoverno, de acordo com o Capítulo 10 da Carta das Nações Unidas e a Declaração de 1960 sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais.

Nova Caledônia

O chefe da ONU destacou depois o caso da Nova Caledônia, ao afirmar que “teve um movimento notável” nos últimos meses.

Em novembro, os habitantes deste grupo de ilhas do Pacífico Sul expressaram a sua vontade sobre o futuro do território em referendo. Segundo agências de notícias, o "não" à independência obteve a maioria dos votos.

Guterres disse que “este foi um passo importante no processo de descolonização” e que a cooperação da França, que administra o território, foi “louvável”.

A Comissão da ONU também esteve envolvida no processo, ajudando a Nova Caledônia com duas missões de visita antes do referendo.  

Para alcançar a descolonização, Guterres diz que “as vozes dos povos dos Territórios devem ser ouvidas”, como aconteceu neste caso.

Eleições na Guiné-Bissau em 2014
Eleições na Guiné-Bissau em 2014, by ONU News

Cooperação

O chefe da ONU afirmou que a cooperação de todos os interessados, incluindo os administradores, é “vital” e que é “primordial” que os povos compreendam as opções disponiveis e que têm direito de escolher livremente.

O secretário-geral elogiou depois o trabalho da Comissão Especial, destacando o apoio aos povos dos territórios e o diálogo e cooperação com os administradores e outros interessados.

O comitê foi criado em 1961 pela Assembléia Geral e analisa, todos os anos, uma lista de territórios. Faz também recomendações, ouve representantes, realiza missões de visita e organiza seminários sobre a situação nos territórios.

Guterres terminou o discurso lembrando que a comissão acompanhou muitos territórios neste processo. Segundo ele, “os sucessos da ONU na  descolonização ao longo das décadas podem inspirar nos dias de hoje.”