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Na Tanzânia, chefe do Acnur pede mais apoio para 330 mil refugiados

Alto comissário Filippo Grandi no Acampamento de Nyarugusu
Acnur/Georgina Goodwin
Alto comissário Filippo Grandi no Acampamento de Nyarugusu

Na Tanzânia, chefe do Acnur pede mais apoio para 330 mil refugiados

Migrantes e refugiados

Alto comissário fechou visita ao país da África Oriental; Filippo Grandi reuniu-se com líderes do país e visitou refugiados em acampamentos; representante disse que esforços do país merecem mais reconhecimento internacional.

O alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, terminou uma visita de quatro dias à Tanzânia pedindo mais apoio internacional para cerca de 330 mil refugiados no noroeste do país.

O responsável disse que a Tanzânia é "um dos mais importantes países de asilo para refugiados na África" e afirmou estar satisfeito com as garantias do governo de que continuará sendo hospitaleiro.

Mercado comum no Acampamento de Refugiados de Nyarugusu, na Tanzânia
Mercado comum no Acampamento de Refugiados de Nyarugusu, na Tanzânia , by Acnur/Georgina Goodwin

Presidente

Após se reunir com o presidente John Magufuli, Grandi elogiou a Tanzânia pela sua longa tradição de receber pessoas que fogem de conflitos e perseguições nos países vizinhos. Desde 1972, a Tanzânia naturalizou 162 mil refugiados do Burundi.

O alto comissário disse que o país e o povo merecem maior reconhecimento internacional e prometeu mobilizar mais apoio para esforços humanitários e desenvolvimento económico. Também declarou que procuraria ajuda para melhorar a segurança dos acampamentos e desenvolver projetos ambientais, como fontes de energia  alternativas à lenha.

Grandi e Magufuli discutiram a idéia de estabelecer uma estrutura regional para  melhorar a vida dos refugiados do Burundi e da República Democrática do Congo, RD Congo.

O alto comissário também elogiou a Tanzânia pelo apoio ao Pacto Global sobre Refugiados.

Refugiados

Cerca de 74% dos refugiados e candidatos a asilo da Tanzânia são do Burundi e os outros 26% são da RD Congo. A grande maioria vive em acampamentos próximos da fronteira e muitos estão lá há décadas.

Nos últimos dois anos, 57.865 refugiados do Burundi receberam ajuda para regressar voluntariamente ao seu país. No entanto, alguns disseram que receberam pressões de funcionários do governo que influenciaram a sua decisão.

Alto comissário Filippo Grandi no Acampamento de Refugiados de Nyarugusu, na Tanzânia
Alto comissário Filippo Grandi no Acampamento de Refugiados de Nyarugusu, na Tanzânia, by Acnur/Georgina Goodwin

Em reuniões com membros do governo, Grandi destacou que o retorno dos refugiados apenas deve acontecer quando as pessoas se sentem confiantes de que é seguro voltar para casa e recebem o apoio necessário.

O alto comissário também disse que a que o Acnur está preparado para trabalhar com o governo neste processo.

Após visitar o Acampamento de Refugiados de Nyarugusu, em Kasulu, Grandi lembrou que "as condições ainda são incertas na RD Congo e no Burundi", mas que alguns refugiados estão se voluntariando para voltar e receber apoio do Acnur.

O responsável pediu mais apoio internacional para garantir que os refugiados que retornam voluntariamente sejam capazes de se reintegrarem com sucesso em seus países de origem.

Paz

Durante a visita, Grandi também destacou a Tanzânia como um país estável em uma região problemática, elogiando o papel do país como pacificador regional.

Na cidade de Dar es Salaam, o alto comissário encontrou-se com o ex-presidente da Tanzânia, Benjamin Mkapa. O ex-chefe de Estado serviu como facilitador de um processo de diálogo no Burundi.

Grandi disse esperar que estes esforços continuem, mas o antigo presidente revelou preocupações de que o processo tenha estagnado. Segundo Mkapa, existem progressos na área de segurança, mas permanece um impasse político. Ele acredita que o diálogo é a única saída para a crise e para eleições livres, justas e inclusivas em 2020.

Na viagem, o alto comissário também defendeu que é importante estimular a independência dos refugiados.

Em Nyarugusu, a refugiada congolesa Selemani Boaz, que é comerciante local, disse a Grandi que “o mercado ajuda a interagir com pessoas diferentes, mesmo fora do acampamento, especialmente tanzanianos, e isso ajuda a unir toda a gente.”

Comerciantes locais no mercado do Acampamento de Nyarugusu, na Tanzânia
Acnur/Georgina Goodwin
Comerciantes locais no mercado do Acampamento de Nyarugusu, na Tanzânia