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A ação por um mundo mais justo perante o aumento da desigualdade

Cerca de 1,3 bilhão de pessoas de 101 nações analisadas são consideradas multidimensionalmente pobres.
Unicef/UNI103753/Rich
Cerca de 1,3 bilhão de pessoas de 101 nações analisadas são consideradas multidimensionalmente pobres.

A ação por um mundo mais justo perante o aumento da desigualdade

ODS

A redução da desigualdade* entre e nos países é um dos focos da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. Mas, segundo as Nações Unidas, a desigualdade no mundo está crescendo. O que pode ser feito para resolver a questão?

O tema da desigualdade foi abordado diversas vezes pela ONU desde que o início do ano. Ao falar no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o secretário-geral António Guterres destacou que ao mesmo tempo que o progresso tecnológico e a globalização conduziram a “melhoras fantásticas” em muitas áreas, estes fatores também aumentaram a desigualdade e marginalizam milhares de pessoas.

Em sua carta anual, a diretora executiva do Pacto Global, Lise Kingo, observou que em 2018 foi visto que “um pequeno grupo de indivíduos está ficando exponencialmente mais rico enquanto milhões estão sendo deixados para trás em relação à pobreza.”

De acordo com o especialista em globalização e diretor da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, Richard Kozul-Wright, a desigualdade não somente aumenta, mas também é um “desequilíbrio consolidado”.

Em entrevista à ONU News, Kozul-Wright disse que a noção de índices de empregos altos em muitas economias esconde o fato de que salários e condições de trabalho não estão melhorando. Além disso, enquanto salários estão estagnados por uma década, dividendos sobre participações têm se recuperado, beneficiando detentores de ativos financeiros.

As observações de Kozul-Wright antecederam o lançamento do relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2019 em janeiro. O documento aponta um crescimento desigual, tanto entre como nos países, que está frequentemente falhando em alcançar os locais onde é mais necessário.

A inteligência artificial irá tirar empregos ou transformá-los? 

Segundo a ONU, a IA “pode melhorar a previsão do tempo, impulsionar o rendimento das colheitas, melhorar o diagnóstico de câncer, prever uma epidemia e melhorar a produtividade industrial".
Nasa/Aubrey Gemignani
Segundo a ONU, a IA “pode melhorar a previsão do tempo, impulsionar o rendimento das colheitas, melhorar o diagnóstico de câncer, prever uma epidemia e melhorar a produtividade industrial".

O início de 2019 teve como destaque o papel da tecnologia no mundo do trabalho, e o impacto que está tendo na desigualdade. A Organização Internacional do Trabalho, OIT, lançou o relatório referência Comissão Global para o Futuro do Trabalho. O estudo conclui que inovações em tecnologia fornecem “inúmeras oportunidades” para trabalhadores. Porém, alerta que se essas tecnologias não forem implantadas como parte de uma agenda centrada no ser humano baseada no investimento de pessoas, instituições de trabalho e emprego descente e sustentável, existe o risco de “entrar sem perceber num mundo que alarga desigualdades existentes e incertezas.”

Uma das inovações tecnológicas chaves mencionadas no relatório, que tem merecido a atenção da mídia, é a inteligência artificial, IA. Um estudo da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, Ompi, publicado recentemente aponta um “salto quântico” nas patentes relacionas a IA. A publicação sugere que a IA poderia em breve “revolucionar todas as áreas da vida diária além do mundo tecnológico.”

IA inspira tanto medo quanto excitação, evocando um mundo imaginário, no qual mais e mais trabalho é feito por máquinas, com a sociedade dividida entre uma pequena elite mais rica e o resto, uma massa desempregada de pessoas sem perspectivas de encontrar trabalho. 

Kriti Sharma não vê a situação desta forma. Ela tem sido reconhecida pela ONU como uma Líder Jovem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O título é em reconhecimento ao trabalho que realiza através de sua organização, a IA Para o Melhor, para garantir que a IA ajude a criar um mundo melhor e mais justo. Também é um reconhecimento pelo papel no Sage Future Makers Lab, na tradução em português, Laboratório de Criadores do Futuro Sage, criado para equipar jovens no mundo com aprendizado prático para entrar em uma carreira em Inteligência Artificial.

Kriti Sharma, Líder Jovem da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Kriti Sharma, Líder Jovem da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável., by Seção de Desenvolvimento Sustentável da ONU

Falando a ONU News, Sharma reconheceu que pessoas que vivem em países que estão no lado errado da divisão digital, com menos acesso aos dados, ficaram em desvantagem. Ela apontou estudos que mostram que a divisão de gênero está crescendo, como mulheres tendo duas vezes mais chance de perder o trabalho para a automatização, por causa do tipo de trabalho que estão envolvidas.

Sharma disse que é preciso “garantir que vamos dar as pessoas oportunidades suficientes para se requalificarem, caso contrário terminaremos criando mais desigualdade do que já tínhamos antes.”  Porém, ela acredita que um dos maiores riscos é falhar em acolher esta tecnologia, e não equipar as pessoas com as capacidades de usar ela para resolver problemas globais. Sharma citou três formas para ajudar a garantir que a IA traga um mundo mais justo.

Antes de tudo, é importante que um grupo diverso de pessoas de diferentes formações estejam criando esta tecnologia, pessoas que “entendam a sociedade, decisores políticos”. O segundo ponto é garantir que a IA seja usada para resolver os “problemas corretos”, como acelerar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ao dedicar energia, pesquisa e fundos para esta área. E por último, padrões internacionais devem ser acordados para garantir que a tecnologia criada seja usada de uma forma segura e ética para o mundo.

Progresso nulo e cooperação internacional

Seria esse o caminho para sair do “desequilíbrio enraizado” da desigualdade? Para a ONU é importante uma grande ênfase na cooperação internacional para a solução. O relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2019 conclui que, em um nível global, “uma estratégia cooperativa e de longo termo para a política global” é o caminho em direção ao progresso na redução de renda desigual. O estudo alerta que a “retirada do multilateralismo irá causar mais retrocessos para aqueles que já estão sendo deixados para trás.”

Segundo o secretário-geral falando à audiência em Davos, uma reposta coordenada e global é o único caminho para lutar contra a desigualdade, porque “precisamos trabalhar juntos. Não há como responder de maneira isolada aos problemas que enfrentamos, todos estão interligados”.

* Artigo sobre o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 10, ODS10. O texto tem como base matérias recentes sobre a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável publicadas pela ONU News.