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Mais de 3 mil crianças da Guatemala passam para o México em duas semanas

Unicef diz que é crucial que estas crianças permaneçam com suas famílias
© Unicef/UN028161/Zehbrauskas
Unicef diz que é crucial que estas crianças permaneçam com suas famílias

Mais de 3 mil crianças da Guatemala passam para o México em duas semanas

Migrantes e refugiados

Cerca de 30 mil menores de idade das Honduras, da Guatemala e de El Salvador foram detidas temporariamente em centros do México em 2018; novo governo mexicano comprometeu-se a acabar com a detenção de todas as crianças migrantes.

Mais de 12 mil pessoas, incluindo 3 mil crianças, passaram da região de Tecun Uman, na Guatemala, para Tapachula, no México, desde 17 de janeiro. A informação foi dada esta quinta-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

Em nota, a agência da ONU afirmou que “é fundamental manter a proteção especial para essas crianças, particularmente aquelas que viajam sozinhas.”

Detenção

No final de uma visita de dois dias a Tapachula, a diretora de Comunicação do Unicef, Paloma Escudero, disse que “o governo e o povo mexicano têm acolhido milhares de crianças e famílias que atravessam a fronteira todos os dias.”

Segundo ela, se estes menores de idade ficarem no México ou seguirem para norte, “é crucial que permaneçam com suas famílias, que sejam mantidas fora dos centros de detenção e que seus interesses sejam protegidos durante toda a viagem.”

De acordo com estatísticas do Governo do México, mais de 30 mil crianças das Honduras, da Guatemala e de El Salvador foram mantidas temporariamente em centros de detenção em 2018.

Desafios  

Embora o país esteja implementando cada vez mais medidas para proteger os direitos das crianças em trânsito ou que procuram asilo, os desafios persistem.

Na estação de migração de Tapachula, onde existem cerca de mil pessoas, a responsável do Unicef conversou com mães e mulheres jovens que são mantidas na delegacia enquanto os pedidos de asilo ou deportação são processados.

Escudero afirmou que, embora as pessoas que ficam no centro tenham acesso a serviços de alimentação, saúde e recreação, “as condições são inadequadas.” Ela contou que viu “mães e crianças pequenas dormindo no chão nos corredores” e que muitos não sabem quando poderão sair.

O novo governo mexicano comprometeu-se oficialmente a acabar com a detenção de todas as crianças migrantes e trabalha para cumprir essa nova política. O Unicef e outros parceiros apoiam esses esforços, ajudando a desenvolver alternativas.

Grupo de crianças migrantes da América Central.
Grupo de crianças migrantes da América Central, by Unic México/Antonio Nieto

Paloma Escudero diz que “o Unicef tem trabalhado com o governo para identificar e implementar soluções alternativas, incluindo vistos humanitários, abrigos abertos e centros de dia, que podem manter famílias e crianças seguras e protegidas enquanto suas reivindicações estão sendo processadas.”

A responsável afirma que a agência está “ansiosa para ver mais programas desses ao longo da rota migratória do México”,  porque “a migração não é um crime e não deve ser tratada como tal.”

Traumas

Para a diretora de Comunicação do Unicef, “muitas dessas crianças e jovens estão trocando o trauma da violência e da pobreza pelo trauma do deslocamento e da incerteza.” Ela diz que "a esperança de um futuro melhor e mais seguro, que  mantém estas pessoas em movimento, está cada vez mais longe."

No México, o Unicef trabalha com o governo e seus parceiros para garantir que as crianças migrantes recebem o apoio e serviços de que necessitam e que seus direitos sejam protegidos.

Em Tapachula, a agência apoia diretamente as crianças que chegam ao Escritório de Migração em Ciudad Hidalgo, fornecendo informações sobre opções migratórias. Também fornece assistência técnica direta à Agência de Assistência Social e às Autoridades de Proteção à Criança, para garantir que as crianças desacompanhadas sejam devidamente atendidas e recebam cuidados apropriados.