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Seis pessoas morreram em média por dia tentando atravessar o Mediterrâneo em 2018 BR

Mais de 17 mil migrantes chegaram à Itália e a Malta de embarcações com origem na Líbia e Tunísia.
Acnur/Hereward Holland
Mais de 17 mil migrantes chegaram à Itália e a Malta de embarcações com origem na Líbia e Tunísia.

Seis pessoas morreram em média por dia tentando atravessar o Mediterrâneo em 2018

Migrantes e refugiados

Agência da ONU lançou novo relatório sobre estas travessias; Espanha tornou-se principal ponto de entrada para a Europa; impasse político em avançar com uma abordagem regional permanece.

Em 2018, os refugiados e migrantes que tentaram chegar à Europa através do Mar Mediterrâneo perderam as suas vidas em um ritmo alarmante. Seis pessoas morreram em média todos os dias.

Estas conclusões fazem parte do relatório "Desperate Journeys", ou Viagens Desesperadas, divulgado esta quarta-feira pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur. Segundo a agência, cortes nas operações de busca e salvamento ajudaram a manter esta travessia marítima como a mais letal do mundo.

Acnur: cortes nas operações de busca e salvamento ajudaram a manter esta travessia marítima como a mais letal do mundo
Acnur: cortes nas operações de busca e salvamento ajudaram a manter esta travessia marítima como a mais letal do mundo, by Acnur/Hereward Holland

Vítimas

Estima-se que 2.275 pessoas tenham morrido ou desaparecido atravessando o mediterrâneo em 2018, apesar de uma grande descida no número de chegadas às costas europeias. No total, 139,3 mil refugiados e imigrantes chegaram à Europa, o menor número dos últimos cinco anos.

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, disse que “salvar vidas no mar não é uma escolha nem uma questão de política, mas uma antiga obrigação.”

Grandi afirma que se pode “colocar um fim nessas tragédias tendo coragem e visão para olhar além do próximo barco e adotar uma abordagem de longo prazo baseada na cooperação regional, que coloque a vida humana e a dignidade como o principal foco.”

Mudanças

O relatório descreve como mudanças políticas em alguns Estados europeus causaram incidentes em que muitas pessoas ficaram retidas no durante vários dias à espera de permissão para atracar.

Segundo a agência, as embarcações de Organizações Não Governamentais, ONGs, e suas tripulações enfrentaram crescentes restrições nas operações de busca e resgate.

Em rotas da Líbia para a Europa, por cada 14 pessoas que chegaram ao continente europeu um morreu no mar, um aumento significativo em relação a 2017. Outros milhares foram devolvidos à Líbia, onde enfrentam condições terríveis nos centros de detenção.

Para muitos, chegar à Europa foi a última paragem numa jornada em que enfrentaram tortura, estupro e agressão sexual, além da ameaça de serem sequestrados e mantidos em cativeiro enquanto pediam resgate.

O Acnur diz que “os Estados devem tomar medidas urgentes para desmantelar redes de contrabando e levar os perpetradores desses crimes à justiça.”

Apesar destas dificuldades, a agência da ONU diz que “novas sinais de esperança surgiram em alguns lugares.”
Apesar destas dificuldades, a agência da ONU diz que “novas sinais de esperança surgiram em alguns lugares.”, by Foto: Acnur/A. d'Amato

Compromisso

Apesar destas dificuldades, a agência da ONU diz que “novas sinais de esperança surgiram em alguns lugares.”

O impasse político em avançar com uma abordagem regional para o resgate no mar e desembarque, como solicitado pelo Acnur e a Organização Internacional para Migrações, OIM, continua, mas vários Estados comprometeram-se a realocar pessoas resgatadas no mediterrâneo central. O Acnur diz que este compromisso é “uma potencial base para uma solução previsível e duradoura.”

A agência também destaca a promessa feita por alguns Estados de milhares de locais de reassentamento para a retirada de refugiados da Líbia.

Rotas

O relatório também revela mudanças significativas nas rotas usadas.

Pela primeira vez, Espanha é o principal ponto de entrada para a Europa. Cerca de 8 mil pessoas chegaram por terra, através de Ceuta e Melilla, e outras 54,8 mil cruzaram com sucesso o Mediterrâneo Ocidental.

Como resultado, o número de mortos no Mediterrâneo Ocidental quase quadriplicou, passando de 202, em 2017, para 777 no ano passado.

Cerca de 23,4 mil refugiados e imigrantes chegaram à Itália em 2018, uma redução de cinco vezes em comparação ao ano interior. Na Grécia, a situação nas chegadas marítimas manteve-se constante, com a chegada de 32,5 mil no ano passado e cerca de 30 mil em 2017, mas registrou um aumento de quase três vezes no número de pessoas que chegaram pela fronteira terrestre com a Turquia.

Em outros lugares da Europa, a Bósnia e Herzegovina registrou cerca de 24 mil chegadas. Chipre recebeu vários barcos transportando refugiados sírios do Líbano, enquanto o Reino Unido testemunhou um pequeno número de cruzamentos da França no final do ano.

Seis pessoas morreram por dia tentando atravessar o Mediterrâneo em 2018