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Investigação apura morte de centenas achados em 50 valas comuns na RD Congo BR

Monusco durante uma visita na localidade onde confrontos entre as comunidades Batende e Banunu causaram a morte de várias centenas de pessoas.
Monusco
Monusco durante uma visita na localidade onde confrontos entre as comunidades Batende e Banunu causaram a morte de várias centenas de pessoas.

Investigação apura morte de centenas achados em 50 valas comuns na RD Congo

Direitos humanos

Diretor do Escritório de Direitos Humanos no país visitou locais; em dezembro, em apenas dois dias, pelo menos 890 pessoas morreram em quatro aldeias das áreas de Batende e Banunu.

 A porta-voz da Missão da ONU para a Estabilização na República Democrática do Congo, Monusco, Florence Marchal, confirmou esta quarta-feira que pelo menos 535 pessoas morreram durante confrontos que aconteceram entre 16 e 18 de dezembro. 

Em dois dias, centenas de pessoas morreram em quatro aldeias das áreas de Batende e Banunu, na província oriental de Mai-Ndombe. Mas o administrador interino do território fala em mais de 500 mortos nesses locais.

Em dois dias, pelo menos 890 pessoas morreram em quatro aldeias das áreas de Batende e Banunu, na província oriental de Mai-Ndombe
Em dois dias, pelo menos 890 pessoas morreram em quatro aldeias das áreas de Batende e Banunu, na província oriental de Mai-Ndombe. Foto: © Acnur/Colin Delfosse

Abandono

Em entrevista à ONU news, Marchal disse que os ataques aconteceram "de uma forma muito organizada" e "provavelmente foram planeados". 

A porta-voz explicou que Yumbi, uma das localidades onde aconteceram os confrontos, é hoje "uma cidade fantasma." A maioria da população fugiu da localidade, ficando apenas entre 100 e 200 pessoas. 

Marchal descreveu a situação atual como "calma, mas tensa", dizendo que "ainda não existem condições que permitam um regresso à vida normal." 

A porta-voz explicou ainda que "a justiça será um elemento importante da reconciliação em Yumbi."

Visita 

Na terça-feira, o diretor do Escritório de Direitos Humanos da ONU na República Democrática do Congo, Abdul Aziz Thioye, visitou os locais onde foram descobertas dezenas de valas comuns após estes confrontos intercomunitários.

Além da investigação do escritório da ONU, as autoridades judiciais congolesas também anunciaram que iriam apurar os fatos.

De acordo com o representante do escritório, apesar de terem sido encontrados 50 sepulturas em massa e individuais o número pode ser bem mais alto. Ele declarou que cada vala comum, dependendo do tamanho, poderia ter entre cinco, 10 e 100 corpos. 

Abdul Aziz Thioye destacou que essas sepulturas estão localizadas nos locais onde ocorreram confrontos e dezenas de pessoas ficaram feridas no mês passado.

Sepulturas estão localizadas em nos locais onde ocorreram confrontos e dezenas de pessoas ficaram feridas no mês passado.
Acnur/ Ley Uwera
Sepulturas estão localizadas em nos locais onde ocorreram confrontos e dezenas de pessoas ficaram feridas no mês passado.

Edifícios

Durante os ataques foram incendiados ou saqueados cerca de 465 casas e prédios. Entre os edifícios danificados estão escolas, centros de saúde, mercados e ainda o escritório da Comissão Nacional Independente Eleitoral, Ceni.

Grande parte da população das aldeias que foram atacadas foi obrigada a abandonar suas casas. Entre elas estão cerca de 16 mil pessoas que atravessaram o rio Congo em busca de abrigo na vizinha República do Congo.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos afirmou que “é crucial que essa violência chocante seja prontamente investigada" em declarações feitas vários dias após a descoberta.

Michelle Bachelet fez um apelo por garantia de justiça para as vítimas desses ataques e para a prevenção de novos episódios de conflitos intercomunitários.