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ONU faz “soar o alarme” sobre ataques antissemitas

Secretario-geral, António Guterres, na Assembleia Geral
Foto: ONU/Loey Felipe
Secretario-geral, António Guterres, na Assembleia Geral

ONU faz “soar o alarme” sobre ataques antissemitas

Assuntos da ONU

Secretário-geral participou em evento na Assembleia Geral para marcar Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto; chefe da ONU disse aos Estados-membros que têm o desafio de guardar as lições da história; dois terços dos jovens da geração “milennial” não sabem que Auschwitz era um campo de concentração.

O secretário-geral participou esta segunda-feira numa cerimônia na Assembleia Geral para marcar o Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, assinalado a 27 de janeiro.

No seu discurso, António Guterres disse que queria “fazer soar o alarme”. Lembrando vários ataques antissemitas dos últimos meses, ele disse que estes “são uma chama com centenas de anos ganhando de novo intensidade.”

Alerta

Para o chefe da ONU, “o antissemitismo não continua apenas forte, como está ficando pior.”

Guterres citou a Liga Anti-Difamação dos Estados Unidos para dizer que os incidentes antissemitas aumentaram 57% em 2017. Segundo a Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia afirma que 28% dos judeus sofreram algum tipo de assédio por serem judeus. Uma sondagem da CNN na Europa também mostrou a persistência de motivações contra judeus.

Guterres disse que também se assiste a “tentativas sérias de reescrever a história do Holocausto” e que “os grupos neonazistas estão proliferando.” 

O secretário-geral avisou que “inevitavelmente, onde existe antissemitismo, ninguém está seguro.” Ele diz que “em todo o mundo, assiste-se a um aumento perturbante de outras formas de intolerância.”

O representante referiu ataques a muçulmanos, yazidis, rohingyas, mencionou a intolerância na internet e redes sociais, e destacou como o ódio está entrando nas democracias liberais e sistemas autoritários.

Guterres diz que isso pode ser visto no debate sobre a mobilidade humana, onde assistiu a “um fluxo injurioso vinculando, de forma falsa, refugiados e migrantes com terrorismo e culpando-os por muitos dos males da sociedade.”

Segundo ele, “os principais partidos políticos estão incorporando ideias das margens em sua propaganda e campanhas eleitorais” e algumas figuras políticas “sentem-se cada vez mais capazes de proclamar as suas visões nocivas para que todos os ouçam.”

Guterres afirmou que “com cada norma quebrada, mais enfraquecidos ficam os pilares da sociedade.”

O chefe da ONU afirmou que não se deve exagerar as comparações com os anos 30, mas que também não se devem ignorar as semelhanças.

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

Desafios

O chefe da ONU disse aos Estados-membros que “têm o desafio de guardar as lições da história e do Holocausto” e explicou como isso deve ser feito.

Em primeiro lugar, mantendo a memória viva. Segundo ele, cerca de dois terços dos jovens da geração “milennial” não sabem que Auschwitz era um campo de concentração.

Segundo, é preciso enfrentar todos os que tentam disseminar o ódio. Para isso, Guterres pediu ao seu conselheiro especial para a prevenção do genocídio para criar um plano global para aprofundar o trabalho contra o discurso de ódio.

Por fim, o secretário-geral disse que é necessário ser capaz de tornar estes princípios verdade, porque “proclamar não é suficiente” e “vilipendiar os violadores não é suficiente”. 

Guterres terminou dizendo que “a resposta tem de ser clara: fortalecer tudo o que [e feito para construir as defesas, leis e mentalidades que defendem a dignidade de todos, para sempre.”

Na cerimônia, participaram dois sobreviventes do holocausto, Marian Turski e Inge Auerbacher, que contaram a sua história.

Também esta segunda-feira, Guterres participa na abertura de uma exposição que honra diplomatas que ajudaram judeus durante a 2ª Guerra Mundial, incluindo o cônsul português Aristides de Sousa Mendes.