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Milhões de crianças urbanas sofrem privações mais graves que no campo BR

Crianças mais pobres de áreas urbanas de um quarto dos países têm maior probabilidade de morrer antes do quinto aniversário do que as crianças de zonas rurais
Unicef/ UN068287/Anmar
Crianças mais pobres de áreas urbanas de um quarto dos países têm maior probabilidade de morrer antes do quinto aniversário do que as crianças de zonas rurais

Milhões de crianças urbanas sofrem privações mais graves que no campo

Desenvolvimento econômico

Pelo menos 4,3 milhões de menores pobres em cidades e vilas são mais propensas a morrer antes dos cinco anos; centenas de milhões de crianças menores de 18 anos vivem em assentamentos informais.

Um relatório destaca que crianças mais pobres de áreas urbanas de um quarto dos países têm maior probabilidade de morrer antes do quinto aniversário do que as crianças de zonas rurais na mesma situação. A análise incluiu 56 nações que representam 28 países da população global.

O estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, destaca ainda que menores de idade de um em cada seis países vivendo em áreas urbanas mais pobres têm menos chances de concluir o ensino primário do que as que vivem no campo.

Pais de zonas rurais migram para as cidades em busca de melhor acesso a empregos, cuidados de saúde e oportunidades de educação para seus filhos
Pais de zonas rurais migram para as cidades em busca de melhor acesso a empregos, cuidados de saúde e oportunidades de educação para seus filhos. Foto: © Unicef/Iraq

Paradoxo

Os dados do relatório Vantagem ou Paradoxo: O Desafio para crianças e jovens em crescimento em áreas urbanas foram compilados em países que incluem os lusófonos Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Segundo o documento, nem todas as crianças nas cidades são beneficiadas pela chamada "vantagem urbana", ou a noção de que a renda mais alta, a melhor infraestrutura e a proximidade de serviços garantem vida melhor aos residentes.

Pelo contrário, a desigualdade, a exclusão, os desafios ao bem-estar urbanos podem resultar em um “paradoxo urbano”. Muitos moradores dessas áreas, incluindo crianças, perdem oportunidades e sofrem privações mais graves do que as que vivem em áreas rurais enfrentando riscos ambientais e de saúde.

Acesso

A diretora de Dados, Pesquisa e Política do Unicef disse que os pais de zonas rurais migram para as cidades em busca de melhor acesso a empregos, cuidados de saúde e oportunidades de educação para seus filhos.

Mas Laurence Chandy defende que “nem todas as crianças urbanas estão se beneficiando de forma igual, e foram encontradas provas de milhões de crianças em áreas urbanas em pior situação que seus as que residem em áreas rurais”.

Pelo menos 4,3 milhões de crianças de áreas urbanas pobres são mais propensas a morrer antes dos cinco anos do que as que vivem em áreas rurais.

O estudo também destaca que 13,4 milhões de crianças carenciadas em cidades têm menos chance de concluir o ensino primário do que as que vivem em áreas rurais.

O relatório analisa 10 indicadores de bem-estar infantil em 77 países, principalmente de baixa e média rendas.

Pelo menos 4,3 milhões de crianças de áreas urbanas pobres são mais propensas a morrer antes dos cinco anos do que as que vivem em áreas rurais
4,3 milhões de crianças de áreas urbanas pobres são mais propensas a morrer antes dos cinco anos do que as que vivem em áreas rurais. Foto: OMS/D. Lourenco

Desigualdades

Nessas áreas foram avaliados fatores como acesso à água, saneamento, assistência especializada ao parto, registro de nascimento, imunização, fim do ensino primário, conhecimento sobre HIV entre jovens até 25 anos, nanismo e mortalidade infantil.

Em média, na maioria dos países, as crianças urbanas têm melhor possibilidades do que as crianças rurais. Mas esses resultados escondem grandes desigualdades no meio urbano e quando comparadas as famílias urbanas e rurais com níveis similares de riqueza, a vantagem urbana torna-se menos notória.

Ação

Para o Unicef, transformar o paradoxo urbano vivido por milhões de crianças e jovens em vantagem é um grande desafio para as cidades e vilas em todo o mundo.

A agência destaca que sem ação, o preço pode ser alto porque 90% das crianças e adolescentes vivem na África e na Ásia, continentes que se urbanizam rapidamente.

Atualmente, 1 bilhão de pessoas vivem em assentamentos informais e centenas de milhões delas são crianças menores de 18 anos. Esse número pode triplicar até 2050.