Médico que faz 10 cirurgias diárias no Sudão do Sul recebe Prémio Nansen de refugiados
Cerimónia de entrega decorre esta segunda-feira em Genebra; vencedor, Evan Atar Adaha, dirige único hospital de região com 200 mil pessoas; cerca de 58 pacientes são operados por semana, sem material de anestesia geral ou máquina de raio-x.
O cirurgião Evan Atar Adaha, do Sudão do Sul, é o vencedor do Prémio Nansen para Refugiados da Agência de Refugiados da ONU, Acnur.
Há mais de 20 anos que o Dr. Atar, como é conhecido no seu país, atende pessoas forçadas a fugir de conflitos e perseguições no Sudão e no Sudão do Sul.
Condições
O médico mora em Bunj, no nordeste, onde administra o único hospital em funcionamento. Mais de 200 mil pessoas são atendidas por sua equipa que realiza, em média, 58 operações por semana em condições difíceis, com medicamentos e equipamentos limitados.
Não existe, por exemplo, material para realizar anestesia geral, por isso os médicos trabalham com injeções de cetamina e epidurais. A única máquina de raio-x não funciona, a única sala cirúrgica é iluminada por apenas uma lâmpada e a eletricidade é fornecida por geradores que param de funcionar com frequência.
O alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse sobre Atar que a “sua dedicação em servir vítimas de guerra e conflito tem sido extraordinária e merece atenção e reconhecimento global”.
Biografia
O médico recebeu uma bolsa para estudar medicina em Cartum, no Sudão, e depois trabalhou no Egito.
Em 1997, quando a guerra começou no estado do Nilo Azul, ele ofereceu-se para trabalhar na região e estabeleceu o seu primeiro hospital. Em 2011, o aumento da violência obrigou-o a fugir com os seus colegas e todos os equipamentos que conseguiram transportar, numa viagem que durou cerca de 30 dias.
Chegando em Bunj, montou a primeira sala cirúrgica num centro de saúde abandonado. Desde então, trabalhou para garantir o financiamento do hospital e treinar outros jovens para se tornarem enfermeiros e parteiras.
O Acnur diz que trabalha, às vezes, 48 horas sem parar e está sempre de plantão. Ele vive em uma tenda de lona perto do hospital e a sua família está em Nairóbi, no Quênia.
Refugiados
Em 2017, cerca de 71% dos seus pacientes cirúrgicos eram refugiados, mas Atar diz que trata “todos, independentemente de quem sejam, refugiados, deslocados internos, comunidade de acolhimento”. Ele diz que fica “muito feliz” quando percebe que o seu trabalho ajudou alguém ou salvou uma vida.
O Acnur afirma que o Sudão do Sul abriga cerca de 300 mil refugiados, dos quais 92% são sudanese, e que possui apenas 15% dos recursos necessários para lidar com essa emergência. A agência da ONU apoia o trabalho do médico através de um parceiro, a Samaritan’s Purse.
O Sudão do Sul é o país mais jovem do mundo, conquistou a independência do Sudão em 2011. Uma guerra civil começou dois anos depois, criando a terceira maior crise de refugiados do mundo e a que mais cresce na África.
Quase 1,9 milhão de pessoas são deslocadas internas e outros 2,5 milhões buscaram refúgio em países vizinhos.
Espetáculo
Esta segunda-feira, a cerimónia de entrega do prémio é organizada pela atriz sul-africana e defensora da campanha LuQuLuQu do Acnur, Nomzamo Mbatha, e contará com a presença da atriz e embaixadora da Boa Vontade da agência, Cate Blanchett.
Atuam no espetáculo, o tocador de cítara Anoushka Shankar, o bailarino sírio Ahmad Joudeh e a cantora norueguesa Sigrid.