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“Vítimas de violência sexual no Sudão do Sul não podem continuar ignoradas”, dizem investigadores

ONU elaborou relatórios dando conta de relatos de centenas de mortes e de campanhas de violência sexual no país africano
Unmiss/Isaac Billy
ONU elaborou relatórios dando conta de relatos de centenas de mortes e de campanhas de violência sexual no país africano

“Vítimas de violência sexual no Sudão do Sul não podem continuar ignoradas”, dizem investigadores

Direitos humanos

No Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, especialistas disseram que mulheres e meninas continuam sendo vítimas de soldados e milícias; grupo apontou dificuldades na situação humanitária. 

A situação das mulheres e meninas vítimas de abusos sexuais no Sudão do Sul “não deve ser mais ignorada”, disseram investigadores da ONU nesta segunda-feira.

Os especialistas falavam no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça. Segundo eles, durante os mais de cinco anos de conflito, estas vítimas foram tratadas como “despojos” de guerra por soldados e milícias.

Abusos

A presidente da Comissão de Direitos Humanos do Sudão do Sul, Yasmin Sooka, informou que "a Comissão ouviu uma vez mais testemunhos de assassinatos e vários relatos de violência sexual brutal". 

No município de Yei, por exemplo, os investigadores ouviram histórias de mulheres sequestradas e estupradas que abandonaram os seus bebês devido ao estigma. Em maio, soldados do governo atacaram uma faculdade, estuprando mulheres jovens e deixando 10 pessoas mortas, incluindo cinco crianças em idade escolar.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Sudão do Sul, Yasmin Sooka.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Sudão do Sul, Yasmin Sooka., by Unmiss/Isaac Billy

Ataques

As partes em conflito assinaram um acordo de paz na semana passada, mas Sooka afirmou que nos últimos dias tropas do governo terão atacado forças leais ao ex-vice-presidente Riek Machar no estado de Yei River.

As tropas de paz da ONU também foram atacadas nesta região, durante o fim de semana, pelas forças do governo.

Fome

Além de destacar testemunhos de assassinatos e violência sexual, o painel também mencionou a crise de comida no país. Cerca de 6 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar na forma mais crítica, um aumento de 20% em relação ao ano passado.

Sooka disse que, apesar destas dificuldades, o governo do Sudão do Sul continua a dificultar o acesso das organizações humanitárias. A especialista afirmou que "há constantes paralisações burocráticas e, de maneira mais alarmante, ataques dirigidos contra veículos humanitários".

Justiça

A presidente da Comissão das Nações Unidas acolheu a decisão recente de um tribunal militar que condenou 10 soldados aos crimes de assassinato, estupro, assédio sexual e roubo.

Sooka disse que, “sob pressão da comunidade internacional, o governo do Sudão do Sul conseguiu reunir a vontade política para combater a impunidade”.

Apesar disso, ela afirmou que apenas soldados foram condenados, enquanto seus dirigentes ficaram impunes. Ela também lembrou que as forças da ONU documentaram o estupro coletivo de mais de 217 mulheres por forças do governo em 2016 e que, até este momento, ninguém foi responsabilizado.

Sooka acredita que “o fracasso em punir os responsáveis de crimes graves levou muitos a acreditar que podem continuar cometendo esses crimes com total impunidade”.

Resposta

Em resposta, o governo do Sudão do Sul afirmou que a situação de segurança no país melhorou e vai continuar a melhorar, agora que o acordo de paz foi assinado.

O ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais, Paulino Wanwilla Unango, também respondeu ao pedido de criação de um tribunal híbrido para julgar estes crimes. O ministro disse que um comitê foi formado para debater o assunto, mas que as negociações de paz se tinham sobreposto a essa discussão.

Guerra

Desde 2013, a guerra civil do Sudão do Sul provocou mais de 1,7 milhão de deslocados e  2,5 milhões de refugiados. Destes, mais de 65 mil são menores desacompanhados.

Cerca de 2,2 milhões de crianças estão fora da escola, a maior taxa em todo o mundo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.