Comissão sobre Síria diz à ONU News que Idlib pode viver massacre
Presidente da Comissão de Inquérito, o brasileiro Paulo Sergio Pinheiro diz que situação na região pode se tornar catástrofe humanitária para civis e diz que negociações precisam levar à solução imediata do conflito.
A Comissão de Inquérito sobre a Síria divulgou, esta quarta-feira, um relatório que destaca níveis sem precedentes de deslocamento interno ocorridos no primeiro semestre deste ano no país.

Entre janeiro e junho, mais de 1 milhão de sírios fugiram de suas casas e passaram a viver em péssimas condições. A Comissão alerta ainda sobre o que pode ocorrer na província de Idlib, se os esforços para chegar a um acordo negociado falharem.
Gás cloro
Em entrevista à ONU News, de Genebra, o presidente da Comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, comenta o risco de uma catástrofe humanitária.
"A situação dos refugiados é muito visível, em termos que há mais de 4 milhões nos países vizinhos e 1 milhão na Europa, mas esses deslocamentos internos não são muito visíveis. Hoje, se calcula que 6 milhões de sírios não moram nas suas próprias casas. Nesses últimos seis meses, 1 milhão saíram de cidades e nós resolvemos chamar a atenção para os sofrimentos e para a carência de direitos dessa população. E também acenando para alguma coisa que está muito presente no dia de hoje que é a ameaça na província de Idlib, onde estão quase 3 milhões de habitantes, deslocados, muitos de outras cidades, e algo como 10 mil, 15 mil terroristas e grupos armados. Nós achamos que seria um desastre humanitário, um massacre, se a guerra contra os terroristas, contra a qual nós não temos nenhuma objeção, seja feita às expensas da população civil."
O documento destaca seis batalhas importantes que levaram ao deslocamento em massa: Alepo, norte de Homs, Damasco, Rif Damasco, Daraa e Idlib.
O relatório revela que forças do governo sírio dispararam gás cloro este ano num subúrbio controlado pelos rebeldes em Damasco e na província de Idlib.
Os investigadores relataram ações que podem ser consideradas crimes de guerra ocorridas em 22 de janeiro e 1º de fevereiro na área residencial de Duma, em Ghouta Oriental.
Crimes de guerra
O documento descreve a difícil situação dos civis que deixaram suas casas entre janeiro e junho em intensos combates. Na maioria deles, ocorreram crimes de guerra, incluindo os ataques indiscriminados, ataques deliberados contra áreas protegidas, uso de armas proibidas, saques que também envolveram grupos armados
O grupo defende que para recuperar Ghouta Oriental em abril, as forças do governo lançaram numerosos ataques indiscriminados em áreas civis densamente povoadas, que incluíam o uso de armas químicas.
O relatório destaca que mulheres e crianças ficaram feridos e contraíram problemas respiratórios e precisaram de oxigênio,
A conclusão da Comissão é que forças do governo e milícias cometeram crimes de guerra pelo uso de armas proibidas e pelo lançamento de ataques indiscriminados em áreas povoadas por civis em Ghouta Oriental.
O relatório aponta que o cloro também foi usado em 4 de fevereiro. A nota destaca que helicópteros do governo derrubaram pelo menos dois barris transportando cargas de cloro na área de Taleel, em Saraqeb.
Nessa operação 11 homens ficaram feridos e provas documentais e materiais analisadas pela Comissão confirmaram a presença de helicópteros na área e a utilização de dois cilindros de gás de cor amarela.