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ONU: fome aumenta em todo o mundo e atinge 821 milhões

Pesquisa mostra que sem mais esforços urgentes, a comunidade internacional não vai cumprir o objetivo de erradicar a fome até 2030.
Giles Clarke/Getty Images
Pesquisa mostra que sem mais esforços urgentes, a comunidade internacional não vai cumprir o objetivo de erradicar a fome até 2030.

ONU: fome aumenta em todo o mundo e atinge 821 milhões

Direitos humanos

Informação é de estudo produzido por cinco agências das Nações Unidas; situação piorou nos últimos três anos, com uma em cada nove pessoas afetada no mundo; situação melhorou no Brasil e Angola, mas piorou em Moçambique e Guiné-Bissau.

O número de  pessoas subnutridas aumentou de 804 milhões em 2016 para cerca de 821 milhões no ano passado. O relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo em 2018”, divulgado esta terça-feira, revela que o mundo regressou a níveis registados há 10 anos.

Segundo a pesquisa, sem mais esforços urgentes, a comunidade internacional não vai cumprir o objetivo de erradicar a fome até 2030.

Segundo a pesquisa, a variação do clima e os eventos climáticos extremos, como secas e cheias, estao entre os principais responsáveis pelo aumento da fome
Segundo a pesquisa, a variação do clima e os eventos climáticos extremos, como secas e cheias, estao entre os principais responsáveis pelo aumento da fome, by PMA/Bruno Djoye

Combate

A especialista em segurança alimentar e nutrição da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, Anna Kepple, explicou à ONU News o que é preciso mudar para resolver este problema.

“É preciso melhorar a coordenação entre os órgãos internacionais e intergovernamentais, visando fortalecer as capacidades dos governos para que eles mesmo definam e implementem as políticas mais adequadas para a sua própria realidade. E é preciso implementar ações que fortaleçam a resiliência dos meios de subsistência e dos sistemas alimentares, inclusive as estratégias que visam a resiliência face aos eventos climáticos extremos.”

Lusófonos

Segundo o relatório, a situação está a piorar na América do Sul e em algumas regiões de África. A tendência de descida na Ásia também está a desacelerar de forma significativa. Quanto aos países lusófonos, Anna Kepple diz que a situação é difícil.

“A prevalência de subalimentação, que é o indicador de fome que a FAO usa desde longa data, aponta para quadros piores em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Nesses países, é estimado que entre 24% e 30% da população pode estar sem acesso à energia alimentar suficiente para uma vida sã e ativa.”

Entre o biênio 2004–2006 e o biênio 2015–2017, a percentagem de pessoas subnutridas em Moçambique passou de 7,7 milhões para 8,8 milhões. Na Guiné-Bissau, subiu de 300 mil pessoas para 500 mil.

Em Angola a situação melhorou, passando de 10,7 para 6,9 milhões, e o mesmo se passou no Brasil, descendo de 8,6 milhões para 5,2 milhões.

Em São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde, a situação manteve-se, com menos de 100 mil pessoas subnutridas nos dois países. Em Portugal, os números também não mudaram, com menos de 300 mil pessoas nesta situação.

Mundo

Segundo a pesquisa, a variação do clima e os eventos climáticos extremos, como secas e cheias, são os principais responsáveis pelo aumento da fome, além dos conflitos e da desaceleração econômica.

O relatório afirma que pouco progresso tem sido conseguido em outras áreas, como desenvolvimento retardado de crianças e obesidade de crianças, colocando a saúde de centenas de milhões de pessoas em risco.

Existiam 151 milhões de crianças com menos de cinco anos com crescimento retardado no ano passado, comparado com 165 milhões em 2012. Cerca de 39% destas crianças estão na Ásia e mais de metade, 55%, estão em África.

Combate

Além da FAO, o relatório foi preparado por outras quatro agências da ONU, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fida, Programa Mundial de Alimentos, PMA, Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e Organização Mundial da Saúde, OMS.

Em nota conjunta, as agências dizem que os dados do relatório “são um sinal claro de que existe muito trabalho para ser feito para alcançar o objetivo de não deixar ninguém para trás em relação à segurança alimentar e nutrição”.