Mais de 4 milhões de crianças refugiadas estão fora da escola, alerta Acnur
Agência da ONU para Refugiados destacou história de um sírio que teve seu diploma universitário revalidado no Brasil e pode agora trabalhar; apenas seis em cada 10 menores refugiados frequentam ensino primário.
Um novo estudo da Agência da ONU para Refugiados, Acnur, revela que 4 milhões de crianças refugiadas não frequentam a escola. Esse número equivale a um aumento de meio milhão de menores nessa situação em um ano no mundo.
O relatório Inverter a Tendência: Educação de Refugiados em Crise foi lançado nesta quarta-feira, em Genebra, na Suíça. Dos 68,5 milhões de pessoas que foram obrigadas a fugir de suas casas, cerca de 25,5 milhões receberam status de refugiados.
Futuro
Falando à ONU News, o porta-voz da agência, William Spindler, explica porque é preciso aumentar o apoio para promover a educação daqueles que recebem abrigo em outros países.
“Sem acesso à educação, o futuro destas crianças será comprometido. A nível mundial, 92% de todas essas crianças frequentam a escola. Mas das crianças refugiadas é somente 68%. Por isso é muito importante um investimento mais forte na educação de refugiados. ”
Ao destacar a história pessoal de alguns refugiados, o relatório apresenta o sírio Salim Alnazer, de 32 anos.
Ele trabalha como farmacêutico de uma empresa de transporte e logística em São Paulo, no Brasil, o país que reconheceu seu diploma universitário abrindo as portas para um emprego. Alnazer afirma que no Brasil, “não só encontrou paz, mas também um futuro”.
Ensino Superior
O relatório insta os países anfitriões a matricular refugiados menores de idade em sistemas de educação que permitam o reconhecimento das notas até a entrada no ensino superior.
O estudo pede parcerias mais fortes entre setor privado, organizações humanitárias, de desenvolvimento e governos para que haja mais soluções sustentáveis para a educação de refugiados.
Um dos maiores desafios é a educação de crianças, que compõem mais da metade do total de refugiados. Cerca de 7,4 milhões delas estão em idade escolar.
O documento revela ainda que apenas seis em cada 10 menores refugiados vão à escola primária, comparadas aos 92% de crianças no mundo. A agência defende que essa lacuna aumenta à medida que as crianças refugiadas ficam mais velhas.
Ensino Secundário
O estudo revela ainda que cerca de dois terços das crianças refugiadas frequentando o ensino primário não chegam ao secundário. No total, 23% delas frequentam o ensino secundário, em comparação com 84% das crianças no mundo.
Após a adoção da Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes em 2017, o Acnur disse que foram matriculadas mais de meio milhão de crianças refugiadas fora da escola.
Qualidade
A agência quer que mais seja feito para garantir o acesso de todos os refugiados à educação de qualidade.
O baixo acesso dos refugiados à universidade é uma das maiores preocupações. Apenas 1% deles tem a oportunidade de chegar a esse nível, uma proporção que não muda há três anos.
Para o alto comissário da ONU para refugiados, a escola é o primeiro lugar em meses, ou até anos, em que crianças refugiadas encontram alguma normalidade.
O chefe do Acnur, Filippo Grandi, disse que a menos que seja feito um investimento urgente, centenas de milhares de crianças vão se tornar essas estatísticas preocupantes.