Peritos da ONU falam de possíveis “crimes de guerra” no Iêmen

Grupo de Peritos Eminentes destaca ataques que violaram princípios de distinção e proporcionalidade; lista confidencial de nomes será entregue ao Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Especialistas em direitos humanos da ONU acreditam que podem ter sido cometidos crimes de guerra por todas as partes envolvidas no conflito no Iêmen.
Esta terça-feira, o Grupo de Peritos Eminentes sobre o país destacou que houve pouco esforço para minimizar as baixas civis pelas forças do governo, apoiadas pela aliança liderada pela Arábia Saudita, e pelos rebeldes houthis.
O documento, apresentado em Genebra, cita ataques em áreas residenciais onde morreram milhares de pessoas. As partes em conflito também são acusadas de cometer atos como detenções arbitrárias, tortura, desaparecimentos forçados e recrutamento de crianças.
Os investigadores devem apresentar o relatório final, em setembro, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O conflito no Iêmen agravou-se em 2015 com os confrontos dos rebeldes houthis que forçaram o presidente Abdrabbuh Mansour Hadi a fugir para o exterior.
Os investigadores destacam graves violações ao direito internacional e um "total desrespeito" pelo sofrimento de milhões de civis. Para produzir o estudo, o grupo visitou o país e os Estados vizinhos.
O investigador Charles Garraway disse haver “motivos razoáveis para acreditar que os governos do Iêmen, dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita são responsáveis por violações dos direitos humanos”.
O estudo cobre o período entre setembro de 2014 e junho de 2018. O grupo indica que, nos últimos anos, o conflito foi marcado por repetidos ataques aéreos em espaços públicos que incluem mercados, embarcações civis, centros de detenção e hospitais.
Na semana passada, um ataque aéreo ocorrido na província de Hodeida, no oeste, matou pelo menos 26 crianças e quatro mulheres iemenitas.
O relatório observa que este tipo de ataques da coalizão causou a maioria das vítimas civis, o que para os peritos oferece “motivos razoáveis” para acreditar que os ataques ultrapassaram os principais limites dos crimes de guerra.
Segundo Garaway, indivíduos do governo do Iêmen e da aliança, incluindo da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, podem ter realizado ataques violando os princípios de distinção e proporcionalidade e que podem ser considerados crimes de guerra.
O investigador falou de uma lista confidencial de nomes que seria entregue ao Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas para novas investigações.
Para o especialista, é preciso ter mais informação sobre alguns incidentes documentados pelo grupo de peritos para apurar responsabilidades.
Mais de 22 milhões de pessoas continuam necessitadas no Iêmen e na maioria são mulheres e crianças. Para Garaway, mesmo com a situação grave, continua a falta de ajuda ao sofrimento dos iemenitas. Com a crise atingindo seu pico e sem que se veja uma luz no fim do túnel, ele declarou que o Iemen “é realmente uma crise esquecida. ”