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Países da África Ocidental podem usar comércio para empoderar mulheres

Na Tanzânia, o comércio aumentou oportunidades para mulheres, mas a desigualdade de género continua.
Unctad
Na Tanzânia, o comércio aumentou oportunidades para mulheres, mas a desigualdade de género continua.

Países da África Ocidental podem usar comércio para empoderar mulheres

Desenvolvimento econômico

Liberalização de taxas comerciais na região aumentou oportunidades para mulheres, segundo novo estudo; são precisos investimentos em educação e melhor acesso ao crédito.

Melhorias na educação e emprego podem ajudar as mulheres da África Ocidental a beneficiarem-se do comércio na região, esta é a constatação de um novo estudo lançado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.

A pesquisa, com o nome “Integração Regional da Comunidade da África Ocidental – Comércio e Implicações de Género”, analisou cinco dos seis países desta zona comercial: Burundi, Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda.

Oportunidades

A zona de comércio foi fundada em 2000, com Quénia, Tanzânia e Uganda, juntando-se Ruanda e Burundi em 2007, e Sudão do Sul em 2016. Vivem 150 milhões de pessoas nestes países.

Segundo o estudo, “a liberalização de tarifas levou a um aumento do emprego feminino no setor da manufatura no Quénia, Tanzânia, e Uganda, enquanto as trabalhadoras do Burundi foram afetadas de forma negativa.”

Mesmo nos países onde houve melhorias, estas mudanças concentraram-se nas trabalhadoras de produção, com poucas mudanças nos trabalhos mais qualificados. 

O secretário-geral da Unctad, Mukhisa Kituyi, disse que o estudo “contribui para o debate de como se podem tornar as políticas de comércio mais sensíveis às questões de género e abrir caminho para uma prosperidade inclusiva que não deixa ninguém para trás.”

Declaração Ministerial realça o empenho dos ministros em acelerar a transformação dos sistemas agrícolas.
Foto FAO: Giulio Napolitano
Declaração Ministerial realça o empenho dos ministros em acelerar a transformação dos sistemas agrícolas.

Recomendações

Kituyi disse que o estudo inclui ideias práticas de como resolver o problema. Uma das recomendações principais é resolver a diferença entre homens e mulheres na educação secundária e terciária e assegurar que as mulheres têm formação nas áreas que oferecem melhores salários.

O estudo também propõe um mecanismo de crédito dedicado a mulheres empresárias, porque os mecanismos nacionais têm sido insuficientes e pouco estáveis.

Também é recomendada a inclusão de um capítulo dedicado ao género em todos os futuros acordos de comércio e a criação de uma plataforma regional para partilhar as melhores práticas nesta área.

Mudanças

Nos últimos anos, aconteceu uma transição nestas economias da agricultura para setores de serviços e de indústria. Apesar disso, esta mudança não foi significativa entre as mulheres. Cerca de 96% das mulheres do Burundi, 76% do Quénia, 84% do Ruanda, 71% da Tanzânia e 77% do Uganda ainda trabalham na agricultura.

As mulheres também continuam, na sua grande maioria, a ser trabalhadoras por conta própria ou num negócio familiar, duas formas de emprego vulneráveis.

A literacia das mulheres melhorou desde a criação da zona de comércio. Neste momento, é 90% do valor dos homens, o que ultrapassa a taxa de 77% da região subsaariana.

Acesso ao crédito continua a ser limitado na região. A maior parte das pessoas recorre a empréstimos de amigos ou familiares, com apenas 18% dos homens e 14% das mulheres tendo empréstimo de uma instituição financeira.

A maioria das mulheres são trabalhadoras por conta própria ou de empresas familiares.
Unctad
A maioria das mulheres são trabalhadoras por conta própria ou de empresas familiares.

Políticas

O relatório também menciona o trabalho não remunerado de cuidado e assistência, maioritariamente feito por mulheres. Segundo os autores da pesquisa, isto “limita o número de horas que podem ser dedicadas a trabalho pago, o que limita a sua mobilidade e acesso a recursos do mercado e informação.”

O secretário-geral da Unctad afirmou que “a igualdade de género não é uma consequência natural do processo de desenvolvimento e existe uma necessidade de promover políticas de igualdade.”

 

Apresentação: Alexandre Soares