Chefe humanitário diz que situação no Iêmen “arrasa famílias e instituições”
Mark Lowcock destaca complexidade da operação da ONU e seus parceiros; país árabe continua a ser destino de migrantes africanos que querem chegar à Península Árabe.
O subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, disse esta terça-feira ao Conselho de Segurança que “o Iêmen continua a ser a maior crise humanitária no mundo. ”
Segundo o chefe humanitário, a situação “arrasa famílias e instituições” e “afeta agora quase todos os setores e aspetos da vida” no país árabe.
Desafios
Mark Lowcock citou uma série de dificuldades afirmando que o país “enfrenta enormes desafios.” Segundo ele, se alguns passos não forem tomados em breve, “existe o risco de um grande surto de cólera.”
Sobre os bombardeios, disse que “continuam a ser perdidas vidas de civis, a infraestrutura pública continua a ser destruída, e os deslocamentos estão a aumentar.”
Três quartos da população iemenita, mais de 22 milhões de pessoas, precisam urgentemente de ajuda humanitária. Cerca de 8,4 milhões têm dificuldade em encontrar a sua próxima refeição.
Avanços
Apesar das dificuldades, Lowcok disse que a operação que a ONU e os seus parceiros montaram no país “é uma das maiores e mais complexas em todo o mundo”, envolvendo 190 parceiros.
O subsecretário-geral lembrou também a conferência de doadores realizada em Genebra, no início do mês, em que foram angariados US$ 2 bilhões para ajuda humanitária urgente.

Migrantes
Apesar da crise, o país continua a ser um destino de migração e trânsito para os migrantes do extremo nordeste da África, que pretendem chegar à Península Árabe e mais além dela.
A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, está “profundamente preocupada” com o piorar da situação para refugiados, migrantes e candidatos a asilo chegados recentemente ao Iêmen.
O porta-voz do Acnur, William Spindler, disse que “conflito inabalável, deterioração das condições económicas e aumento da criminalidade estão a expor as pessoas a danos e exploração. ”
Abusos
Segundo o Acnur, têm aumentado os relatos de extorsão, tráfico e deportação.
Spindler explicou que muitos migrantes “são presos, detidos, vítimas de abuso, e depois empurrados para o mar ou forçados a regressar usando os mesmos contrabandistas que os trouxeram. ” Em janeiro, mais de 50 somalis morreram afogados durante uma dessas operações.
A agência da ONU também registou casos de extorsão. Em março, um grupo de migrantes da Etiópia foi levado até à fronteira para ser deportado. Quando chegaram, foram detidos por contrabandistas, que exigiram US$ 700 das famílias para os libertar.
Detenções
Desde fevereiro, o Acnur tem acompanhado o caso de cerca de 100 pessoas que foram detidas quando chegaram ao país. A agência também acompanha “numerosos” relatos de abuso dentro dos centros de detenção, incluindo violências sexual e física.
Segundo o porta-voz, os sobreviventes descrevem “ser atingidos por tiros, espancados regulamente, violações de adultos e crianças, humilhação, incluindo nudez, ser forçados a testemunhar execuções sumárias, e privação de comida.”
O Acnur disse que as suas tentativas de intervir nestes casos têm sido em vão, devido às estruturas complexas de um país em guerra. A agência também pede acesso sem restrições às pessoas que precisam de ajuda.
O Acnur tem alertado para os riscos de atravessar um país em guerra. No ano passado, lançou uma campanha com o título “Dangerous Crossings”, travessias perigosas, em português.
Apresentação: Alexandre Soares