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Cabo Verde entrega candidatura da morna a património mundial na Unesco

Bandeira de Cabo Verde. Foto: ONU/Loey Felipe

Cabo Verde entrega candidatura da morna a património mundial na Unesco

Cultura e educação

Governo cabo-verdiano entrega documentos à agência nesta segunda-feira considerando possível nomeação “um desígnio nacional”; decisão deve ser conhecida em dezembro de 2019; país já prepara candidatura do campo de Tarrafal.

O Governo de Cabo Verde entrega esta segunda-feira, na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, a candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade.

A ONU News conversou com o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente,  que faz a entrega da candidatura na sede da Unesco, em Paris.

Alma cabo-verdiana

De Praia, o ministro contou que “a morna é o género musical que configura de uma forma mais completa aquilo que são a alma e o percurso do povo cabo-verdiano.”

“A morna nasce, não só num momento histórico na ilha da Boavista, mas como resultado do nosso percurso como povo, que passou pela descoberta, pela chegada dos portugueses, pelo triângulo de tráfico de escravos, a descoberta da própria África, em que Cabo Verde foi sempre um trampolim, o período colonial e o período da luta pela independência. A morna acompanhou todos os movimentos literários e intelectuais de Cabo Verde, mas também acompanhou os movimentos de resistência, de imigração e de emigração. ”

O ministro diz que as ilhas têm outros géneros musicais, como o funaná e a coladera, mas que nenhum outro tem uma presença tão forte no país, da Boavista a Santiago.

“A morna é o género musical que está presente em todas as ilhas. Acompanha-nos na morte e no nascimento. Na festa de sete, recebemos as crianças com morna. Nos funerais, enterramos os nossos mortos com morna. A ligação emocional que temos com o país é feita através da música. Cabo Verde é um país musical.”

Diáspora

O ministro fez questão de entregar a candidatura em mão, em Paris, para mostrar como o pais está investido nesta candidatura. Um percurso que, lembra o ministro, a imigração cabo-verdiana também fez.

“Quem conhece uma comunidade de Cabo Verde, sabe que o cabo-verdiano sofre, tem saudades, mas também ama, ao som da morna. Estamos absolutamente focados porque isto é um desígnio nacional. A consagração da morna como Patrimonial da Humanidade será o reconhecimento do percurso histórico do povo cabo-verdiano.”

Abraão Vicente explica que acontece agora um processo de melhoria da candidatura, que pode ocorrer até setembro, e depois será feito um trabalho de promoção. Apesar dos obstáculos, Abraão Vicente está confiante no resultado.

“Fizemos todo o trabalho. Investimos, não só emocionalmente, mas também em termos de recursos humanos e financeiramente para que chegar no ponto de ser avaliado, e ser avaliado positivamente. A nível técnico, não temos dúvida de que o dossier vai ser um sucesso. Mas também acreditamos que temos de fazer tudo aquilo que tem de ser feito, como encontros diplomáticos com países que têm poder de voto.”

Processo

A entrega da candidatura culmina um trabalho de vários anos do Ministério da Cultura e do Instituto do Património Cultural, IPC.

O ministro diz que Cabo Verde contou com o apoio de Portugal neste processo. Paulo Lima, investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, prestou assessoria técnica. Lima esteve envolvido nas candidaturas portuguesas do fado, cante alentejano e arte do chocalho, que foram aprovadas.

Neste momento, o país já prepara outra candidatura. Cabo Verde quer que o campo do Tarrafal seja considerado Património Material da Humanidade pela Unesco.

 

Apresentação: Alexandre Soares