Perspectiva Global Reportagens Humanas

Um poema tem o “poder de despertar”, diz escritora portuguesa Matilde Campilho

Poeta portuguesa Matilde Campilho.
Arquivo pessoal/Vitorino Coragem
Poeta portuguesa Matilde Campilho.

Um poema tem o “poder de despertar”, diz escritora portuguesa Matilde Campilho

Assuntos da ONU

Dia Mundial da Poesia é marcado neste 21 de março; Campilho viveu em Moçambique e Brasil e usa várias expressões da lusofonia em sua arte.

A Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, marca esta quarta-feira, 21 de março, o Dia Mundial da Poesia. A poeta Matilde Campilho acredita que “nesta época tão confusa, como são todas, na verdade, a poesia tem um papel de despertar.”

A autora portuguesa, de 35 anos, diz que “é bonito celebrar no Dia da Árvore e no primeiro dia da primavera.” Para Matilde, isso “faz algum sentido, porque a poesia também brota e ilumina, embora permita a sombra.”

Luz e sombra

“A poesia tem tudo e está também ligada as estações, principalmente estas intermédias, onde há luz e sombra. A poesia mora nesse território intermédio onde tudo é permitido.”

A poeta acredita que este tipo de literatura pode ajudar a mudar o mundo, levando as pessoas a pensar sobre assuntos esquecidos e provocar uma reação.

“Lês uma coisa e aquilo é uma bofetada, é um estimulo, de beleza ou de escuridão, que pode ser difícil. Mas, por outro lado, tem o poder de sossegar.”

A Unesco, que promove este dia, diz que a poesia “reafirma a nossa humanidade comum, revelando que os indivíduos, em todo o mundo, compartilham as mesmas questões e sentimentos.” Matilde Campilho acha que isso pode ajudar pessoas que passam dificuldades.

“Se tens uma pessoa que está doente ou cansada, o que te vai ajudar naquele momento é um médico ou um remédio. O facto de teres uma pessoa que conversa contigo, que te conta histórias, que te dá amor ou traz imaginação, não te salva imediatamente, mas pode ajudar a passar um corredor do terror.”

Lusofonia

Ao celebrar o Dia Mundial da Poesia, a Unesco pretende apoiar a diversidade linguística e oferecer às línguas ameaçadas a oportunidade de serem ouvidas.

Matilde Campilho, que viveu em Portugal,  no Brasil e em Moçambique, explica que o espaço da lusofonia é uma parte central do seu trabalho. A autora diz que para ela “foi muito importante conhecer todas as possibilidades de uma língua, onde a língua é a mesma e é outra, e se mistura com outros dialetos.”

“Uma das coisas de que eu gosto na poesia em língua portuguesa é a possibilidade de poder trazer trejeitos, outras maneiras de falar, às vezes palavras que em Portugal não existem. Isso abre muito o território da poesia. Eu vejo a poesia como essa abertura, que recebe palavras de vários lugares. Às vezes uma palavra de uma língua que não domino, mas que descubro, enquanto estou no trabalho da imaginação, e faz sentido. Aí já aprendi uma coisa nova.”

Carreira

Matilde Campilho colabora frequentemente com jornais e revistas em Portugal e no Brasil, para os quais escreve poemas e crónicas.

“Jóquei”, o seu primeiro livro, foi publicado em Portugal pela Tinta-da-China em 2014. Foi publicado também no Brasil (Editora 34) em 2015, e em Espanha (Kriller71 Ediciones) em 2017.

Gustavo Rubim, crítico de poesia do jornal português Público, disse que o livro era um “acontecimento precioso em língua portuguesa.”

A autora esteve entre os finalistas do Oceanos - Prémio de Literatura em Língua Portuguesa e do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes.

 

Apresentção: Alexandre Soares