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FAO alerta para impacto da “crise esquecida” de alimentos na RD Congo

Refugiados congoleses fogiram do conflito de Kassai para Angola. Foto: Acnur/Pumla Rulashe

FAO alerta para impacto da “crise esquecida” de alimentos na RD Congo

Conflitos expõem 6 milhões de pessoas à insegurança alimentar grave; número de deslocados mais do que duplicou desde 2016; área de Kassai recebeu menos de 5% do valor para resposta humanitária que precisa.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Uma missão especial da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, e do Programa Mundial de Alimentação, PMA, descreveu o que chama de “crise esquecida” de alimentos na República Democrática do Congo, RD Congo.

Os especialistas da ONU visitaram as províncias do Kivu Norte, Kivu Sul e Tanganhica, no leste congolês. Mas a área mais afetada é a do Kassai, a sul, onde a situação é agravada pela demora na ajuda.

Demora 

A ONU News conversou, em Nova Iorque, com o analista sénior sobre crise alimentar da FAO.  Luca Russo, que esteve no país africano, falou dos cerca de 6 milhões de pessoas que enfrentam insegurança alimentar grave por causa do conflito.

Russo disse que por causa da falta atenção à RD Congo, o plano de resposta humanitária, que é a forma como a ONU organiza a sua atuação nas emergências, está subfinanciado em Kassai.

O conflito entre forças do governo e de uma milícia comunitária local gerou uma “rebelião extremamente violenta”. Com o grande fluxo de deslocados há poucas alternativas de resposta humanitária.

Ajuda

O representante revelou que Kassai obteve menos de 5% do valor que precisa, o que considera quase zero. Dos US$ 65 milhões necessários, apenas  US$ 3 milhões foram colocados ao dispor da FAO. O PMA não recebeu qualquer valor para oferecer ajuda perante a “enorme necessidade de assistência”.

Russo destacou que a demora no calendário eleitoral faz com que “grupos de poder local se posicionem em torno do processo e causem novos conflitos.”

O país tem 2,7 milhões de deslocados, mais do que o dobro dos 1,2 milhão de 2016.

O representante contou que a maioria dos residentes em acampamentos congoleses são mulheres e os lares são liderados por elas. As suas histórias têm fatores em comum: vilas atacadas, maridos mortos ou que tiveram que fugir. 

Impacto

Em Tanganhica registam-se confrontos entre a maioria bantu e a minoria dos pigmeus que já desalojaram meio milhão de pessoas que “não podem produzir, numa situação que tem impacto na insegurança alimentar”.

Os efeitos do conflito juntam-se à crise económica que afetou o poder de compra das populações da RD Congo.

Muitos congoleses não puderam ter colheitas durante as ultimas três épocas e nos acampamentos de deslocados recebem ajuda e envolvem-se em atividades produtivas financiadas pelas duas agências “para dar algum sentido de dignidade”.