Assassinatos de crianças, estupros em massa e espancamentos são violações cometidas contra a minoria muçulmana do estado de Rakhine; especialistas da ONU entrevistaram vítimas; violações foram cometidas pelas forças de segurança e podem ser crimes contra a humanidade.
Leda Letra, da ONU News em Nova Iorque.
Estupros em massa, assassinatos de bebês e de crianças, espancamentos e desaparecimentos: essas são algumas das violações cometidas contra a população Rohingya do estado de Rakhine, no norte de Mianmar. Os Rohingya são uma minoria muçulmana.
A denúncia está sendo feita pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU, que afirma que as forças de segurança do país são responsáveis pelas ações. Os investigadores das Nações Unidas entrevistaram mais de 200 pessoas do outro lado da fronteira com Bangladesh.
Bebê assassinado
Quase metade dos civis de Mianmar entrevistados confirmaram que pelo menos um de seus familiares foi assassinado ou está desaparecido. Entre 101 mulheres entrevistadas, mais da metade foi vítima de estupro e de outras formas de violência sexual.
O relatório divulgado nesta sexta-feira traz exemplos fortes de assassinatos de crianças. Uma mãe contou aos especialistas da ONU que sua filha de cinco anos estava tentando protegê-la de um estupro, quando um homem pegou uma faca e cortou a garganta da criança, que não sobreviveu.
Outra vítima explicou que seu bebê de oito meses foi assassinado enquanto ela era estuprada por uma gangue, formada por cinco oficiais de segurança. O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos declarou que “a crueldade a qual essas crianças foram submetidas é intolerável”.
Crime contra a humanidade
Zeid Al Hussein condena as ações das forças de segurança, lembrando que eles deveriam proteger os civis. Segundo o alto comissário, o relatório sugere que o recente nível de violência contra os Rohingya em Mianmar é “sem precedentes”. As ações podem inclusive ser consideradas “crimes contra a humanidade”.
Zeid Al Hussein pede que a comunidade internacional reaja e faça um apelo conjunto aos líderes de Mianmar, para acabar com as operações militares. O Escritório de Direitos Humanos calcula que 66 mil Rohingyas fugiram para Bangladesh desde 9 de outubro.
Na época, os militares começaram uma “operação de limpeza” no norte de Mianmar, incendiando casas, escolas, mercados e mesquitas frequentadas pela minoria muçulmana. O relatório sugere que as operações da força de segurança continuaram até janeiro, mas em menor intensidade.
Notícias Relacionadas:
Unicef faz alerta sobre segurança de crianças em Mianmar
"Vamos trabalhar juntos pela paz", diz Ban em visita a Mianmar
Relatório revela centenas de mortos e vítimas de estupro no Sudão do Sul