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FAO teme recuo no combate à fome com baixa de preços de matérias-primas

Foto: FAO/Benjamin Rasmussen

FAO teme recuo no combate à fome com baixa de preços de matérias-primas

Diretor-geral da agência falou de custos de mercadorias agrícolas e ações para acabar com a fome e a pobreza extrema; proposta avançada em Roma inclui eliminar subsídios de exportação que afetam preços em mercados globais.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Ministros da Agricultura e Comércio, representantes de governos e especialistas reuniram-se esta segunda-feira em Roma num encontro de alto nível sobre os preços dos produtos básicos agrícolas.

O diretor geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, alertou para o impacto da queda de preços porque “pode frustrar os esforços internacionais para erradicar a fome e a pobreza extrema”.

Pequenos Produtores

José Graziano da Silva disse que isso pode ocorrer “se não houver medidas para garantir rendimentos dignos e meios de subsistência para os pequenos produtores”.

O receio é que os custos dos alimentos estejam a retornar à tendência de queda a longo prazo, em termos reais, com o aumento da oferta que ultrapassa a procura.

O fenómeno segue-se ao aumento de preços observado entre de 2008 e 2012, e a um longo período marcado pela fragilidade nos mercados alimentares.

Bons Incentivos

Graziano da Silva disse que os políticos são confrontados com o desafio de manter os alimentos nutritivos a preços acessíveis para os pobres, “garantindo, ao mesmo tempo, bons incentivos para os produtores incluindo familiares".

Ele acrescentou que os preços baixos de alimentos reduzem os rendimentos dos agricultores, incluindo os familiares e especialmente pobres que produzem alimentos básicos nos países em desenvolvimento.

O corte no fluxo de dinheiro em comunidades rurais também “reduz os incentivos para novos investimentos na produção, nas infraestruturas e nos serviços”.

Oportunidade

Para Graziano, é preciso considerar a atual queda nos preços das commodities agrícolas no contexto dos esforços internacionais para atingir a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável e os seus objetivos.

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, OMC, disse que “sob as circunstâncias corretas” o comércio dá a oportunidade de acesso aos mercados globais e ajuda a criar incentivos para produtores investirem e inovarem.

Em vídeo apresentado no evento, Roberto Azevêdo citou a "decisão histórica" de Nairobi pelos membros da OMC para eliminar os subsídios às exportações agrícolas. A medida foi adotada em dezembro de 2015.

Produção local

O chefe da OMC defende que a medida irá “ajudar a nivelar o terreno em mercados de agricultura em benefício dos agricultores e exportadores em países em desenvolvimento e nos menos desenvolvidos”.

Entretanto, Graziano disse que a crescente abertura no comércio também pode trazer riscos e que “se não for bem gerida, esta pode minar a produção local e consequentemente os meios de subsistência dos pobres em áreas rurais”.

Graziano sugere que se eliminem subsídios de exportação que afetam preços em mercados globais “para melhorar o comércio e beneficiar pequenos agricultores de países em desenvolvimento e criar prosperidade em áreas rurais”.

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