ONU diz que Isil está cometendo genocídio contra minoria yazidi
Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria apresentou relatório nesta quinta-feira, em Genebra; grupo é presidido pelo professor brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.
Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.
O auto-proclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante, o grupo terrorista Isil, está cometendo crime de genocídio contra a minoria yazidi no Oriente Médio. A declaração consta de um relatório, divulgado nesta quinta-feira em Genebra, na Suíça.
O documento, “Eles vieram para destruir: crimes do Isil contra os yazidis”, foi compilado pela Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria. O presidente da Comissão, o professor brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, disse que os atos do Isil podem ser classificados de crimes de guerra e contra a humanidade.
Atrocidades
Ao apresentar o relatório, Pinheiro contou que o genocídio foi praticado e continua ocorrendo. O grupo terrorista islâmico sujeitou cada mulher, criança e homem yazidi, capturados pelo Isil, às atrocidades mais terríveis.
A Comissão de Inquérito se baseou em testemunhos de sobreviventes, líderes religiosos, traficantes de seres humanos, médicos, ativistas e outras partes. Há relatos que milhares de mulheres e meninas ainda estejam em cativeiro sendo abusadas sexualmente e “vendidas como escravas.”
O Isil transferiu à força os yazidis capturados para a Síria após atacar a região de Sinjar, no noroeste do Iraque, em 3 de agosto de 2014. A maioria da população de Sinjar era de origem yazidi.
Escravidão sexual
Para os especialistas da ONU, o plano do Isil é destruir a comunidade yazidi de várias formas, um crime previsto na Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, de 1948. O plano é eliminar o povo yazidi através de sequestros, mortes, escravidão sexual, violência e tratamento desumano. O grupo terrorista também submete suas vítimas a traumas psicólogicos e físicos como parte da estratégia de destruição.
As vítimas contaram que o Isil está forçando a conversão dos yazidi ao islamismo e impôs medidas para prevenir o nascimento de mais crianças da minoria étnica. Eles são proibidos de praticar a própria religião. Quem se negou a converter ao islamismo foi assassinado.
Meninos
Uma outra técnica da violência foi a separação à força de suas famílias de meninos yazidi que atingiram a puberdade. O objetivo é apagar a identidade deles. Muitos são treinados para as fileiras do Isil.
Um dos meninos entrevistados disse que recebeu ordem para matar o próprio pai, caso o encontrasse, pelo fato de ser um integrante da minoria yazidi.
Milhares de mulheres e meninas, de até 9 anos de idade, foram “vendidas como escravas sexuais” em cidades como Raqa, Alepo, Homs e outras. Algumas também servem de moeda de barganha entre os próprios combatentes do Isil.

Uma das mulheres afirmou “ter sido vendida até 15 vezes”, e declarou não se lembrar mais de quem a “comprou.” Há relatos ainda de estupros brutais e diários, e quem tentou escapar, foi punido com estupros coletivos.
Uma outra integrante da Comissão de Inquérito da ONU, Carla del Ponte, afirmou que o grupo terrorista islâmico não faz segredo do propósito de destruir o povo yazidi da província de Sinjar, o que caracteriza o genocídio.
O relatório indica que a religião do povo yazidi é considerada heresia pelo movimento islâmico Isil. E por serem tratados como “infiéis” ou uma “minoria pagã” cuja existência é questionada pelos fiéis muçulmanos. E como já foi declarado publicamente pelo movimento terrorista, esta seria a causa do plano de eliminar os yazidis. Esta também é uma justificativa do Isil para tomar como escravas as mulheres da minoria étnica.
Obrigação dos Estados
O presidente da Comissão de Inquérito, Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou que não deve haver impunidade para os crimes deste tipo. Segundo ele, os países têm obrigações sob a Convenção contra o Genocídio.
O grupo voltou a pedir ao Conselho de Segurança que leve a situação da Síria ao Tribunal Penal Internacional. Com isso, poderia ser estabelecido um tribunal ad-hoc para processar as violações da lei internacional que estão sendo cometidas no conflito, que começou em março de 2011.
Pinheiro lembrou que sem uma alternativa de justiça internacional, é bem provável que os primeiros processos contra os crimes do Isil sejam levados à justiça local.
A Comissão de Inquérito quer que a comunidade internacional reconheça o crimes de genocídio e que faça mais para proteger a minoria yazidi no Oriente Médio, além de fornecer assistência psicossocial e financeira às vítimas.