Crianças refugiadas têm mais chances de ficarem fora das escolas
Relatório do Acnur e da Unesco mostra que apenas metade dos menores refugiados está matriculada no ensino primário; índice cai para 25% entre os adolescentes refugiados no ensino secundário.
Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.
A ONU alertou que as crianças refugiadas têm cinco vezes mais chances de ficarem fora das escolas do que as que não estão nesta situação.
A advertência consta do relatório “No More Excuses”, ou “Parem com as Desculpas” numa tradução livre, lançado esta sexta-feira pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Acnur, e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Recomendações
Para solucionar o problema, o documento faz quatro recomendações. A primeira é que os países concedam direitos à educação nas leis e políticas nacionais para as pessoas forçadas a fugir de suas casas.
Os governos também devem incluir crianças e jovens deslocados nos sistemas educacionais, implementar opções no setor de educação para atender às diversas necessidades e garantir a disponibilidade de professores treinados e motivados.
Segundo o documento, lançado dias antes do início da Conferência Humanitária Mundial, apenas 50% das crianças refugiadas estão matriculadas no ensino primário. No ensino secundário, esse índice cai para somente 25%.
O Acnur e a Unesco pedem aos países e aos parceiros de desenvolvimento e humanitário que assegurem urgentemente a inclusão das crianças deslocadas nos planos de educação nacionais.
Diferenças
Os dados mostram diferenças entre os países. No ensino primário, as matrículas chegam a 80% nos acampamentos de refugiados no Egito, Irã e Iêmen, mas atingem apenas 40% no Paquistão e um pouco mais na Etiópia.
O acesso ao ensino secundário é muito mais limitado. No Quênia, no Paquistão e em Bangladesh, menos de 5% dos adolescentes entre 12 e 17 anos estão matriculados. Outro fator preocupante é o acesso pré-escolar, que chegou a apenas 7% na Turquia no ano passado.
O relatório diz ainda que no caso das crianças refugiadas sírias, 53% delas frequentam escolas em acampamentos na Jordânia e somente 30% nos acampamentos na Turquia.
Boko Haram
Na Nigéria, a situação é pior. O Acnur e a Unesco afirmam que as crianças deslocadas por causa da violência do grupo Boko Haram não tiveram acesso a qualquer tipo de educação em 19 de 42 acampamentos para refugiados no ano passado.
O relatório mostrou que as meninas são as que mais sofrem com o problema. No Quênia, elas representam apenas 38% dos estudantes em escolas primárias. No Paquistão, o índice de abandono de meninas refugiadas chega a 90%.
As agências da ONU disseram que as meninas e mulheres representam 70% da população mundial de deslocados internos e são as mais afetadas na questão da educação.