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OIT: sem trabalho decente será impossível erradicar a pobreza até 2030 BR

Banco Mundial/John Hogg
OIT quer seguimento de recomendações para o emprego de pessoas que vivem com HIV.

OIT: sem trabalho decente será impossível erradicar a pobreza até 2030

Relatório da agência da ONU vê novos sinais de enfraquecimento da economia global e diz que Brasil terá mais 700 mil desempregados até 2017; resultado consta do Panorama Mundial Social e de Emprego.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.

O Panorama Mundial Social e de Empregos da Organização Internacional do Trabalho, OIT, alerta que se não houver progresso na criação de trabalho de qualidade, não será possível erradicar a pobreza em todas as suas formas. A meta representa o objetivo 1 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

A OIT afirmou ainda que a economia global está mostrando novos sinais de enfraquecimento. O documento, lançado esta quarta-feira pela agência da ONU, mostra que o resultado é mais de meio ponto percentual menor do que do que o previsto anteriormente. E segundo o relatório, o Brasil teria entrado em recessão.

Desafios

Em entrevista à Rádio ONU, o diretor do escritório da OIT em Nova York, Vinícius Pinheiro, falou sobre a importância do trabalho decente.

“A proteção social é importante, é um mecanismo importante, as transferências são importantes, mas não conseguiríamos acabar com a pobreza sem investir no trabalho decente, sem investir na renda remunerada, sem investir na renda proveniente do salário. Então, a melhor forma e a forma mais sustentável de sair da pobreza é por intermédio do trabalho decente.”

Pinheiro falou também sobre outros dados do relatório.

“O relatório mostra que hoje no mundo há cerca de 2 bilhões de pessoas que vive com menos de US$3,10 por dia, um patamar considerado abaixo da linha de pobreza. Houve avanços nos últimos anos, isso é inegável, principalmente em relação à extrema pobreza que caiu de 46.9% em 1990 para para 15% em 2012, mas os patamares continuam muito altos. Essa queda se deu principalmente nos países emergentes, em desenvolvimento. Nos países mais pobres houve uma certa queda, mas ela foi muito menor e a pobreza subiu no países desenvolvidos, principalmente como resultado da crise.”

Segundo a OIT, se as atuais políticas econômicas não mudarem, o enfraquecimento continuará com grandes desafios para empresas e trabalhadores.

A previsão de crescimento mundial para os próximos dois anos é de apenas 3%, ritmo muito menor do que antes da crise global.

Redução

O relatório da agência da ONU afirma que a desaceleração está sendo causada pelos problemas enfrentados pelos países emergentes e em desenvolvimento.

O documento cita que a China está enfrentando uma redução do crescimento econômico que, combinado com outros fatores, contribuiu para uma queda no preço das commodities.

Segundo a OIT, isso afetou diretamente outras economias emergentes, como é o caso do Brasil e da Rússia. Os dois países entraram num período de recessão.

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Foto: Banco Mundial/Curt Carnemark
Pré-Crise

O enfraquecimento da economia empurrou o desemprego para mais de 197 milhões no ano passado, quase a população total do Brasil. São 27 milhões a mais de desempregados em comparação com o nível pré-crise global.

Os trabalhos de baixa qualidade continuam sendo um problema global. Os chamados empregos vulneráveis atingem 1,5 bilhão de pessoas, quase metade da força de trabalho mundial. No sul da Ásia e na África Subsaariana, esse tipo de emprego atinge 70% da população.

O desemprego global deve aumentar em 3,4 milhões pelos próximos dois anos, sendo que as economias emergentes devem absorver os piores impactos.

Previsão

Só no Brasil, a OIT prevê mais 700 mil desempregados até 2017. Segundo os dados da agência, o número de pessoas sem trabalho deve pular de 7,7 milhões em 2015 para 8,4 milhões em 2017.

Na Argentina, a previsão é de um pequeno aumento, de 1,3 milhão para 1,4 milhão durante o mesmo período, e o México seguirá no caminho inverso, com uma redução de 2,5 milhões para 2,4 milhões.

Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e Japão vão registrar uma queda no desemprego nos próximos dois anos. Já a China, a Índia e o Reino Unido vão ver seus índices aumentarem.

Emprego Informal

O emprego informal preocupa a OIT. A situação varia na América Latina, onde os índices vão de 36,4% no Brasil até mais de 70% em Honduras e na Guatemala.

O relatório afirma que o trabalho informal afeta de forma desproporcional mulheres e jovens e famílias mais pobres.

Uma boa notícia é que o relatório da OIT mostra que a pobreza diminuiu na maioria dos países nas últimas duas décadas. Nas economias emergentes e em desenvolvimento, calcula-se que quase 2 bilhões de pessoas vivam com menos de US$ 3,10 por dia. Isso representa 36% da população dessas regiões.

Extrema Pobreza

Durante este mesmo período, a extrema pobreza, definida pelas pessoas que vivem com menos de US$ 1,90 por dia, caiu num ritmo bem maior, chegando a 15% da população desses países.

O progresso foram significativos em vários países, especialmente na China e na maior parte da América Latina, incluindo o Brasil.

Transferência de Renda

A agência da ONU calcula que serão necessários quase US$ 10 trilhões, o equivalente a quase R$ 40 trilhões, para erradicar a pobreza extrema e moderada até 2030.

O documento diz que isso não será possível somente através da transferência de renda. É preciso melhorar a capacidade das pessoas de se manterem em empregos de qualidade.

Os especialistas citam o programa de “Renda Ética Familiar” como um componente chave do Chile para erradicar a pobreza até 2018.

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Foto: Banco Mundial/Farhana Asnap
Esforço

O programa tem como meta expandir a cobertura e os valores das transferências de valores mas, ao mesmo tempo, incorpora novas formas de apoio ao emprego.

O importante nesse caso é dar às famílias condições de saírem da pobreza e se manterem fora dela pelo seu próprio esforço e meios de subsistência.

O documento diz ainda que os relativos baixos índices de pobreza em alguns países desenvolvidos, como Japão e algumas nações no norte da Europa, receberam o apoio da implementação de políticas sociais e de empregos.